Sem garantia de permanência em Hong Kong, o americano
Edward Snowden (foto acima), responsável por revelar material sobre o programa
ultrassecreto de vigilância dos EUA, procura asilo político na Islândia.
Ontem, ele deixou o hotel onde se hospedava havia três semanas em Hong
Kong. Seu destino é desconhecido.
O dano causado por ele na imagem do governo de Barack Obama já se
mostra profundo. Autoridades europeias expressaram ontem ser inaceitável
o acesso dos órgãos de inteligência e segurança dos EUA aos e-mails,
registros na internet e telefones de seus cidadãos. Em sua visita a
Berlim, na semana que vem, Obama deve ser cobrado pela chanceler da
Alemanha, Angela Merkel, segundo a ministra alemã de Justiça, Sabine
Leutheusser-Schnarrenberger, para quem caso é "uma razão para
preocupação".
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"Esta é uma circunstância que tem de ser examinada muito
cuidadosamente", disse o porta-voz da chancelaria alemã, Stefan Seibert,
ao confirmar o tema na conversa entre Merkel e Obama.
Em entrevista ao Guardian, de Londres, Snowden assumiu no domingo a
responsabilidade pelo vazamento de material sobre o acesso da Agência de
Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) aos registros dos clientes
de nove companhias americanas de internet e a pelo menos uma operadora
de telefonia, a Verizon. As informações eram processadas pelo programa
de inteligência Prism, da NSA, para a detecção de terroristas. Segundo
Snowden, cidadãos americanos e estrangeiros residentes nos EUA não
estavam a salvo, como Obama afirmou na sexta-feira.
Em Londres, a oposição trabalhista criticou duramente o governo de
David Cameron por ter recebido relatórios e dados do Prism. O Parlamento
Europeu convocou para hoje um debate sobre a ausência de proteção, nos
EUA, dos dados de telefonia e na internet de cidadãos europeus.
"Esse caso mostra que um claro acordo legal para a proteção de dados
não é um luxo nem uma contenção, mas um direito fundamental" afirmou a
comissária de Justiça da União Europeia, Viviane Reding.
Snowden teria escolhido a Islândia como destino porque o país não tem
acordo de extradição com os EUA - onde deve ser processado e julgado
por traição nacional com base na Lei de Espionagem, de 1917. A Islândia
ofereceu cidadania a Bobby Fischer, o campeão de xadrez que rompeu o
bloqueio internacional ao jogar uma partida na antiga Iugoslávia, em
1992. A dificuldade de Snowden, porém, será deixar Hong Kong - seu
passaporte certamente já está cancelado - e alcançar a Islândia, onde
terá de se apresentar pessoalmente para pedir o asilo.
No Congresso americano, a senadora democrata Dianne Feinstein,
(foto acima), presidente da Comissão de Inteligência, acusou Snowden de ser traidor. O
presidente da Comissão de Segurança Interna da Câmara dos Deputados, o
republicano Peter King, disse que Snowden é um "desertor" que tem de
voltar ao país para ser julgado. "Ele (Snowden) violou o juramento (de
não revelar informação confidencial), violou a lei. É traição", acusou
Feinstein. "Essa pessoa é perigosa para o país. Os EUA têm de impedir
que qualquer país dê asilo político a ele", afirmou King à rede de
televisão CNN.
A Casa Branca preferiu não prejulgar publicamente Snowden, visto que o Departamento de Justiça já está investigando o caso.
O porta-voz do governo, Jay Carney, reiterou a posição expressa por
Obama na semana passada de não haver "100% de privacidade com 100% de
segurança" ao defender a existência e a continuidade dos programas de
vigilância. "Os programas são julgados pelo presidente e por sua equipe
de Segurança Nacional como necessários e eficazes", afirmou.
Denise Chrispim Marin, correspondente / Washington - O Estado de S.Paulo
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