Uma das participantes recebeu cinco propostas de casamento e disse que se sentiu valorizada.
O artigo abaixo, de autoria da jornalista Emma Jane Kirby, foi publicado originalmente na BBC.
Um ano atrás, visitei a sede da emissora pública dinamarquesa DR para
fazer um vídeo sobre o sucesso internacional de duas séries, Borgen e
The Killing.
Os protagonistas nessas duas séries eram mulheres fortes, resolutas, que não tomavam desaforo de ninguém.
Espetáculo homônimo de Thomas Blachman \ "Blachman \" causas indignação ao ser acusado sexista |
Assim, parece um pouco surreal estar de volta à Dinamarca agora para
falar com a mesma emissora sobre seu novo programa, chamado Blachman (na foto á esquerda com um convidado), em
que uma mulher fica nua na frente de homens completamente vestidos e
permanece em silêncio enquanto eles falam sobre seu corpo.
“Não é um reality show”, protesta o inventor e apresentador do programa, Thomas Blachman. “E isso é poesia, não pornografia.”
É desconfortável ver Blachman, camisa desabotoada cuidadosamente,
sentado com um amigo estilista e olhando os pêlos pubianos de uma
mulher.
“Eu não gosto realmente de depilação”, ele diz, antes de comentar com
seu amigo que a mulher tem pés agradáveis. A mulher recebeu 250 euros
(cerca de 600 reais) por sua aparição.
“Oh, vamos lá!”, reage Blachman quando digo que acho o silêncio da mulher profundamente irritante.
“As mulheres falam o tempo todo. Esse programa é para que os homens digam o que pensam sobre os corpos das mulheres.”
Blachman acredita na Dinamarca moderna, onde há leis estritas de
igualdade e oportunidades, os homens se tornaram emasculado por mulheres
poderosas e silenciados sob o manto do politicamente correto.
“Os corpos das mulheres anseiam pelas palavras dos homens”, ele
insiste. “Eu não podia imaginar que fôssemos ter uma reação tão negativa
das feministas agressivas. Claro que eu queria provocar um pouco, mas o
programa não é machista.”
Quando conversei com Nina – uma atraente, falante professora primária
que foi um dos estudos de nus de Blachman – ela me disse que sentiu
valorizada pela aparição no programa.
Mas ela admite que gostaria de ter podido falar, especialmente quando
Blachman e seu convidado estavam discutindo sua cicatriz de cesariana.
Após o programa, Nina não recebeu apenas dezenas de cartas de fãs. Ela recebeu também cinco propostas de casamento.
Mas as feministas – como a comediante Sanne Sondergaard – estão
indignadas. “Na Dinamarca, o sexismo não é assunto”, diz ela. “E então
surgiu esse programa. É lixo sexista.”
“Sinto muito, mas mesmo que ele diga coisas boas, um homem não tem o
direito de falar sobre o meu corpo só porque eu sou uma mulher!”
A emissora DR2 teve mais queixas sobre o programa Blachman do que em
qualquer outra ocasião. Teve também uma audiência enorme, ampliada pela
internet, onde você pode ver outra vez o programa.
Sofia Fromberg |
Sofia Fromberg, editora do programa, insiste que não está perseguindo audiência com seios e traseiros.
“Blachman está longe das maiores audiências da emissora”, diz ela.
“Nosso objetivo é gerar discussão sobre questões importantes na
sociedade. E o programa criou um monte de debate.”
Thomas Blachman tem sido acusado nos meios de comunicação
dinamarqueses de ser pouco mais do que um “homem de meia idade
desprezível em um clube de strip”.
Na maior parte do programa ele parece pouco à vontade e um pouco
estranho. Seu foco tende a ser mansamente posto abaixo dos joelhos, em
vez de colocar os olhos em pontos mais previsíveis como os seios e os
traseiros.
“Belos tornozelos”, diz ele. “Sou o tipo de cara que gosta de
tornozelos.” Antes de fazer uma única observação sobre a mulher nua na
frente dele, um de seus convidados leva uns bons cinco minutos para
explicar que tinha sido casado por 50 anos até que sua esposa morresse
no ano passado.
Em tais ocasiões, a mulher nua em silêncio na frente deles parece quase esquecida e irrelevante.
Mas não há como esconder o fato de que, quanto mais escandaloso o programa, mais ele puxa telespectadores.
Na semana passada, durante uma discussão sobre o aleitamento materno
numa estação na Holanda, o anfitrião disse que gostaria de experimentar o
leite materno.
Uma mulher da audiência ofereceu um pouco de leite, mas ele disse que
preferia tirá-lo de sua fonte e chupou seus seios ao vivo na TV.
Uma enorme onda de reclamações logo tomou as mídias sociais, ainda
que a emissora tenha dito que não houve conotação sexual no ato.
Há alguns anos fiz uma reportagem sobre outro programa holandês controverso chamado Quero seu Bebê!
Nele, uma mulher solteira selecionava o pai de seu bebê entre um
grupo de homens, descartando um a cada semana. Esse programa causou
alvoroço na Holanda e levantou questões no Parlamento – e nunca foi além
do piloto.
No mês passado, um reality show na França foi submetido a uma
saraivada de críticas depois que um competidor morreu num duro desafio
no deserto e o médico do programa – que não foi capaz de salvá-lo – se
matou.
Na Itália, baixas audiências levaram a emissora estatal RAI a se
desfazer de todos os seus reality shows em 2007. A RAI disse que iria
colocar o dinheiro economizado em filmes e programas mais cerebrais.
Agora, a nova diretora da RAI suspendeu showgirls vestidas
sensualmente para projetar uma imagem mais sofisticada das mulheres na
emissora.
Para espectadores que sintam falta de mulheres seminuais, restam os
programas transmitidos nos canais privados de propriedade do
ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.
De volta à Dinamarca, Blachman (foto acima) afirma que nunca criticou o corpo da mulher nua.
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“O programa na verdade é uma homenagem às mulheres,” diz ele.
Infelizmente para ele o seu “tributo” não terá uma segunda temporada.
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