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terça-feira, 2 de abril de 2013

1º DE ABRIL DE 1964: O DIA DA INFÂMIA



 
João Goulart (ao lado da mulher, Maria Thereza):  opção pela não-resistência 
Há 49 anos, no dia da mentira, as mesmas forças econômicas e políticas que hoje fazem feroz oposição ao governo de Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula se articularam com a grande mídia (como hoje...), setores de direita das Forças Armadas e a cúpula da Igreja Católica para desfechar um golpe de Estado contra o presidente João Goulart. 
Esses setores estavam inconformados com as “reformas de base”, prometidas por Jango, e com a ascensão ao primeiro plano da vida política do país dos segmentos historicamente excluídos: operários, camponeses e soldados. Para ganhar a classe média, os conservadores manipularam habilmente o temor do “perigo comunista” e da instalação de uma “república sindical” no país.

General Olympio Mourão, a "vaca fardada" 
Mas, articulado desde 1954 contra Getúlio Vargas, o golpe só saiu porque um general de três estrelas tresloucado, Olympio Mourão Filho – que mais tarde se autodenominaria uma “vaca fardada” – se precipitaria fazendo seus recrutas, sediados em Minas Gerais, marcharem contra o Rio de Janeiro, então a sede do poder central. Dois ou três caças da FAB teriam resolvido o problema, se o presidente Goulart estivesse disposto a resistir, como fizera Leonel Brizola em 1961, quando os comandantes militares tentaram impedir a posse de Jango depois da renúncia de Jânio Quadros. Mas Jango preferiu deixar o poder para evitar uma guerra civil, que provocaria, segundo ele, “derramamento de sangue de brasileiros”. No entanto, é certo que, se houvesse resistência, o golpe seria apenas adiado, já que a ruptura entre Jango e a cúpula militar se tornara irreversível desde que o presidente prestou sua solidariedade aos marinheiros amotinados e aos sargentos reunidos no Automóvel Clube às vésperas da quartelada. De qualquer forma, a resistência tornaria as coisas bem mais difíceis para os golpistas.

A ausência de resistência teve conseqüências trágicas. Em primeiro lugar, levou parte da esquerda que antes orbitava em torno do Partido Comunista Brasileiro (PCB) a optar pela luta armada contra o regime, num momento de ampla desmobilização e desorganização dos trabalhadores e dos camponeses. O resultado foi uma repressão brutal e feroz, particularmente depois do AI-5, que transformou a tortura em instrumento de Estado e provocou centenas de mortos e “desaparecidos” políticos. Em segundo lugar, a ausência de resistência ao golpe permitiu que, quando o regime finalmente se exauriu, tivesse condições de promover a transição controlada – a tal “abertura lenta, segura e gradual” – na qual os militares bloquearam toda possibilidade de investigação dos crimes da ditadura.

Os chefes da ditadura e da repressão: Castello, Costa e Silva e Geisel 
Agora, com a Comissão da Verdade, teremos condições de começar a escrever essa história, apesar do pessimismo de muito na esquerda. Estão vindo à tona as circunstâncias da prisão e morte de Rubens Paiva e Vladimir Herzog, entre outros, bem como as ligações perigosas entre os empresários e os porões da ditadura, e entre os diplomatas americanos e os generais brasileiros. Essa discussão está se tornando pública. É o primeiro passo para incriminar os responsáveis pelos crimes da ditadura, apesar da decisão do STF contra a punição aos repressores. Temos que criar condições para responsabilizar os chefões, e não apenas a parte inferior da cadeia de comando. Brilhante Ustra; Carlinhos Metralha; o capitão Albernaz; Fleury; o brigadeiro Burnier, mas também Médici, Costa e Silva, Geisel, Castello e Figueiredo. Que sejam postumamente expulsos do Exército e desonrados, como aconteceu com Jorge Videla ainda em vida.
    

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