Jobim e Gilmar: de duas versões, parte da mídia só ouviu uma |
O Globo, que sempre puxou o saco do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, escondeu de seus leitores a informação de este negou enfaticamente a denúncia que o ministro do STF Gilmar Mendes fez a Veja, de que o ex-presidente Lula teria lhe pedido para adiar o julgamento do mensalão.
O encontro entre Lula e Gilmar ocorreu no escritório de Jobim em Brasília. E o mais inacreditável é que a grande mídia, com exceção do Estadão e da Zero Hora, comprou a versão da Veja de tal maneira que já tratam a acusação de Gilmar como fato provado e comprovado. A esse trabalho de propaganda chamam de jornalismo. Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, ficaria orgulhoso.
Abaixo, a entrevista do ex-ministro ao Zero Hora.
“Não houve conversa nenhuma”,
Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa
Por Jorge Furtado, do Zero Hora
Anfitrião do encontro entre o
ex-presidente Lula e o ministro Gilar Mendes, o ex-ministro da Defesa Nelson
Jobim negou a Zero Hora que em algum momento o petista tenha pedido o adiamento
do julgamento do mensalão. Segundo Jobim, a conversa entre eles durou cerca de
uma hora, na manhã do dia 26 de abril, em seu escritório em Brasília. O
ex-ministro foi enfático ao afirmar que o ex-presidente jamais fez qualquer
proposta a Mendes envolvendo o mensalão e disse que negou à revista Veja que
esse tenha sido o teor da conversa. Jobim falou com ZH ontem à tarde, por
telefone, enquanto se dirigia ao aeroporto, no Rio, de onde regressaria a
Brasília.
ZH – Lula pediu
ao ministro Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?
Nelson Jobim –
Não. Não houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava junto, foi no meu
escritório, e não houve nenhum diálogo nesse sentido.
ZH – Sobre o que
foi a conversa?
Jobim – Foi uma
conversa institucional. Lula queria me visitar porque eu havia saído do governo
e ele queria conversar comigo. Ele também tem muita consideração com o Gilmar,
pelo desempenho dele no Supremo. Foi uma conversa institucional, não teve nada
nesses termos que a Veja está se referindo.
ZH – Por quanto
tempo vocês conversaram?
Jobim – Em torno
de uma hora. Ele (Lula) foi ao meu escritório, que fica perto do aeroporto.
ZH – Em algum
momento, Lula e Mendes ficaram a sós?
Jobim – Não,
não, não. Foi na minha sala, no meu escritório. Gilmar chegou antes, depois
chegou Lula. Aí, saiu Lula e Gilmar continuou. Ficamos discutindo sobre uma
pesquisa que está sendo feita pelo Instituto de Direito Público, do Gilmar. Foi
isso.
ZH – Depois que
Lula saiu, o ministro fez algum comentário com o senhor sobre o teor da
conversa?
Jobim – Não. Não
disse nada. Só conversamos sobre a pesquisa, para marcar as datas de uma
pesquisa sobre a Constituinte.
ZH – Lula pediu
para o senhor marcar um encontro com Mendes?
Jobim – Sim. Ele
queria me visitar há muito tempo. E aí pediu que eu chamasse o Gilmar, porque
gostava muito dele e porque o ministro sempre o havia tratado muito bem. Queria
agradecer a gentileza do Gilmar. Aí, virou essa celeuma toda.
ZH – Há quanto
tempo o encontro estava marcado?
Jobim – Foi
Clara Ant, secretária do Lula, quem marcou. Lula tinha me dito que queria me
visitar há um tempo atrás. Um dia me liga a secretária, dizendo que ele iria a
Brasília numa quarta-feira (25 de abril) e que, na quinta, queria me visitar e
ao ministro Gilmar. Ele apareceu lá por volta das 9h30min, 10h. Foi isso.
ZH – Se não
houve esse pedido de Lula ao ministro, como se criou toda essa história?
Jobim – Isso
você tem de perguntar a ele (Gilmar), e não a mim.
ZH – O senhor
acha que Mendes pode estar mentindo?
Jobim – Não. Não
tenho nenhum juízo sobre o assunto. Estou fora disso. Estou te dizendo o que eu
assisti.
ZH – Veja disse
que o senhor não negou o teor da suposta conversa. Por que o senhor não negou
antes?
Jobim – Como não
neguei? Me ligaram e eu disse que não. Eu disse para a Veja que não houve
conversa nenhuma.
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