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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Tragédia no Rio -- A injustiça contra Marcelo Freixo



Noticiar, simplesmente, que um dos suspeitos de atingir o cinegrafista no Rio tem “ligações” com o deputado é exemplo de mau jornalismo

por Pedro Estevam Serrano na CartaCapital

Vejo nos principais veículos de noticia a informação do falecimento trágico do cinegrafista da TV Bandeirantes em virtude da explosão do rojão promovida por manifestantes no Rio de Janeiro.
Segundo os portais, a policia prendeu um suspeito que já identificou outro suposto agente da conduta, aparentemente fechando o quadro dos agentes do delito.
Por óbvio a conduta de tais suspeitos, se verdadeiras as notícias, não se deve confundir com o legítimo exercício do direito à livre expressão e manifestação de milhares de pessoas que protestavam pacifica e legitimamente contra o aumento tarifário do transporte coletivo, sempre motivo de justa insatisfação.
Não se trata também de um “abuso natural” inerente a grandes concentrações. Trata-se de um homicídio, crime grave e violento que deve ser punido com rigor, pois não se trata de ato contra a propriedade, de ofensividade menor. Foi um ato contra a vida cujas circunstâncias indicadas no noticiário mostram não um resultado imprevisto e acidental, mas uma intenção de ofender a integridade física do cinegrafista, que naquele momento apenas exercia sua profissão.
Ato cruel que apenas tem por resultado, além da trágica morte de um pai de família que nada tem a ver com as autoridades contra as quais se protestavam, colocar a população em geral contra os movimentos reivindicatórios, que por sua vez em momento algum estimularam este tipo de prática criminosa.
O que é relevante é que o crime de um não pode macular o legítimo exercício do direito a manifestação de muitos.
Neste sentido, ao que parece em primeira impressão, andou muito bem o trabalho da Policia Judiciária carioca no caso: rapidamente identificou os agentes do crime e caminha para esclarecer o delito com uso de seu aparato de inteligência, e não da violência.
A mesma boa conduta, contudo, não teve nossa mídia ao noticiar de forma espalhafatosa o que seria uma suposta “ligação” de um dos supostos agentes do delito com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), homem público de grande valor na luta pelos direitos humanos em nosso país.
Pelo noticiado, uma pessoa declarou a um estagiário do advogado de um dos suspeitos que o outro suspeito seria “ligado” ao deputado.
Em anos de militância na advocacia, creio que nunca encontrei palavras mais dadas a maledicência injusta, apressada e futriqueira do que as expressões “ligado” e “envolvido”.
A vaguidade semântica de tais conceitos serve perfeitamente a qualquer intento difamatório de boas pessoas.
O que significa um dos suspeitos ser uma pessoa “ligada” a Marcelo Freixo em relação ao delito em questão? Certamente nada.
Pode ser um eleitor de Marcelo Freixo, um amigo seu, um parente, um assessor ou simplesmente ser ninguém, não ter relação alguma com ele.
Nenhuma dessas hipóteses depõe contra Marcelo Freixo. Nada se pode dizer contra ele. Só se poderia querer envolvê-lo no crime e na tragédia se algum indício houvesse de que ele tenha comandado a conduta, o que obviamente não ocorreu.
Entretanto, o tom das notícias e comentários da internet é de “suspeita” de seu envolvimento no delito, sem evidência ou indício algum.
Uma imensa injustiça, própria de um mau jornalismo “ligado” a péssimas intenções políticas.

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