POR QUE A DIREITA BRASILEIRA NÂO ENGOLE AS VIAGENS DE LULA
Colonizada, a oligarquia brasileira gostaria de ver o ex-presidente Lula de pijama e passou os últimos dias atacando suas viagens internacionais; talvez porque saiba que sua liderança é decisiva para a construção geopolítica do que o argentino Manuel Ugarte, nos idos de 1922, alcunhou de Pátria Grande; Lula, no entanto, respondeu à altura, gravando vídeo em apoio ao venezuelano Nícolas Maduro.
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Com o estardalhaço de praxe, parte da imprensa tradicional dedicou-se,
na semana passada, a criticar o ex-presidente por suas visitas a
distintos países. Além do objetivo mais evidente, de encontrar alguma
forma para desgastar sua liderança popular, há outro propósito, menos
aparente: limitar o ativismo internacional no qual Lula tem se empenhado
desde sua primeira eleição.
Talvez não haja outra agenda, no bojo da estratégia de reformas sem
rupturas, na qual tenha sido estabelecida reviravolta tão profunda. O
ex-presidente, nesse tema, comandou um cavalo de pau, apoiado pelo tripé
de assessores formado por Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e
Marco Aurélio Garcia.
A mirada colonizada da oligarquia brasileira, sempre voltada para os países centrais do capitalismo, foi substituída por um novo programa. Ao mesmo tempo em que foram estabelecidas medidas de defesa da soberania nacional (a mudança no sistema de exploração do petróleo e o fim da tutela do Fundo Monetário Internacional são bons exemplos), o Brasil estabeleceu como eixo de sua diplomacia a integração latino-americana, o diálogo com as nações do sul e a articulação das potências emergentes.
Os laços de dependência financeira, comercial e tecnológica com os Estados Unidos e a Europa começaram a ser desatados. O enterro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), desse ponto de vista, provavelmente foi o capítulo mais simbólico dessa empreitada. Mas também se destacam a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), as novas relações com Rússia e China, o protagonismo na África.
Estas mudanças não refletiram apenas os interesses brasileiros em buscar novos mercados e ampliar perspectivas para o desenvolvimento econômico. O ex-presidente, aliado a outros líderes do continente, especialmente o venezuelano Hugo Chávez, deu forte impulso à costura de um bloco histórico que se contrapusesse à hegemonia norte-americana. O centro geográfico dessa estratégia foi identificado na América Latina, como seria natural, mas estendeu-se a outros rincões.
O surgimento de instituições do subcontinente sem a participação de Washington, e a incorporação de Cuba a Celac, são o saldo mais visível dessa política, que abre caminho para passos ainda mais ousados. A OEA (Organização dos Estados Americanos), certa vez apelidada por Fidel Castro de ministério da Casa Branca para as colônias, vive o outono de sua existência.
Lula também comprou outras brigas, dentro e fora da região. A solidariedade com a Venezuela, durante a crise política do biênio 2003-2004, foi decisiva para deter a escalada agressiva de Bush e defender o projeto chavista contra o risco de desestabilização. A reação contra o golpe em Honduras (2009), enérgica e sem contemplação, é um contraponto inequívoco a Fernando Henrique Cardoso, que bateu palmas para Fujimori quando esse fechou o parlamento peruano e chegou a condecorar o tiranete de Lima.
Sob a batuta do ex-presidente, países árabes e sul-americanos fizeram sua primeira conferência e o apoio à causa palestina virou assunto relevante nessa parte do mundo. A guerra ao Iraque foi nitidamente condenada. As represálias ilegais contra o Irã foram rejeitadas e tentou-se, junto com a Turquia, criar uma nova ponte para a saída diplomática e o respeito ao direito daquele povo à autodeterminação.
No auge da crise econômica de 2008, Lula foi uma das vozes mais críticas ao modelo que havia levado os países desenvolvidos às beiras do colapso financeiro, denunciando como antipopulares as chamadas medidas de austeridade, caracterizadas por drásticas reduções dos gastos públicos, salários e empregos. Quem irá esquecer a feição patética do ex-primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, quando o fundador do PT disse, em reunião bilateral, que a crise tinha sido provocada pelos loiros de olhos azuis?
A mirada colonizada da oligarquia brasileira, sempre voltada para os países centrais do capitalismo, foi substituída por um novo programa. Ao mesmo tempo em que foram estabelecidas medidas de defesa da soberania nacional (a mudança no sistema de exploração do petróleo e o fim da tutela do Fundo Monetário Internacional são bons exemplos), o Brasil estabeleceu como eixo de sua diplomacia a integração latino-americana, o diálogo com as nações do sul e a articulação das potências emergentes.
Os laços de dependência financeira, comercial e tecnológica com os Estados Unidos e a Europa começaram a ser desatados. O enterro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), desse ponto de vista, provavelmente foi o capítulo mais simbólico dessa empreitada. Mas também se destacam a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), as novas relações com Rússia e China, o protagonismo na África.
Estas mudanças não refletiram apenas os interesses brasileiros em buscar novos mercados e ampliar perspectivas para o desenvolvimento econômico. O ex-presidente, aliado a outros líderes do continente, especialmente o venezuelano Hugo Chávez, deu forte impulso à costura de um bloco histórico que se contrapusesse à hegemonia norte-americana. O centro geográfico dessa estratégia foi identificado na América Latina, como seria natural, mas estendeu-se a outros rincões.
O surgimento de instituições do subcontinente sem a participação de Washington, e a incorporação de Cuba a Celac, são o saldo mais visível dessa política, que abre caminho para passos ainda mais ousados. A OEA (Organização dos Estados Americanos), certa vez apelidada por Fidel Castro de ministério da Casa Branca para as colônias, vive o outono de sua existência.
Lula também comprou outras brigas, dentro e fora da região. A solidariedade com a Venezuela, durante a crise política do biênio 2003-2004, foi decisiva para deter a escalada agressiva de Bush e defender o projeto chavista contra o risco de desestabilização. A reação contra o golpe em Honduras (2009), enérgica e sem contemplação, é um contraponto inequívoco a Fernando Henrique Cardoso, que bateu palmas para Fujimori quando esse fechou o parlamento peruano e chegou a condecorar o tiranete de Lima.
Sob a batuta do ex-presidente, países árabes e sul-americanos fizeram sua primeira conferência e o apoio à causa palestina virou assunto relevante nessa parte do mundo. A guerra ao Iraque foi nitidamente condenada. As represálias ilegais contra o Irã foram rejeitadas e tentou-se, junto com a Turquia, criar uma nova ponte para a saída diplomática e o respeito ao direito daquele povo à autodeterminação.
No auge da crise econômica de 2008, Lula foi uma das vozes mais críticas ao modelo que havia levado os países desenvolvidos às beiras do colapso financeiro, denunciando como antipopulares as chamadas medidas de austeridade, caracterizadas por drásticas reduções dos gastos públicos, salários e empregos. Quem irá esquecer a feição patética do ex-primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, quando o fundador do PT disse, em reunião bilateral, que a crise tinha sido provocada pelos loiros de olhos azuis?
Estas e outras são razões de sobra para a direita querer Lula de pijama,
também na atividade internacional. Sua liderança, afinal, continua a
ser decisiva para a geopolítica do que o argentino Manuel Ugarte, nos
idos de 1922, alcunhou de Pátria Grande. Ainda mais com a morte de
Chávez e a saída de cena do chefe histórico da revolução cubana.
Diante dos ataques da mídia conservadora a suas viagens, no entanto, o
ex-presidente deu resposta à altura. Gravou vídeo de franco apoio a
candidatura presidencial de Nicolás Maduro, nas próximas eleições
venezuelanas. A direita terá mais razões para chorar as pitangas.
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