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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O QUE A PERIFERIA ESTA MOSTRANDO COM OS ROLÊS EM SÃO PAULO




 
É uma questão social, não policial.
 
Por : Paulo Nogueira

A questão dos rolezinhos não é jurídica e não é policial: é social.
Isto tem que ser entendido antes de tentar resolvê-la pelos meios errados.
 
O passo essencial, nisso, é combater a desigualdade social que dividiu a cidade entre o centro e a periferia e, como notaram muitos, promoveu na prática um apartheid em São Paulo.
 
O quadro em que os rolezinhos surgiram, prosperaram e provocaram medo na classe média é um depoimento notável de quanto as últimas administrações de São Paulo contribuíram, ou pela incompetência ou pela omissão, para a iniquidade.
 
Igualdade social é algo que simplesmente não existiu nem no vocabulário e nem na prática dos políticos que dominaram de um jeito 
ou de outro São Paulo nos anos recentes.
José Serra

 
José Serra é apenas o exemplo mais marcante desse tipo de administrador que fez São Paulo ser o que é. Mas não é o único.
 
Os rolezinhos, e o medo que têm desencadeado, mostram quanto o prefeito Haddad acertou em tentar – sem sucesso, lamentavelmente – aumentar o imposto dos favorecidos e diminuir o da periferia, pelo IPTU.
O fracasso de Haddad (foto acima) em fazer algo que contribuísse para reduzir a desigualdade é revelador de como são poderosas as forças que empurram para a direção contrária – exatamente a que leva ao apartheid.
Fora a mídia, sempre na defesa dos privilegiados, dois nomes se destacaram no desmonte dos planos de Haddad.
Scaff

 
Um foi o presidente da Fiesp, Paulo Scaf, que viu no episódio uma maneira de tentar ganhar votos da classe média em sua aspiração de se eleger governador de São Paulo, em 2014.
Barbosa
O outro foi Joaquim Barbosa, o ubíquo JB, o homem que está – infelizmente, desgraçadamente – em todas. JB negou um recurso da prefeitura para que o novo IPTU vigorasse.
O caso de São Paulo é uma parábola do Brasil.
 
Você tem uma área rica, ou perto disso, e quer preservá-la? Reduza a distância social que a separa da área pobre.
Na Venezuela, o antigo regime começou a cair, no final dos anos 1980, quando os desvalidos dos morros desceram para a área chique de Caracas, no chamado Caracazo.
Eles estavam revoltados com o aumento dos preços do transporte público. (Alguma lembrança das Jornadas de Junho, por acaso?)
Na repressão, muitos pobres morreram – bem como, simbolicamente, um regime submisso aos interesses americanos e tocado por ricos e para os ricos.
Chávez é filho do Caracazo.
 
Os privilegiados brasileiros confiam na docilidade do povo, como se pôde ver na forma como o novo IPTU de São Paulo foi pisoteado.
Mas, mesmo um povo cordial como o brasileiro, não pode ser testado infinitamente em sua paciência ancestral.
O bom senso – não vou nem falar em generosidade – recomenda que se reparta melhor o bolo.
Já. 
 
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