Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
Vamos à pergunta que não quer calar e à dúvida que está no ar: o sistema
midiático de negócios privados é a favor das manifestações de
estudantes, mas por que nunca apoia as greves, por exemplo, dos
servidores públicos, dos bancários, dos rodoviários, dos médicos e dos
professores? E agora vamos a outra pergunta que também teima em não
calar:
por que a imprensa corporativa e alienígena sempre atacou, com
veemência, intolerância e preconceito os partidos trabalhistas, além de
distorcer a realidade de praticamente todos os movimentos da sociedade
organizada e que lutam há décadas por seus direitos constitucionais e
civis?
Dou como exemplo os Movimentos dos Trabalhadores Sem-Teto, Sem-Terra e
dos indígenas, somente para explicitar esses, porque existem milhares de
grupos sociais que lutam diuturnamente para conquistar uma vida de
melhor qualidade e que não são ouvidos e muito menos reconhecidos como
força da sociedade pelos grupos econômicos midiáticos, que,
conservadores, recusam-se a ouvir e a dar voz aos trabalhadores, aos
índios e aos despossuídos, bem como combatem e distorcem os objetivos de
suas legítimas reivindicações.
Então,
por que a Rede Globo e todos os grupos de mídia eletrônica e impressa
que seguem a agenda econômica e financeira dos interesses do capitalismo
internacional apoiaram incondicionalmente o movimento dos estudantes,
inclusive incitando-o, ao vivo, a ocupar espaços públicos, como a Ponte
Rio-Niterói, o que, evidentemente, é o fim da picada e a falta de total
responsabilidade por parte dos donos, dos diretores e dos jornalistas da
Globo, que estão a apagar o incêndio com gasolina, pois não é
necessário ser um gênio para perceber que um conflito no decorrer de um
trajeto como o de uma ponte de grandeza monumental certamente pode
acabar em tragédia.
Dito isto, vamos à resposta: a imprensa, as mídias de caráter hegemônico
e, portanto, monopolistas, apoiaram o movimento dos estudantes por oito
motivos: 1- Se partidarizaram e são de oposição aos governos
trabalhistas; 2- Ano que vem tem eleições presidenciais e o PSDB está
enfraquecido; 3- As Organizações(?) Globo e seus principais parceiros
midiáticos não querem que os eventos esportivos (Copa das Confederações,
Copa do Mundo e Olimpíadas) sejam um sucesso para o País e o seu povo,
mas apenas um sucesso para os seus bolsos e cofres, com inserções de
propaganda ao preço de R$ 400 milhões no horário nobre, ao tempo em que
desqualifica e desconstrói os eventos esportivos no Jornal Nacional, no
Bom Dia Brasil e incessantemente na Globo News e até mesmo no canal
SporTv; 4- Quem trouxe os megaeventos para o Brasil foi o ex-presidente
trabalhista Lula, cuja administração efetivou as conquistas sociais, e,
para o desgosto da direita, as evidenciou internacionalmente; 5- A
presidenta trabalhista Dilma Rousseff é a mandatária herdeira de Lula e,
oficialmente, a anfitriã dos jogos; 6- A imprensa de direita e de
tradição histórica golpista está de olho nas eleições de 2014 e não vai
permitir que Dilma Rousseff, eventual candidata a presidente do PT,
colha os frutos da Copa; 7- O movimento dos estudantes é conservador,
sem objetivos concretos e se diz “apolítico”, sendo que não existem
manifestações e protestos apolíticos, pois ninguém é ingênuo, nem mesmo
os “ingênuos” que se dizem “contra a corrupção”, como se a grande
maioria dos trabalhadores e das pessoas em geral não o fossem; e 8- A
Globo sabe que o movimento é conservador e por causa disto apoia os
protestantes, porém, se for necessário e perceber que não vai ser alvo
de retaliações e protestos, vai, seguramente, retomar as críticas à moda
Arnaldo Jabor, que ofendeu desrespeitosamente os estudantes e depois
recebeu uma ordem de algum dos irmãos Marinho para se retratar, porque
nas ruas muitos cantavam “O povo não é bobo; abaixo a Rede Globo!”
Trata-se de uma manifestação, irrefragavelmente, solta e com episódios
de violência explícita, que fez a Globo, logo no início dos protestos,
volto a repetir, escancarar os dentes do establishment e rosnar,
propagar seu discurso moralista tradicional, que faz da palavra “ordem”
uma espécie de ultimato antes de bombardear com seu canhão midiático
aqueles que tal empresa “global” considera como grupos ou pessoas que
possam colocar em “perigo” os seus interesses políticos, bem como os
interesses das grandes corporações que têm a Globo como sua porta-voz e
ferramenta de propaganda de combate aos movimentos sociais desde 1965
quando ela foi criada em plena ditadura militar.
A Globo medrou, pois ciente de que poderia ser alvo dos manifestantes,
recuou, retirou sua logomarca dos microfones dos repórteres e passou a
cobrir os eventos de helicóptero, bem longe do povo que ela diz gostar
todos os dias no RJ TV e em seus jornais similares nos estados outros da
Federação, pois, arrogante e presunçosa, quer fazer a vez dos prefeitos
e das autoridades eleitas, pois sua intenção é desconstruir os
políticos, desqualificar a política e, por intermédio desse processo
draconiano, efetivar o domínio político e econômico das corporações
privadas sobre o estado nacional.
A Globo quer governar no lugar dos eleitos, e, esperta e malandra,
aderiu ao movimento estudantil vazio de propósitos, porque sem pauta,
sem coordenação e perigosamente “apolítico”, como afirmam muitos dos
estudantes. Quando grupos ou pessoas ou multidões são contrários à
politica, que é a essência natural dos entes humanos e das sociedades,
resta o caminho perigoso e violento do fascismo, pois com a falta de uma
referência que sirva de ponte entre os poderes e a sociedade, quem vai
ocupar esse vácuo de poder vão ser os fascistas, os fundamentalistas do
mercado e os aventureiros. Essas realidades se repetiram muitas vezes
na história da humanidade. Não é novidade. Ponto.
E os empresários como ficam? Qual é a responsabilidade deles? E as
caixas pretas que escondem e acobertam todas as mazelas do sistema de
transportes em todas as grandes e médias cidades, que movimentam bilhões
de reais e não apresentam à sociedade, de forma transparente, os
lucros, os dividendos e os gastos. A imprensa comercial e privada
praticamente não questiona esse segmento empresarial. Por quê? É
cúmplice? Afinal, a revista Veja, a Última Flor do Fáscio, foi cúmplice e
parceira do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que a Folha de S. Paulo, o
diário que emprestava os seus carros para carregar presos da ditadura
militar, insistia em chamar o bicheiro de empresário. E os governantes?
Eles vão rever os custos, no que é relativo à responsabilidade dos
empresários, além de mudar a relação institucional com esses magnatas
dos transportes? Quem viver verá.
O Ministério Público, que atualmente se preocupa em fazer política
partidária e embargar obras importantes para o desenvolvimento do País,
e, consequentemente, não exerce condignamente a sua função e trabalho,
resolveu se mexer. Até então não denunciava, com a ênfase necessária, os
desmandos de mandatários e de empresários, no que tange a defender o
povo dos maus serviços do transporte público e da ganância dos
empresários que atuam nesse setor. Esse meio é uma máfia poderosa,
influente e violenta e que financia fortemente as campanhas eleitorais.
Todo mundo sabe disso. Até os recém-nascidos e os idiotas por convicção.
Entretanto, o Ministério Público aparentemente não se mexia e somente
agora anuncia que vai exigir, em nome do povo, satisfações aos
empresários e às prefeituras municipais. É que o MP, com representações
em todos os estados — leia-se Procuradoria Geral da República (PGR) — do
procurador Roberto Gurgel, antes desses protestos, estava a se
preocupar com a PEC 37, ou seja, a PGR está preocupada, e há muito
tempo, em fazer politica e não trabalha pelos interesses e desejos do
povo brasileiro, que talvez tal instituição os considere ordinários,
simples, de rotina ou do dia a dia, e essas realidades devem deixar
certos promotores ou procuradores deprimidos, aborrecidos,
fragorosamente entediados, e por isto e por causa disto muitos deles
preferiram fazer politica, em âmbito federal, para que suas vidas se
tornassem mais emblemáticas, emocionantes, aventureiras, além de
favorecerem, evidentemente, o espectro em que grande parte desses
promotores agem e atuam: o campo político da direita.
O Movimento Passe Livre (MPL) não iniciou suas atividades hoje e nem
ontem. Ele existe há anos e nunca foi levado a sério pela imprensa e
muito menos pela maioria dos estudantes da classe média tradicional e
média alta, que não se locomovem de ônibus, trens ou metrô, pois a
maioria anda de carros e veículos escolares. São jovens que compõem a
parte da classe média oportunista politicamente, pois despolitizada,
rancorosa e colonizada, que tem ódio da ascensão social dos pobres, dos
negros, dos recentemente incluídos e que vota em partidos conservadores e
consomem os produtos editoriais da mídia conservadora e velhaca.
Igualzinho aos seus pais. A mesma mídia de mercado que combatia o
Movimento Passe Livre nos tempos do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab, aliado na época dos políticos do PSDB paulista. O MPL era
escondido pela imprensa imperialista e desqualificado pelos seus
jornalistas pagos para pensar o que seus patrões pensam.
O pau está a quebrar nas ruas das capitais brasileiras, e a polícia não
pode intervir sem ser alvo de críticas açodadas para preservar o
patrimônio público, mesmo quando em perigo de ser depredado, não pelos
estudantes e, sim, pelos vândalos rebeldes sem causa. Opino sobre as
ações policiais especificamente no concerne ao aspecto legal, que fique
claro a quem lê este artigo, pois sou contra, terminantemente, a
qualquer violência praticada pelo estado contra os estudantes.
Contudo, ocorrem saques, pichações, roubos, furtos, assaltos,
depredações de lojas e agressões físicas. A própria imprensa aliada dos
protestos mostra e ameniza os crimes, que não devem ser amenizados,
porque se fossem levados a efeito pelos movimentos sociais que, ao
contrário dessas manifestações, tem agenda política e lutam por seus
direitos há décadas, a exemplo do MST, a imprensa burguesa e as
instituições e os órgãos de repressão do estado já estavam, sem sombra
de dúvida, a criticar açodadamente e a reprimir duramente aqueles que,
porventura, ousassem quebrar as vidraças ou tocar em algum caixa
eletrônico de uma agência de banco. É verdade ou não é? Sua consciência
decide.
Há quase duas semanas os jovens que se relacionam pela internet ou pelas
redes sociais realizaram a primeira manifestação das muitas que se
sucederam em todo o País. Tais protestos se transformaram, ratifico mais
uma vez, em grandes eventos heterogêneos, politicamente e
ideologicamente primitivos, desorganizados, com vândalos infiltrados e
pessoas, como se comprovou depois, que se mostraram alheias às
reivindicações.
Os pleitos se transformaram em uma miscelânea de
contestações, na verdade um emaranhado de gritos de ordens e de
cartazes, que não condizem com os propósitos e os objetivos iniciais das
manifestações de ruas contra o aumento de R$ 0,20 das tarifas de
ônibus.
Os prefeitos recuaram, abriram-se ao diálogo, mostraram as
planilhas e informaram que o orçamento vai ter de ser modificado, a fim
de atender as reivindicações dos estudantes. Haverá uma reengenharia e
considero que a sociedade brasileira já sabe disso.
O Brasil avançou, e muito, em suas conquistas sociais e econômicas. É
visível e palpável e somente não reconhece quem não quer enxergar, por
motivos ideológicos, partidários, culturais, de ordem preconceituosa, de
classe social, que leva à intolerância política e, por seu turno, à
contestação vazia, porque falta uma agenda que elenque as reivindicações
e que prevê também a abertura de diálogo, de maneira democrática e
respeitosa.
Não adianta os reacionários de plantão apostarem no
golpismo, tão a caráter das classes privilegiadas, que querem impedir a
distribuição de renda e de riqueza. Não é de bom alvitre as classes
média tradicional e alta, frequentadoras há mais de cem anos de
universidades federais e estaduais reeditarem a Marcha da Família com
Deus e pela Liberdade, porque a que está a acontecer é maior, com maior
tempo de duração e não tem, insisto, uma ainda uma agenda política para
debater o Brasil e dialogar com consciência, com seus interlocutores,
que são e têm de ser as autoridades eleitas e não a os donos e os seus
empregados do sistema midiático privado.
O MPL foi questionado por vários grupos extremistas, à esquerda e à
direita, que apostaram e ainda apostam em rompimento institucional para
favorecer a oposição partidária ao Governo trabalhista. A oposição
(PSDB, DEM, PPS e PSOL) que neste momento está enfraquecida, porque não
tem programa de governo, projeto de País, enfim, propostas para o povo
brasileiro. Em 2014, veremos se a corrente politica democrática que está
no poder e mudou o Brasil para melhor tem ainda fôlego para vencer as
eleições. Do contrário, a oposição tucana assume a Presidência, com o
apoio dos barões proprietários do sistema midiático, dos setores ricos e
rentistas inconformados com os juros mais baixos e, inapelavelmente,
com o apoio da classe média conservadora, cujos filhos estão nas ruas,
pois portadora dos valores e dos princípios das classes dominantes.
Todos os países brigam, ou seja, disputam duramente para ter em suas
terras eventos internacionais, que, evidentemente, proporcionam inúmeros
benefícios em infraestrutura, sociais e econômicos. Não tem como ser
diferente. Torna-se imperativo ter muito espírito de porco para não
compreender essas questões, que inclusive transformam o Brasil em um
País ainda mais internacional. O tempo mostrará, pois ele é o senhor da
razão.
A Copa das Confederações já é um sucesso de público e o retorno
financeiro vai se concretizar. A Copa do Mundo de 2014 vai ser uma das
melhores. A Globo vai encher a burra de dinheiro, bem como os seus
anunciantes, e, malandramente, no Jornal Nacional, vai dizer que os
eventos são e serão um fracasso, ainda mais no Governo do PT. Só não dá
mais para dizer que o Brasil não sabe construir estádios. Quando essa
gente viu os estádios prontos ficou furiosa, porque não imaginava tanta
competência. Eles torcem contra o Brasil e tergiversam, distorcem,
manipulam e disfarçam seus desprezos e rancores e desamores.
Vários
grupos e em diferentes capitais gritavam: “Foda-se o Brasil”! Afirmo
novamente: todos os países disputam duramente para ter em suas terras
eventos esportivos internacionais. Aqui no Brasil é o contrário. O
complexo de vira-lata, o DNA de escravagista e a alma subserviente e
colonizada impedem, definitivamente, que essa gente reconheça o Brasil e
os direitos de seu povo. Vamos ver que tem mais garrafas para vender em
2014. A maioria do povo trabalhador que vota na Dilma, definitivamente,
não está a ocupar as ruas. Só não vale golpe de estado midiático, a
"revolução" na tela da Globo, como tentaram na Venezuela.
Seis anos após o Brasil ser confirmado como sede da Copa do Mundo de
2014, as pessoas resolvem protestar somente agora, e exatamente no
decorrer dos jogos da Copa das Confederações? Por quê? Não houve tempo
para combinar pela internet? Os manifestantes acham que falam pelo
Brasil profundo e pelo povo? Esses jovens que se dizem apolíticos e cuja
pauta era a passagem do transporte público e depois passaram a ter mil
pautas incongruentes e incoerentes, como se fosse o “Samba do Crioulo
Doido”, de Sérgio Porto, tem de ser ouvidos, pois são cidadãos
brasileiros, mas, sobretudo, não falam em nome do povo brasileiro, que
elegeu a presidenta Dilma Rousseff, porque seria muita presunção.
Além disso, se os partidos e outras associações e agremiações quiserem
participar das manifestações, os líderes do MPL têm de aceitar e não
querer um movimento sectário, afinal o PT, por exemplo, é um partido
orgânico, inserido na sociedade, e, inquestionavelmente, foi forjado nas
ruas e nas fábricas e universidades.
Ou esses rapazes e moças pensam
que as passeatas começaram a ocorrer no Brasil na semana passada? Sugiro
que o MPL convide os políticos do PSDB e do DEM, além de seus aliados
da Globo, para também participar das manifestações.
O problema é saber
se eles vão aceitar caminhar nas ruas. Eu duvido. O melhor é citar a
conhecidíssima frase de Hamlet: "Há mais mistérios entre o céu e a terra
do que sonha a nossa vã filosofia". É isso aí.
Palavra Livre - Davis Sena Filho: A revolta dos bem nascidos e a “revolução” na tela da Globo
Free ilustration by: militanciaviva!
Nenhum comentário:
Postar um comentário