Como ainda não está totalmente desenvolvido, o
caça sueco-brasileiro será projetado em conjunto por técnicos e empresas das
duas nações, como as brasileiras Akaer — que já participa do projeto — e
Embraer e a própria Saab. Está prevista a criação inicial de aproximadamente 2
mil empregos em São Bernardo do Campo, São Paulo, onde seria instalada a
unidade de montagem. O pacote financeiro — cada avião sairá por aproximadamente
125 milhões de dólares — também foi o mais atraente. O Brasil só começaria a
pagar os aviões depois de recebida a última das 36 aeronaves, no começo da
próxima década.
Para o Brasil, o Gripen NG representa um novo
patamar, do ponto de vista da indústria aeronáutica militar, bem acima do
turboélice de ataque leve e treinamento avançado Super-Tucano, da Embraer. Mas
ele — como bem lembrou o ministro Celso Amorim, ao dizer que o país continuará
negociando um caça de quinta geração — não solucionará todos os problemas do
país nessa área.
Como o Brasil será dono do projeto, com o
tempo, ele poderá ser vendido para outros países da Unasur e até mesmo do
Brics, como é o caso dos sul-africanos, que já possuem Gripen mais antigos em
sua Força Aérea. Com eles estamos desenvolvendo conjuntamente mísseis A-Darter,
que podem armar esse avião.
O importante é que o Gripen NG possa render,
estratégica e economicamente, o máximo de retorno para o investimento previsto.
Não é preciso dizer, da Engesa ao AMX, o
quanto a descontinuação na fabricação de material bélico foi e pode ser danosa
para o Brasil, tanto no desmonte da estrutura estabelecida para sua fabricação
quanto na perda de conhecimento e na desmobilização do pessoal técnico
envolvido.
Verificando o que está sendo feito no país,
neste momento, não é racional gastarmos centenas de milhões de reais para
montar um estaleiro para fazer quatro submarinos. O correto seria dar início, a
partir daí, à fabricação de pelo menos uma nova belonave por ano, para manter
ativos e operantes todos os elos da cadeia produtiva. O mesmo vale para
blindados, helicópteros, mísseis, artilharia, avançando, a cada etapa, na
nacionalização de componentes, até adquirir total autonomia do exterior.
Precisamos aprovar encomendas do governo que
permitam garantir demanda suficiente para manter em funcionamento todas as
linhas de produção, assegurando que elas possam eventualmente ser aceleradas,
em caso de conflito.
É por essa razão, considerando-se preço,
consumo de combustível e garantia de transferência de tecnologia, que os Gripen
não deveriam ficar limitados, apenas, ao reduzido número de 36 aeronaves. Sua
fabricação deveria durar, pelo menos, dez anos, a um ritmo de 12 aviões por
ano, até completar — asseguradas as modernizações possíveis e o natural ganho
de escala — um número mínimo de 120 caças, ainda assim insuficiente para
garantir a vigilância de nossas fronteiras e uma condição militar à altura de
nossa situação geopolítica.
O grande vetor para a projeção estratégica do
Brasil fora do contexto geográfico sul-americano, considerando-se a
concorrência e a competição entre os EUA, a Europa e os Brics, nos próximos
anos, não será o Gripen mas o caça-bombardeio de quinta geração T-50 PAK-FA, que
se encontra atualmente em desenvolvimento por russos e indianos, e para o qual
o Brasil já foi convidado a participar oficialmente.
Poderíamos, assim, estabelecer uma teia de
atuação aérea progressiva, complexa e abrangente, cobrindo nossas necessidades
de defesa e de projeção de nosso poder militar, começando, em um anel mais
externo, pelo uso de satélites, drones, Vants e Super-Tucanos para vigilância
de nossas fronteiras. A seguir, viria uma rede de bases e esquadrilhas de
Gripen NG BR, dispostas, estrategicamente, para a proteção de nossas maiores
cidades, litoral e Amazônia Azul, e, em caso de grave ameaça, um número
inicialmente menor de aviões mais avançados e ofensivos, como o Sukhoi Su-35,
e, futuramente, o T-50, potencialmente adaptados aos sistemas de
dirigibilidade, controle e manutenção da FAB.
A mera escolha do Gripen, fabricado a partir
de peças ocidentais, não pode ser vista como um
fator limitante para a cooperação do Brasil com outro tipo de nações,
que apenas contribuiria para consolidar nossa dependência, no campo da defesa,
de países da Europa e dos próprios Estados Unidos.
O Ocidente não
tem nenhum compromisso estratégico conosco e, muito menos, a médio e longo
prazo. Nunca se poderá contar com nenhum país ocidental, em caso de eventual
problema com um deles. Vide o caso da Argentina, abandonada totalmente por seus fornecedores de
armamento, na Guerra das Malvinas.
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