Ao centro, o padre Júlio Lancellotti participa em SP de ato em apoio a moradores de rua presos e pessoas em situação de risco social.
Por Rodrigo Rodrigues, Terra Magazine
"Referência
no trabalho com moradores de rua e pessoas em situação de risco social,
o Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral dos Moradores de Rua da Igreja
Católica, criticou nesta quinta-feira (23) a atuação da Polícia Civil de
São Paulo e do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão
ao Narcotráfico) na Cracolândia.
Em operação surpresa na região, os
policiais civis prenderam vários usuários de drogas e utilizaram balas
de borracha e spray de pimenta contra eles, numa ação que surpreendeu
até agentes da Guarda Civil Metropolitana e o secretário municipal de
Segurança Urbana, Roberto Porto, que estavam no local no momento que os
policiais do Denarc invadiram o espaço com truculência.
Por conta da
ação, o Padre Júlio Lancellotti se diz mais uma vez “decepcionado” com a
atuação da polícia paulista e afirma que a operação surpresa do Denarc
mostra “a falta real de articulação entre a Prefeitura, Estado e o
Ministério da Saúde na tentativa de resgatar os usuários de crack”.
“É
muito estranho que essa operação tenha acontecido justo hoje. De manhã
representantes do Ministério da Saúde, da Prefeitura e do Governo de São
Paulo estavam todos reunidos e falando bem do programa ‘Braços
abertos’.
Com essa operação desastrosa, me parece que algum acordo de
bastidores foi rompido e evidencia que a cooperação era bonita só no
papel”, avaliou Júlio Lancellotti.
O representante da Pastoral dos
Moradores de Rua também avalia que a operação desta quinta-feira na
Cracolândia compromete todos os esforços feitos até agora para humanizar
a questão dos usuários de crack e realmente acolhe-los em programa
sociais.
“Toda a articulação que o prefeito e o governador pregaram
até agora na operação ‘Braços abertos’ foi por água abaixo, tudo
desmoralizado. Pra mim já era estranho ouvir falar dessa ajuda
assistencial, sem comentários sobre o combate ao tráfico. Quando se fala
de tráfico, se fala em corrupção policial também. E isso em nenhum
momento foi tratado. É prova de que o esforço que se pretendia fazer era
cosmético”, argumenta.
A chamada ‘Operação Braços Abertos’ é um
projeto lançado há menos de quinze dias pela Prefeitura de São Paulo que
pretendia resgatar os usuários de crack através de ajuda assistencial
para tirá-los da rua..
Na visão do prefeito Prefeito da cidade, Fernando Haddad ( à esquerda na imagem), o problema tem que ser tratado como complexa questão social: acredita que a reabilitação de boa parte desta massa marginalizada, passa necessariamente pela devolução da dignidade humana, através tratamento multidisciplinar e transversal do usuário, somado à um conjunto de ocupações voluntárias e institucionais, visando oportunidade de trabalho, capacitação, reeducação, além de novas oportunidades de geração de renda. Ao autorizar este tipo de ação meramente repressora e burra, fica patente que, para o governador do Estado Geraldo Alckimim, a questão é simploriamente policial. Alguém se beneficia muito com a existência das legiões de mortos vivos da Cracolãndia, e não é a sociedade, sobre a qual, recai o maior preço à pagar..(Mviva) |
A proposta do prefeito Fernando Haddad era
oferecer moradia, emprego e tratamento de saúde aos usuários de crack da
região da chamada “Nova Luz”, centro do perímetro apelidado de
Cracolândia.
O programa arrumava um emprego para esses usuários em
frentes de trabalho da Prefeitura e vagas de moradia em hotéis da
região, até que esses usuários conseguissem sobreviver sozinhos.
Os
hotéis também oferecem três refeições por dia para os inscritos no
programa, que nos primeiros dias chegaram a 300 pessoas.
A ideia do
projeto era integrar as ações da Prefeitura, do Estado e do Ministério
da Saúde, na tentativa de tirar os usuários de crack da marginalidade.
NA CONTRAMÃO
Segundo
o Padre Júlio Lancellotti, o discurso do governador Geraldo Alckmin em
torno do projeto mascara uma falta de articulação do governo estadual
para lidar com o problema.
“Não existe solução para a Cracolândia sem
envolvimento da polícia, que é origem de grande parte do mal que lá
existe. Agentes de saúde sozinhos não conseguem acabar com o tráfico.
Só um louco não será capaz de ver a gigantesca diferença entre a gestão de Haddad e de Serra-Kassab-Alckmin. |
Por outro lado também não conseguem mudar a mentalidade do policial que
ainda acha o usuário de crack cidadão de terceira classe e gente
marginalizada.
É decepcionante que a Polícia mais uma vez tenha optado
pelo lado da dor e não do amor e da acolhida para lidar com esses
necessitados”, avalia Júlio Lancellotti.".
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