PAULO GAMA
A base de sustentação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia
Legislativa de São Paulo conseguiu blindar o Palácio dos Bandeirantes
contra investigações sobre o cartel que atuou em licitações do Metrô e
da CPTM durante sua administração e em outros governos tucanos.
Sem número suficiente de deputados para instalar uma CPI, a oposição
tentou convocar autoridades, empresários e consultores envolvidos com o
cartel a prestar depoimentos em duas comissões.
Desde agosto, foram apresentados 38 requerimentos para que fossem
chamadas 26 pessoas. Dessas, só três foram ouvidas pelos deputados.
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As comissões em que os pedidos foram feitos –de Transportes e
Infraestrutura, ambas com maioria governista– adiaram a análise de
vários pedidos indefinidamente, rejeitaram outros e ainda transformaram
convocações em convites, o que desobriga o convidado de comparecer.
"Eles estão obstruindo justamente para dificultar o processo
investigativo", disse o líder dos petistas na Assembleia, Luiz Cláudio
Marcolino.
Os deputados governistas dizem que não houve blindagem e que as três
pessoas ouvidas eram as mais relevantes: o secretário dos Transportes
Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e os atuais presidentes do Metrô,
Luiz Antonio Pacheco, e da CPTM, Mário Manuel Bandeira.
"As pessoas mais importantes foram chamadas, e todos os deputados
puderam tirar suas dúvidas. Foi tão transparente que nenhum questionou
qualquer resposta dada por eles", disse João Caramez (PSDB), presidente
da Comissão de Transportes.
O requerimento que levou Fernandes à Assembleia foi uma concessão da
base de Alckmin para enfraquecer o discurso do PT, que usava o argumento
de que as comissões não investigavam o caso para tentar criar uma CPI.
Para adiar a análise dos requerimentos, os aliados do governador se
valem de uma norma do regimento da Assembleia que permite que cada
deputado peça vistas do pedido uma vez, adiando a votação por uma
semana.
A oposição usa a mesma tática para adiar votações e evitar que pedidos
sejam derrubados nos dias em que há maioria governista presente na
reunião da comissão.
Entre as pessoas que deixaram de depor está Pedro Benvenuto, ex-assessor
da Secretaria de Transportes Metropolitanos acusado de repassar
informações do Metrô e da CPTM a um consultor.
Sua convocação foi transformada em convite a pedido de um deputado do PPS e aprovada, mas ele não compareceu no dia marcado.
Os presidentes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica),
Vinicius Carvalho, e da Siemens, Paulo Stark, e o vereador Andrea
Matarazzo (PSDB) também ignoraram convites das comissões e não
compareceram.
Estão pendentes na pauta da Comissão de Transportes pedidos para ouvir
os executivos da Siemens que denunciaram o cartel ao Cade, entre eles
Everton Rheinheimer, que disse à Polícia Federal que políticos do PSDB
receberam propina do esquema.
A comissão derrubou ainda requerimentos para ouvir João Roberto
Zaniboni, ex-diretor da CPTM que recebeu US$ 836 mil numa conta na
Suíça, e José Fagali Neto, consultor que recebeu informações de Pedro
Benvenuto.
Para os governistas, os pedidos feitos pela oposição são "eleitoreiros" e
"não passam de politicagem". "Se deixar por conta deles, todo dia tem
dois ou três servidores pra ser ouvidos", disse Dilador Borges (PSDB),
da Comissão de Infraestrutura. "Não nos podemos dar o luxo de ficar
ouvindo as pessoas por ouvir."
A oposição também tentou evitar constrangimentos. Quando o tucano
Caramez pediu que o presidente do Cade fosse chamado para explicar suas
ligações com o PT, foi a vez de o deputado petista Gerson Bittencourt
pedir o adiamento do requerimento.
Fonte: Folha
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