Roberto Freire, o coveiro |
A fusão do PPS (antigo
partidão) com o PMN, com o nome orwelliano de Mobilização Democrática, é o
último prego no caixão do que um dia foi a maior organização de massas da
esquerda brasileira.
Roberto Freire, essa execrável figura, é, com todos os
títulos, o grande coveiro do partidão, que nasceu revolucionário, virou
tenentista, ficou reformista, centrista, transformista (no sentido sociológico
do termo) e, finalmente, desacaradamente direitista. Essa trajetória do partidão
é tão desavergonhada que lembra aquela canção do compositor italiano Fabrizio de André, En direzione ostinata e contraria (Em
direção obstinada e contrária), só que no sentido de caminhar celeremente na
direção oposta às suas origens.
A quartelada de 1935: a ilusão armada do PCB |
O
Partido Comunista do Brasil
(PCB) nasce em 1922, como seção brasileira da Internacional Comunista
(IC).
Suas origens eram anarco-sindicalistas, mas logo o partido se adapta às
“21
condições” da IC bolchevique. Sob o comando do ex-capitão Luís Carlos
Prestes e com o apoio de Moscou, o partidão cai na ilusão do positivismo
fardado, acreditando que poderia tomar o poder só com o apoio dos
quartéis. Paga caríssimo com a
repressão que recai sobre seus quadros depois da tentativa de assalto ao
poder em 1935. Na Conferência da
Mantiqueira, em 1943, em pleno Estado Novo,
o PCB apóia a entrada do Brasil na II Guerra ao lado dos aliados. Os
comunistas têm a sabedoria de se aliar a Getúlio Vargas em 1945, no episódio do
“queremismo”, quando percebem que a direita conspirava para derrubá-lo.
Parte da bancada comunista de 1946: Marighella, Prestes e Gregório Bezerra |
O
partido conhece o apogeu
entre 1945 e 1964. Nas eleições de 1945, o PCB elege 14 deputados
federais –
entre os quais Carlos Marighella e Jorge Amado – e um senador
(Prestes),tendo a bancada mais aguerrida do Congresso. Com os registros e
os
parlamentares cassados em 1947, o partidão faz uma desastrada guinada
esquerdista,
que o impede de ver a conspiração direitista contra Getúlio Vargas em
1954. Mas
no período o PCB comanda grandes movimentos de massa, como a greve dos
300 mil em São Paulo em 1953, organizada
por Carlos Marighella.
Manifestação pelas reformas de base com apoio do PCB |
Em 1958, com a Declaração de
Março, o PCB acompanha os ventos da desestalinização e adota a tese de
“revolução democrática e nacional”, apoiando alianças com setores
“progressistas” da burguesia. O V Congresso muda o nome do partido para Partido
Comunista Brasileiro, com vistas à legalização. O partidão apóia o
governo de João Goulart e as reformas de base, mas comete o erro de apostar no
“dispositivo militar” de Jango para deter a conspiração dos conservadores. O golpe de
1964 marca o ocaso do PCB como organização significativa da esquerda
brasileira. De seu ventre surgem inúmeras organizações (entre elas a ALN e o
PCBR) que criticam o oportunismo e partem para a luta armada. Em 1968 o PCB
apóia a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia.
David Capistrado, assassinado em 75 |
Apesar de condenar a oposição
armada à ditadura, o PCB não se vê livre da repressão: em 1975, vários
dirigentes são assassinados, entre eles David Capistrano. Em 1979, vem a
anistia e os comunistas voltam à luz do dia. Luis Carlos Prestes, o líder
histórico, rompe com o partido em 1980. Um setor mais esclarecido, identificado
com os eurocomunistas (Armênio Guedes, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho),
sai do partidão em 1982, depois do golpe do general Jaruzelski na
Polônia.
O retorno de Luís Carlos Prestes, em 1979 |
Em 1985, o PCB finalmente
reconquista a legalidade. Neste período, muitos de seus membros já estavam
debandando descaradamente para as fileiras da direita, alguns virando
malufistas, como os ex-dirigentes sindicais Hércules Corrêa e Jarbas de Holanda;
o ex-deputado Luís Tenório de Lima e o jornalista Rodolfo Konder. Em janeiro de
1992, no X Congresso, seguindo uma tendência mundial depois do colapso da URSS,
o PCB vira Partido Popular Socialista (PPS).
Sob o comando de Roberto
Freire, o PPS inicia a marcha inexorável à direita. O partido apóia o impeachment
de Collor e o governo Itamar Franco (Freire foi o líder do governo) e em 1994,
apóia o PT contra FHC, mas logo em seguida se aproxima do tucano. Raul
Jungmann, do PPS, vira ministro da Reforma Agrária. Em 2002 o PPS apóia Lula,
mas deixa a base governista em 2005. De lá para cá, os ex-comunistas se tornam
virulentamente antipetistas, defendendo inclusive a violenta guinada à direita
da campanha de José Serra à presidência em 2010.
Ferreira Gullar, o stalinista da direita |
Hoje, não há nada mais conservador
e patético do que as cantilenas arquirreacionárias de ex-comunistas
arrependidos, como Arnaldo Jabor ou Ferreira Gullar. Triste fim de Policarpo
Quaresma...
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