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Desorganização, filas para tudo, ingressos a preços absurdos… A receita do Lollapalooza e a balela do rock “alternativo”.
O festival Lollapalooza, encerrado ontem, levou, segundo a organização, 167 mil pessoas ao Jockey Club de São Paulo.
Em três dias, elas viram bandas como Pearl Jam, Killers,
Black Keys, Queens of the Stone Age, Franz Ferdinand, Planet Hemp,
Flaming Lips, Foals etc.
Essas mesmas pessoas também pagaram um mico sensacional: filas para
comprar entradas, fila para entrar, para ir ao banheiro, para comprar
comida e cerveja.
Sem contar a lama, que vá lá, pode ser debitada em
outra fatura. Tudo por 350 reais por dia. É um dos festivais mais caros
do mundo.
350 para quê? A desorganização e a informalidade imperam. Perry Farrell,
o criador do Lolla, chegou a ser barrado por engano. Os moradores das
casas próximas ao Jockey, no Morumbi, ganham ingressos, à guisa de um
calaboca para evitar reclamações. Gente que pagou meia-entrada, fingindo
que era estudante, não precisou mostrar a carteirinha na bilheteria. ( N.B.: sacanagem com os que pagaram?).
A
GEO, empresa de produção de eventos que se associou a Farrell, pertence à
Globo. Quando a procura pelos ingressos ameaçava arrefecer no ritmo dos
shows de Lady Gaga e Madonna (em que tíquetes foram distribuídos na
faixa), a cobertura da emissora se intensificou.
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Farrell falou sobre esses problemas à revista Rolling Stone. “Para ser
sincero, foi por isso que o Lollapalooza desapareceu por uns três ou
quatro anos.
É preciso encontrar um modo para que as pessoas consigam
comprar as entradas e possamos pagar esses cachês monstruosos. Eu
gostaria de dizer que não são os artistas, são os empresários – mas são
os artistas também.
A 'parada' aqui é levantar grana graúda!: juventude & rock rool é só um detalhe....plin,plin... |
Os artistas poderiam dizer ‘não explorem tanto
assim’. Mas não o fazem, na maior parte do tempo não o fazem.
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Claro que
eles não o fazem porque é assim que eles se sustentam hoje, não é
vendendo discos. A vida deles é baseada, equilibrada, no Lollapalooza,
Glastonbury, Reading… Então, como fazer?”
Farrell, o dono do Lolla: “Os artistas poderiam dizer ‘não explorem tanto assim’”
Divulgou-se que o cachê total dos artistas chegou a 25 milhões de reais.
No ano passado, o Foo Fighters recebeu 700 mil reais. Calcula-se que o
mesmo foi desembolsado para ter o Pearl Jam neste ano. O líder do Pearl
Jam, o engajadíssimo Eddie Vedder, proibiu o Multishow de transmitir o
show.
O primeiro Lollapalooza é de 1991. A ideia de Farrell era comemorar a
despedida de sua banda, Jane’s Addiction. Deu tão certo que o grupo não
se dissolveu e ele acabou tirando da cartola essa empresa bem sucedida.
Se, no início, o festival era voltado à música alternativa ou
independente, hoje quem acredita nisso acredita também no coelho da
Páscoa e em Marco Feliciano
Farrell, que gosta de se definir como ambientalista e chegou a se reunir
com Tony Blair para falar do aquecimento global, culpa o capitalismo.
“É um mundo fodido, meu filho”, disse à Rolling Stone. “O lado ruim é
que dá origem a corrupção e ganância”.
Faz algum tempo que o rock é uma indústria como qualquer outra – só que
em crise. O filme que capturou os últimos lampejos de “pureza” é Quase
Famosos, passado em meados dos anos 70. A certa altura, a mãe do
protagonista, um jovem jornalista musical, diz: “A adolescência é uma
ferramenta de marketing”.
Para alguns, a juventude é uma matéria prima barata que vale ouro... |
O Lollapalooza poderia cobrar o que fosse, desde que entregasse a
mercadoria. Farrell saiu com seus milhões. Se a coisa engatar, volta no
ano que vem. Agora, por 350 reais, como diz um amigo, você deveria ter o
direito não apenas de participar de um festival organizado, mas de
ganhar uma massagem de Perry Farrell.
Pensando bem, melhor não. Fonte: DCM
Free ilustration by: militanciaviva!
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