A decisão do presidente Joaquim Barbosa de suspender a sessão do STF, na
semana passada, quando faltava apenas um voto, o do ministro Celso de
Mello, para definir os rumos do julgamento do mensalão, tem suas
explicações e alcançou plenamente seus objetivos para colocar em campo o
trator da "opinião pública" contra a aceitação dos embargos
infringentes.
Há quase uma semana não se fala de outro assunto em editoriais, colunas e
blogs dos aliados de Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, seus heróis.
"Opinião pública", no caso, foi o papel assumido por amplos setores da
mídia nacional reunidos no Instituto Millenium para jogar contra a
parede o decano Celso de Mello e obrigá-lo a mudar seu voto a favor dos
infringentes, como vem defendendo desde agosto do ano passado.
Como se imaginasse a manobra, o decano Mello foi até Barbosa, na última
quinta-feira (12), para lhe informar que seu voto já estava pronto e não
levaria mais de cinco minutos para fazer a sua leitura. O presidente do
STF, no entanto, sempre tão apressado nas votações, desta vez foi
irredutível: não poderia prolongar a sessão porque começaria outra em
seguida, no Tribunal Superior Eleitoral, do qual vários ministros
participam. O TSE não poderia esperar mais cinco minutos?
O que aconteceu em seguida não foi apenas a orquestrada pressão de
ministros do STF sobre o decano, manifestada em várias entrevistas, e a
histeria da imprensa que quer ver logo os condenados na cadeia, mas um
verdadeiro massacre contra a posição já manifestada por Celso de Mello,
colocando nos seus ombros o futuro da Justiça no País.
"O Supremo decide amanhã o destino de 12 réus e o seu próprio destino",
escreveu minha amiga Eliane Cantanhêde em sua coluna desta terça-feira
na Folha, resumindo o que já publicaram seus colegas nestes últimos dias
nos grandes jornais nacionais. Ou seja: ou Celso de Mello dá um cavalo
de pau em suas convicções jurídicas e vota contra os infringentes ou
será execrado pelo resto da vida como responsável pela desmoralização do
Judiciário.
Nem se entra mais no mérito da questão jurídica, agora transformada em
mera "tecnicalidade" a serviço da impunidade. Como se tivesse procuração
para falar em nome do povo brasileiro, a imprensa acumula as funções de
promotor e juiz, transformando o Supremo Tribunal Federal em mero
executor das suas decisões editoriais. Como vimos há pouco, depois pode
levar até 50 anos para que se arrependam delas, mas o importante agora é
colocar José Dirceu e "a turma do PT" atrás das grades.
Desesperados diante da iminência de mais uma derrota, os porta-vozes da
"opinião pública" não se importam em mandar às favas quaisquer
escrúpulos. Como numa guerra sem quartel, o importante é vencer o
inimigo, quer dizer, o partido que está há quase 11 anos no poder,
contra a vontade desta mídia, que assumiu, por contra própria, o comando
da oposição.
Nestas horas, a Constituição, as leis emanadas do Congresso Nacional e o
regimento interno do STF, que embasam o voto de Celso de Mello, são
apenas detalhes que podem atrapalhar a heroica cruzada midiática para
atender aos anseios da "opinião pública", as duas palavras mágicas
ressuscitadas para justificar os desatinos da rapaziada que não se
conforma com o resultado previamente conhecido.
A manobra de Joaquim Barbosa, ao que tudo indica, serviu apenas para
alimentar o barulho e adiar a frustração dos que passaram mais de um ano
batalhando todos os dias para ver os réus petistas algemados, já que as
urnas insistem em lhes ser madrastas.
É o que dá politizar a Justiça e judicializar a Política na tentativa de
retomar o poder por outros meios. E confundir "opinião pública" com
opinião publicada nos jornais.
Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
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