O MViva!, espaço aberto, independente, progressista e democrático, que pretende tornar-se um fórum permanente de ideias e discussões, onde assuntos relacionados a conjuntura política, arte, cultura, meio ambiente, ética e outros, sejam a expressão consciente de todos aqueles simpatizantes, militantes, estudantes e trabalhadores que acreditam e reconhecem-se coadjuvantes na construção de um mundo novo da vanguarda de um socialismo moderno e humanista.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Eleição na República Tcheca tem candidato tatuado dos pés à cabeça





Vladimir Franz, compositor de ópera e pintor, é o terceiro candidato nas pesquisas para a eleição 
presidencial da República Tcheca

Tatuado dos pés à cabeça, cabelo azul e uma variedade de piercings. Além de compositor, pintor, e professor de teatro, o dono dessa imagem é mais do que uma figura curiosa: é um dos candidatos da primeira eleição direta para a Presidência da República Tcheca.
Com um diploma de direito e uma ópera que estreia nesta quinta-feira (10/01) no Teatro Nacional da cidade, Franz já foi chamado de “Avatar” e comparado a “uma criatura exótica da Papua Nova Guiné”. Isso, porém não atrapalha sua campanha: nesta sexta-feira e sábado (11 e 12/01), os tchecos irão às urnas para escolher quem comandará o Castelo de Praga e, segundo pesquisas de opinião, Franz é o favorito de 11,4% das preferências de voto.
Apesar de não ter experiência política e confessar não ter muito conhecido de economia, Franz apareceu na cena política no fim de 2012, ao arrecadar 88 mil assinaturas para sua candidatura, bem mais do que os 50 mil exigidos pela lei. Inclusive, ele somente se aventurou na política após um grupo de admiradores iniciar a campanha “Franz para presidente” e implorar a ele entrar na corrida por meio de seu fator surpresa.
E, de fato, ele encaminhou a campanha de um modo diferente. Animados com sua boa vontade, grandes economistas ofereceram seus serviços de graça e voluntários trabalharam na corrida eleitoral. A partir de suas doações, gastou apenas US$ 25 mil e não criou pôsteres de propaganda.
Sem afiliação política, Franz baseou sua campanha na anti-corrupção, a importância de educação e cultura, e a moral no país. “O sistema político está tão encantado com si mesmo que perdeu a habilidade de autorreflexão” e, ao constatar que “os tchecos estão fartos dessa porcaria”, diz querer “mobilizar a sociedade civil para que as pessoas reflitam e saibam ler nas entrelinhas".
De acordo com pesquisa de opinião da agência PPM, Franz conquista o primeiro lugar entre votantes abaixo dos 30 anos, com um terço da preferência. Jan Herzmann, coordenador da pesquisa, afirma que o candidato “não tem a fome do poder, como os outros. Tudo que ele quer é cultivar a cena política tcheca”.


“Eu quero devolver o Estado para seus cidadãos. Quero ser um embaixador das pessoas na alta política . Quero lutar pelas pessoas”, diz durante campanha.

Em uma simulação de eleições em 441 escolas de ensino médio ao redor do país, realizada há um mês, Franz teria ganhado facilmente, com mais de 40% dos 60 mil votos. De acordo com Karel Strachota, organizadora do evento, “jovens não mais se identificam com os partidos existentes”. Em um país cujas pessoas estão cansadas de políticos que consideram corruptos e incompetentes, “Franz é visto como o candidato não contaminado pela política. Eles simpatizam com a sua não conformidade e o modo como se apresenta”.
As tatuagens realmente não assustam tanto assim. O personagem já é bem conhecido por causa dos anos como professor de teatro na Academia de Performances de Praga. “As tatuagens não fazem a menor diferença, a falta de experiência é um assunto mais delicado”, diz Jakub Fisera, estudante.
Em suas mãos, Franz tem um retrato de Bohuslav Martinu, compositor tcheco, e em seu peito, a imagem de Cristo crucificado. No total, 90% de seu corpo é coberto de tinta, inclusive sua cabeça azul, verde e vermelha. “A tatuagem é um sinal de livre arbítrio e não prejudica a liberdade de ninguém”, diz. “Minhas tatuagens são meu pequeno jardim privado. Elas não são uma desvantagem, mas valor agregado. Eleições não são um concurso de beleza. É uma questão de tolerância”, conclui.
Candidatos e favoritos
A probabilidade, porém, é que Franz não chegue ao segundo turno. A não ser que algum candidato obtenha a maioria absoluta, as apostas são de que os tchecos retornem às urnas nos dias 25 e 26 de janeiro para escolher entre o esquerdista Milos Zeman, premiê tcheco entre 1998 e 2002, e o centrista Jan Fischer, que dirigiu um gabinete provisório entre 2009 e 2010.
As últimas sondagens indicam intenção de voto de 25% e 20%, respectivamente. Ambos candidatos adotam posições mais moderados em relação à União Europeia do que o conservador Vaclav Klaus, atual presidente - que foi contra a mudança aprovada pelo Senado em fevereiro de 2012, que permite que o presidente seja eleito por meio do voto direto – o novo sistema permite também que candidatos independentes como Franz concorressem às eleições. Klaus chamou a medida de um “erro fatal”.
Dos total de nove candidatos, três mulheres também estão na corrida: Jana Bobosikova, presidente do movimento eurocético “Soberania”; Tatana Fischerova, atriz e ex-deputada; e Zuzana Roithova, eurodeputada da democracia cristã. Pelas pesquisas, elas têm poucas chances de serem eleitas.
O próximo presidente da República Tcheca será o terceiro na história do país, formado em 1993 após a cisão da Tchecoslováquia. O primeiro líder do país foi o dissidente e dramaturgo Vaclav Havel, falecido em 2001. Agora, o novo nome substituirá o eurocético – que se autodenomina “eurorealista” - Klaus, que tem o fim do mandato dia 7 de março. Sua reeleição em 2008 foi rodeada de questionamentos em relação à transparência na disputa.
Crise
O atual governo do primeiro-ministro Petr Necas, de uma coalizão de centro-direita, sofreu uma queda na popularidade por causa de medidas de austeridade, como aumento nos impostos e cortes no bem-estar social, na esperança de reduzir o déficit do orçamento.
As medidas, porém, não ajudaram a tirar a economia da recessão, estado em que o país entrou em 2012. Disputas entre as três coalizões na política do país no começo deste ano reduziram o apoio ao governo para 98 dos 200 assentos na Câmara dos Deputados.
O país aderiu à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 1999 e à União Europeia em 2004, mas não pertence à zona do euro. Em 2011, registrou um crescimento de sua economia de 1,7%, após ter crescido 2,7% em 2010.
O presidente tcheco, até então eleito pelo Parlamento, tem o poder de nomear ou destituir o primeiro-ministro e outros membros do governo, ratificar ou vetar leis aprovadas no Parlamento, escolher membros para integrar o conselho de política monetária do Banco Central e nomear juízes e generais do Exército. 
 
 
 
 
Análise de Conjuntura

Nenhum comentário:

Postar um comentário