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sábado, 13 de abril de 2013

UM POQUITO MAIS SOBRE A RECENTE HISTÓRIA DA VENEZUELA

  A SEGUNDA MORTE DE CARLOS ANDRÉS PÉREZ
Mais de nove meses depois de sua morte, no dia de Natal de 2010, o ex-presidente da Venezuela (1974-1979 e 1989-1993), Carlos Andrés Pérez , finalmente foi sepultado em definitivo, em Caracas - ele vivia exilado em Miami, depois de uma longa briga judicial entre seus familiares.Conheça mais sobre essa figura.



CAP no segundo mandato (1989-1993)
Carlos Andrés Pérez morreu pela primeira vez no seu segundo mandato como presidente da Venezuela, entre 1989 e 1993.  
Ele fora eleito em dezembro de 1988, em meio a uma grave crise econômica, com um discurso anti-neoliberal em que descrevia o FMI e o Banco Mundial como "genocidas" e o primeiro como "uma bomba de nêutron, que mata as pessoas mas deixa intacto os edifícios". Ao tomar posse, em fevereiro de 1989, Pérez "esqueceu o que disse" e aplicou a receita dos genocidas de cortar gastos públicos, aumentar tarifas e liberar o preço dos combustíveis.

O Caracazo: 500 a 3000 mortos
Conseguiu um empréstimo de US$ 4,5 bilhões do FMI, mas provocou uma rebelião social como nunca antes naquele país, conhecida como Caracazo, cuja repressão deixou entre 500 e 3000 mortos. A situação social se deteriorou e, em 1992, CAP, como era conhecido, sofreu duas tentativas de golpes militares: a primeira, em 4 de fevereiro de 1992, liderada pelo tenente-coronel Hugo Chávez Frías, que anos depois seria eleito presidente; a segunda, muito mais sangrenta, em 27 de novembro daquele ano. 


Em 1993, Pérez foi afastado do cargo por ter desviado dinheiro de um fundo secreto. Foi condenado a 28 meses de prisão.

No primeiro mandato
O Pérez que morreu naquela época foi o dirigente nacionalista e democrático forjado na luta contra a ditadura do general Pérez Jimenez, sob a liderança de Rómulo Betancourt e Rómulo Gallegos, que enfrentou prisões e o exílio. Foi o Pérez que venceu as eleições presidenciais de 1974 percorrendo quase todos os vilarejos do país defendendo a ideia de que o petróleo deveria ser usado como uma ferramenta de países subdesenvolvidos como a Venezuela para chegarem ao Primeiro Mundo, provocando a emergência de uma nova ordem internacional, mais equitativa. Aproveitando a crise de energia provocada pela Guerra do Yom Kippur, em 1973, Pérez nacionalizou as indústrias de petróleo, aço e alumínio do país. A gigantesca alta dos preços do petróleo provocou uma bonança econômica inédita na Venezuela, aumentando a capacidade do Estado de investir em programas sociais, mas ao mesmo tempo criando uma dependência do petróleo que fez do país uma Arábia Saudita andina, com PIB per capita altíssimo, mas quase nenhum investimento em infraestrutura ou na diversificação da economia. O modelo se revelou um gigante com pés de barro. 

Pérez com o Omar Torrijos (esq.)
Mesmo assim, Pérez promoveu programas de desenvolvimento sustentável quando ninguém falava nisso, o que lhe valeu o prêmio Earth Care em 1975. CAP teve um papel fundamental nos acordos entre o presidente americano Jimmy Carter e o dirigente panamenho Omar Torrijos que levaram ao acordo de devolução do Canal do Panamá aos panamenhos em 1977. Ele também ajudou a consolidar a transição democrática na Espanha, inclusive fretando um avião para trazer de volta a Madri o líder socialista Felipe González, então exilado.    

 CAP -  no final, o opróbio
Nem as denúncias de corrupção do primeiro governo tiraram a aura de progressista de Pérez. Fora do governo, ele se tornou vice-presidente da Internacional Socialista, na época em que era liderada por Willy Brandt, apoiando a expansão da organização para a América Latina, então dominada por ditaduras militares de direita. Pérez sustentou uma oposição tenaz a ditadores como Anastasio Somoza, da Nicarágua, e Augusto Pinochet, do Chile, que tinham apoio dos EUA. Quando retornou ao poder, simbolizava a esperança da volta dos bons tempos. Poucas vezes na história moderna dos povos as expectativas viraram pó tão rápida e tragicamente.

No dia de Natal, Carlos Andrés Pérez morreu pela segunda vez, aos 88 anos, no mais completo opróbrio.  



Texto: Cláudio Camargo

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Corpo de ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez é velado em Caracas


Partidários de Pérez velam seu corpo em Caracas/Reuters 
 "RIO - Depois de quase um ano de briga judicial, o corpo do ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez finalmente chegou em Caracas na noite desta terça-feira (horário local). Pérez vivia em exílio em Miami há 12 anos quando um ataque cardíaco o matou no dia 25 de dezembro do ano passado, mergulhando a família no que parecia ser uma discussão sem fim sobre o local de sepultamento de seu cadáver até que em 17 de agosto último os parentes acordaram em enterrá-lo em Caracas.
- Acredito que cumprimos nosso dever de família de garantir seu desejo (o de Pérez) de descansar aqui, em sua pátria - disse Carolina Pérez, uma das cinco filhas que o ex-presidente teve com Blanca Rodríguez, ao jornal espanhol "El País".
Depois de chegar ao Aeroporto Internacional de Maiquetía, os restos mortais de Pérez foram transferidos para a sede do Ação Democrática, partido pelo qual se elegeu duas vezes presidente da Venezuela (entre 1974 e 1979 e entre 1989 e 1993). No local, foi organizado um velório público que deve terminar apenas na tarde desta quinta-feira, quando o ex-presidente será enterrado no Cemitério do Leste, junto com sua filha Thaís, morta há 15 anos.
Polêmico em vida e em morte. Pérez chegou a cumprir pena por desvios de verbas públicas depois ser destituído da Presidência, já no final de seu segundo mandato. Uma vez libertado, o ex-presidente se viu diante de uma nova ameaça de prisão e resolveu deixar o país com sua então secretária Cecilia Matos, também acusada de corrupção.
Apesar de nunca ter se divorciado de Blanca, Pérez construiu outra família com Cecilia nos Estados Unidos, com quem teve outras duas filhas. Assim que morreu, a briga entre as viúvas começou. Blanca afirmava que o marido deveria ser enterrado em seu país natal, enquanto Cecília insistia que o último desejo de Pérez teria sido de não ser sepultado em Caracas até que Hugo Chávez deixasse a presidência da Venezuela.
Até o início da semana, a família Pérez-Matos ainda não havia confirmado a presença na cerimônia em Caracas. Os parentes exilados em Miami não devem viajar para Venezuela, já que o governo anunciou nesta terça-feira que vai prender Cecilia caso ela desembarque no país.
- Se voltar, devem prendê-la imediatamente, independente da dor, a Justiça deve ser feita - disse a juíza Luisa Ortega Díaz.

Chávez, inimigo declarado de Pérez, pediu respeito aos restos mortais do rival por telefone à TV estatal:
- Deixem que os mortos enterrem seus mortos e que nós continuemos construindo a vida."

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