Um julgamento em circunstâncias longe das ideais |
O caso Fux é uma evidência poderosa disso.
O caso Fux – seu encontro admitido com Dirceu quando buscava uma vaga
no Supremo que o faria julgar o homem cujo favor queria – reforça um
fato: o julgamento do Mensalão tem que ser urgentemente revisitado pelos
brasileiros.
Nem que seja para, serenamente, e dadas à defesa todas as condições de trabalho, confirmar as sentenças.
Se não, há um grande risco de, mais para a frente, a sociedade
lamentar não ter feito nada não, repito, para mudar o veredito – mas
para submetê-lo a uma checagem humanitária, dadas as penas tão severas e
lavradas em circunstâncias tão especiais: durante eleições.
Foi tudo muito rápido para um julgamento tão vital.
Vistas as coisas poucos meses depois, reforça-se a impressão de que foi decisiva a influência da mídia na condução das coisas.
A mídia influencia cada vez menos a chamada voz rouca das ruas, como se tem observado nas urnas.
Mas seu poder de intimidação diante de pessoas públicas é talvez
maior que nunca, depois que foi subtraído à sociedade, e por um ministro
do STF, o sagrado direito de resposta em situações de claro linchamento
de reputação.
Temos uma noção da importância desse direito – eliminado numa
desastrada ação de Ayres Britto – quando vemos uma clássica amostra
dele. Brizola era tripudiado abjetamente pelas Organizações Globo, e um
dia enfim conseguiu a chance de responder. É provável que nunca o JN
tenha sido tão verdadeiro quanto neste momento em que foi editado por
Brizola.
Confira:
São tantas as questões não respondidas adequadamente sobre o Mensalão – foi mesmo
desvio de dinheiro público, para começo de conversa – que é uma
violência tomar como definitiva a palavra de juízes submetidos a uma
pressão fortíssima da mídia num espaço de tempo tão breve.
Que o interesse da mídia foi plenamente atendido com o veredito ficou claro. Mas não ficou tão claro assim que o interesse público tenha sido atendido.
Lembremos: a última vez que a mídia esteve tão unida assim em torno
de alguma coisa terminou em tanques nas ruas em abril de 1964, e mais de
duas décadas de ditadura ao longo das quais emergiu, repleto de favores
e mamatas com dinheiro do contribuinte, Roberto Marinho a partir de um
modesto e inexpressivo jornal. (No livro Dossiê Geisel
da editora FGV, feito com base no arquivo pessoal de Geisel, há relatos
acachapantes da desfaçatez com que Roberto Marinho dizia ao então
ministro das comunicações Armando Falcão merecer ‘favores especiais’ em
troca do que fazia pela ditadura. É um livro que tem que ser lido.)
Pense em Fux e seu comportamento instável e ciclotímico: se ele e
apenas ele tivesse votado de outra forma o veredito teria sido outro.
Não se trata de gostar ou não de Dirceu, ou de Genoíno, ou do PT.
Trata-se, isto sim, de ter mais clareza sobre o que é justiça neste
caso.
Atirar pessoas por longos períodos às celas, em circunstâncias tão controversas e sob tamanhas dúvidas, é um erro espetacular.
Ainda é tempo de corrigi-lo.
O passo essencial é, agora, dar tempo aos recursos da defesa.
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