Falsos profetas acusam crianças de bruxas para ganhar dinheiro. Pastores pentecostais promovem violentos exorcismos em pequenos africanos para ganhar dinheiro.
Uma tragédia - uma a mais - está ocorrendo na África em nome de Jesus: a exploração religiosa de inocentes por falsos profetas de igrejas pentecostais.
O texto abaixo é de Clóvis Pacheco Filho, antropólogo, professor e jornalista.
Vídeos postados no Youtube mostram como a expansão do pentecostalismo na
Nigéria, no Congo, em Angola, em sua vertente dita Teologia da
Prosperidade, vem causando seríssimos problemas, ao se sincretizarem com
a crença dos povos locais nos ramos africanos da feitiçaria.
Os pastores das instituições religiosas citadas, após acusarem crianças e
jovens da prática de bruxaria, exigem dinheiro de seus pais, para
procederem ao exorcismo.
Como a quantia exigida em geral supera a capacidade de pagamento dos
pais dos acusados, o exorcismo prescrito – que em si mesmo é bastante
violento – acaba sendo realizado pelos familiares, que assim acreditam
que irão sair da miséria econômica, curar doenças, resolver problemas
que, no seu entender, são causados por seus filhos. E esses filhos,
muitas vezes, são menores de dois anos.
Os resultados dos exorcismos sempre são os piores possíveis, como morte,
ferimentos, mutilações e os traumas psíquicos, o abandono social e a
exclusão total da vítima, que fica atirada à própria sorte.
Quero ressaltar que tanto os pais quanto os pastores acreditam na
existência da feitiçaria, em si mesma, traço comum em várias culturas
africanas. Esse fato corrobora minha tese de que raramente ocorre
conversão completa em massa de todo um povo a uma nova religião, mas
somente conversões completas em casos individuais, que são, quase
sempre, muito raros.
O que se dá, em geral, é o surgimento de um sincretismo, na maior parte
dos casos históricos conhecidos. E os próprios pastores africanos
citados, que alegam sua condição de cristãos seguidores da Bíblia,
acreditam no poder da feitiçaria, como qualquer outro africano de suas
comunidades de origem.
Daí a facilidade que encontram para a prática da manipulação das
consciências, para os ganhos pecuniários pessoais e para a consolidação
de seu poder.
Observe o vídeo abaixo:
A respeito da atitude dos tais pastores nigerianos e congoleses que
maltratam crianças depois de, publicamente, acusarem-nas de bruxaria, é
bom que se tenha em mente, repito, é a demonstração de que não há nada
mais enganoso do que a crença na hipotética conversão em massa de um
povo, de uma religião tradicional a outra, a uma religião nova.
Conversão bem sucedida pode acontecer individualmente, mas quanto a um
povo, em sua grande massa, a história demonstra que isso jamais
aconteceu.
Isso porque o homem jamais faz uma faxina mental completa, eliminando
tudo o que antes estava em sua mente, para aceitar outro conteúdo,
mormente se trazido de outra cultura.
Há, sobre isso, uma frase famosa, dita por um ilustre bispo católico do
início da Idade Média, da cidade francesa de Reims, canonizado como São
Remígio, que disse ao rei Clovis, do povo franco sicambro, estabelecido
na região onde hoje está Paris, quando ele se converteu, depois de ter
sido perseguidor do cristianismo: “Curva a cabeça, altivo sicambro.
Adora o que queimaste e queima o que adoraste”.
Atualmente, na Nigéria, o cristianismo tem mais espaço social, em
especial pelo pentecostalismo, em sua variante mais conhecida, a que deu
origem à Teologia da Prosperidade, corrente que, no meu entender, é uma
das maiores vigarices dos tempos modernos.
Os pastores citados, antes de qualquer coisa, manipulam abertamente o
sincretismo, uma vez que seus rebanhos são compostos por pessoas que
acreditam tanto nos conteúdos do cristianismo pentecostal, quanto nos
valores tradicionais da crença em bruxaria. Daí a eficácia do que o
pastor fala, diante de seu público, com relação aos que lhes dão o
dinheiro como pagamento dos tais atos de exorcismos.
A ideologia subjacente à fala dos tais pastores é a que garante que se o
fiel der dinheiro para os pastores, que se apresentam como
representantes de Deus, homens e mulheres de Jesus, portadores da
Palavra, Deus devolverá em dobro.
Para que é que Deus precisa de dinheiro é a pergunta correta, mas se
torna facilmente explicável se forem observados os carros, jóias, casas
de luxo, roupas de griffe ou pelo menos, de boa qualidade, possuídos
pelos santos homens e santas mulheres de Jesus.
Em alguns dos casos mostrados pelos vídeos, o cinismo dos tais pastores é
evidentíssimo. Podemos perguntar como é que pais e mães aceitam tal
vigarice sem se revoltar, uma vez que as vítimas são seus próprios
filhos, e quase sempre, crianças inocentes e apavoradas.
Acontece que em tais culturas tribais, quase sempre a criança tem uma
personalidade diminuída, e que somente é realizada de modo integral com a
maioridade, e que na maioria dos casos é quando se torna elemento
ativo, pode se casar, exercer todos os atos da vida normal. E, geral,
esse momento é demarcado por um rito de iniciação, um rito de passagem,
como dizemos nós, antropólogos.
Crianças na Nigéria tentam se defender de acusações de bruxaria
Enquanto não passaram pela iniciação, eles são indivíduos muitíssimo
pouco diferenciados, e contam bem pouco, socialmente, tanto que quando
morrem, pelo motivo que for, recebem ritos fúnebres bem menos
elaborados. E sua morte é compensada sentimental e afetivamente por um
novo filho.
Daí a facilidade com que famílias miseráveis aceitam a acusação de
bruxaria, por envolverem crianças, que contam muito pouco na vida
social.
Não estamos nós, no Brasil, isentos de tais acusações de bruxaria e
similares. Houve vários casos atuais, publicados na imprensa, nos quais
membros de igrejas do gênero, e seus membros fanatizados exorcismaram
por meio de pancadaria várias pessoas que praticam (entre os
sobreviventes) ou praticavam a umbanda, candomblé, e outros cultos do
gênero.
Tais casos foram numerosos na Baixada Fluminense, por parte de obreiros,
“bispos” que tais. Por isso, é bom que tais fatos sejam conhecidos.
Já escrevi sobre os efeitos nocivos do pentecostalismo na África. Um
pentecostal e se doeu. Parece que no modo de pensar dele, nenhum
pentecostal seria capaz de fazer atrocidades, assim como “não fazem
achaques de dinheiro dos fiéis”, porque no modo dele entender isso é
mais que correto, pois é adepto da tal de Teologia da Prosperidade.
Todos os seus pastores são santos homens de Deus, em sua visão
maniqueísta.
Dada a simploriedade dele, se vê que não é pastor, é ovelha, das que
gostam de ser tosquiadas. Fosse pastor, do gênero em questão, os tais da
prosperidade, seria, pelo menos, um pouco mais esperto.
Fonte: Análise de Conjuntura
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