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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

NA SENZALA DO CORONÉ CAIADO



Cristina Roberto, dona de um buffet em Brasília, diz ter abrigado a médica cubana Ramona Matos Rodriguez em sua casa, num bairro nobre de Brasília, entre a noite de sábado e terça-feira. Cristina afirma que conheceu Ramona e outros cubanos em outubro, quando serviu a alimentação do curso de acolhimento em Brasília, e que manteve contato com alguns deles. Segundo Cristina, recentemente, Ramona telefonou dizendo que queria ir a Brasília num fim de semana porque se sentia sozinha. A empresária ofereceu sua casa para hospedá-la. Ela diz que Ramona chegou no sábado.
 
Cristina diz que só percebeu que a cubana havia deixado o programa na segunda, quando a médica foi à embaixada dos EUA. Ramona teria pedido então abrigo por um mês. A empresária recusou, e a cubana deixou a casa na terça. Segundo Cristina, ela diz ter um marido cubano em Miami e não querer voltar a Cuba. A empresária, que apoia o Mais Médicos, afirma se sentir “usada” e “indignada” com o fato de Ramona dizer que não sabia das condições do programa.

 
 
Por Leandro Fortes

Sem querer desmerecer as razões dessa médica cubana prestes, ao que parece, a pedir asilo político no Brasil, mas essa história tem uma dessas tristes ironias muito típicas da nossa indigência moral e cívica.
A principal e mais escandalosa delas diz respeito à participação do deputado Ronaldo Caiado, do DEM de Goiás, auto intitulado libertador de cubanos escravizados pelo programa Mais Médicos, do governo federal.
É mais uma dessas piadas de mau gosto que a mídia brasileira, dominada pelo cretinismo de direita, deixa passar de má fé, embora saiba exatamente o mal que está fazendo.
 
Caiado é um dos símbolos da moderna escravidão brasileira, fundador e ex-presidente da União Democrática (sic) Ruralista, a UDR. O deputado é um dos 29 parlamentares que, em 2012, votaram contra a Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, a chamada PEC do Trabalho Escravo. Trata-se de uma medida que garante o confisco de propriedades em que for flagrado trabalho escravo e seu encaminhamento para reforma agrária ou uso social.
 
A médica Ramona Matos Rodriguez tem todo direito de deixar o programa e pedir asilo, assim como o Ministério da Saúde tem o direito de descredenciá-la e, da mesma maneira, mandá-la de volta para Havana – claro, se ela não conseguir o status de asilada.
O que nem ela, nem ninguém, vai conseguir é convencer o Brasil de que a dobradinha do DEM, herdeiro político da ditadura militar, com a UDR, um de seus cancros mais conhecidos, é o caminho para essa discussão.
 
Ramona talvez não tenha atinado, mas se ela se considera mesmo uma escrava, acabou de cometer a maior burrice de sua vida: fugiu para os braços de um coronel da Casa Grande. 
 
 Fonte: Blog do Porter

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