Protestos na avenida Paulista pediram impeachment de Dilma Rouseff
por Marcos Coimbra
Em pesquisa recente, o eleitorado "potencial" do PT somou 48%,
acima dos 39% que não votariam no partido
Nas pesquisas recentes, alguns resultados são relevantes e outros não. Aqueles referentes à conjuntura econômica e suas repercussões na imagem do governo fazem parte do último caso. Enquanto não se passar o tempo necessário para as medidas de ajuste produzirem efeitos, repetir a pergunta de avaliação do governo nada acrescenta.
Entre
os aspectos significativos estão as percepções e sentimentos a respeito
dos partidos. Pelo fato de tanto as eleições de 2016 nas principais
capitais quanto a presidencial de 2018 ainda não terem nomes definidos,
conhecer o pensamento da população a respeito dos partidos é uma maneira
de estimar o que nos reserva o futuro.
A mais recente pesquisa
nacional do Instituto Vox Populi, realizada em maio, mostrou que o
petismo e o antipetismo permanecem do mesmo tamanho de 20 anos atrás.
Revelou também que, do fim da década de 1980 para cá, nenhum partido
cresceu individualmente na simpatia popular. Continuamos com um quadro
de identificações partidárias no qual existe o PT e, a bem da verdade,
mais nada (o PMDB ficou com 5% e o PSDB com 4% das menções).
Do total, 12% disseram “detestar o PT”.
Somado aos 19% que afirmaram “não gostar do PT, mas sem detestá-lo”, o
grupo perfaz um terço dos entrevistados. A mesma proporção daqueles que
responderam se “sentir petistas” ou “gostar do PT sem se sentir
petistas”. O que deixa o terço restante em posição neutra, “sem gostar
ou desgostar” do partido.
A pesquisa também pediu aos entrevistados
para definirem qual a possibilidade de votarem no PT em eleições
futuras. Da amostra, 25% responderam que “votariam em um candidato do
PT” na próxima eleição, 16% que “estavam decepcionados com o partido,
mas poderiam votar em um candidato petista” e 7% que “não eram eleitores
do PT, mas poderiam votar em um candidato do partido”. Ou seja, 48% dos
entrevistados admitiram a possibilidade de votar na legenda, muitos com
boa chance.
Do outro lado,
16% afirmaram que “nunca votaram e nunca votariam em um petista” e 11%
que “não gostavam do PT e era muito difícil que votassem no partido no
futuro”. Outros 12% responderam que, “embora já tivessem tido simpatia,
estavam decepcionados e não votariam na legenda”. Somados, representam
39%, abaixo do “eleitorado potencial” do PT.
A pesquisa permite entender o tamanho
total do antipetismo e a pequena expressão de seu braço radicalizado,
aqueles que odeiam o PT. São dois motivos principais.
O primeiro é, por assim dizer, relativo. A
maioria da sociedade brasileira não é antipetista e, muito menos,
radicalmente antipetista, porque compara favoravelmente o desempenho
administrativo do partido ao da atual oposição e porque não o compara
desfavoravelmente no que é sua maior vulnerabilidade, o envolvimento de
alguns integrantes com práticas de corrupção.
A pesquisa solicitou dos entrevistados que comparassem os
governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff em 14
dimensões e disessem qual havia sido melhor em cada uma. Lula ficou na
frente em 13 itens. Bateu o tucano de 85% a 8% no quesito “Teve mais
preocupação com os pobres” e 38% a 17% em “Combateu mais a corrupção”.
Dilma liderou em uma (“Fez a melhor política de defesa das mulheres”).
A comparação não desfavorável do PT com a
oposição pode ser percebida nas respostas a respeito de quais partidos
estariam envolvidos nas irregularidades denunciadas na Petrobras. Para
6%, o único implicado seria o PT e para 17% “só o PT e os partidos da
base do governo”. Segundo 70%, os desvios teriam sido, no entanto,
praticados “por todos os partidos, incluindo o PSDB, o PSB e o DEM”.
Não apenas nas comparações o PT se sobressai no lado
positivo e não se destaca no negativo. Para a maioria dos entrevistados,
a vida melhorou nos 12 anos de governos petistas, não somente por seu
esforço, mas por conta das medidas em seu favor tomadas por Lula e
Dilma. Segundo 10%, os governos do PT “tomaram muitas medidas que
trouxeram melhorias para suas vidas” e mais 50% disseram que “tomaram
algumas”. Pouco mais de um terço, ou 38%, afirmou que as administrações
petistas “não tomaram nenhuma medida” em seu favor. Significa dizer que a
quase totalidade de quem se diz “neutro” em termos partidários (parte
do terço que define as eleições majoritárias) está entre aqueles que
creditam ao PT parte das coisas boas acontecidas em suas vidas nos
últimos anos.
É por essas (e outras) razões que as
atuais perguntas de intenção de voto nas eleições presidenciais de 2018
são, em si, pouco relevantes. Só os tolos se alegram (ou se entristecem)
com o resultado. Quando começar de fato, a eleição será travada em
termos bem diferentes dos atuais.