Por Luciana Otoni
BRASÍLIA, 26 Jun (Reuters) - As recentes turbulências internacionais
não devem gerar falta de liquidez nos mercados, mas de qualquer forma o
Brasil está preparado para enfrentar esse "novo capítulo da crise"
internacional, disse nesta quarta-feira o ministro da Fazenda.
Em audiência pública conjunta de
diversas comissões da Câmara dos Deputados, o ministro Guido Mantega
disse que o país irá manter a inflação sob controle e as contas públicas
em ordem. Mantega falou por cinco horas, e foi alvo de duras críticas
de parlamentares da oposição.
Mantega defendeu que o Brasil está preparado para enfrentar o novo
cenário com as turbulências decorrentes da esperada redução dos
estímulos monetários dos Estados Unidos. Para ele, essa nova situação na
maior economia do mundo causa incerteza e volatilidade, mas o Brasil
está bem posicionado, entre outros motivos, pelo mercado interno forte e
reservas internacionais elevadas.
"Essa situação causa turbulência, que continua, mas deverá diminuir
em algum momento e vai se acomodar em outra posição. Isso não significa
que vai haver diminuição da liquidez internacional", afirmou Mantega.
Na semana passada, o Federal Reserve, banco central norte-americano,
deu sinais de que pode reduzir seu programa de compra de ativos ainda
este ano diante de indicadores de melhora da atividade econômica,
causando fortes reações nos mercados financeiros com a possibilidade de
que haja menos dólares circulando.
Mantega reconheceu que essas sinalizações criaram grande fluxo de
capitais para os Estados Unidos, afetando o câmbio e causando
desvalorização principalmente das moedas de emergentes. No Brasil, o
dólar chegou a 2,25 reais.
Para enfrentar essa instabilidade, o ministro disse que o Brasil
controla a inflação que, neste ano, terminará dentro da meta de 4,5 por
cento pelo IPCA, com tolerância de 2 pontos percentuais. Em maio, o
indicador estava exatamente no teto do alvo em 12 meses.
"A inflação estará sob controle neste ano, no próximo e enquanto
estivermos no governo", afirmou o ministro, acrescentando que uma
eventual mudança na política do Fed não atrapalhará a recuperação
econômica no Brasil.
As afirmações do ministro acabaram repercutindo no mercado futuro de juros, reduzindo as baixas nas taxas.
METAS FISCAIS
Mantega também reafirmou que o Brasil cumprirá as metas fiscais
estabelecidas e que terá superávit primário de pelo menos 2,3 por cento
do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, o que será garantido por
reduções de despesas de custeio.
Para ele, o déficit nominal está em trajetória de queda e que nós próximos anos o Brasil poderá ter déficit nominal zero.
"Continuaremos permanentemente fazendo ajustes e faremos reduções de
despesa de custeio para garantir meta fiscal de pelo menos 2,3 por
cento", afirmou o ministro, acrescentando ainda que o governo cumprirá
suas metas fiscais mesmo que sejam feitas algumas concessões às
manifestações populares vistas no país nas últimas semanas.
A meta cheia do superávit primário deste ano é de 155,9 bilhões de
reais, ou cerca de 3,1 por cento do PIB, mas o governo já assumiu que
não chegará a esse número. Além da fraca recuperação da atividade
econômica, que afeta as receitas, o governo também arcou com inúmeras
medidas de estímulos e que envolveram desonerações que, neste ano, devem
somar 70 bilhões de reais.
FOFOQUEIRO DO DEMO TENTOU BATER NO MINISTRO E SE DEU MAL |
Passando por um momento delicado, com rumores de que poderia deixar
seu cargo, Mantega foi bastante bombardeado por críticas dos
parlamentares presentes à audiência pública.
"Há uma crise de confiança e essa crise de confiança chama-se Guido
Mantega e equipe econömica", disse o deputado federal Rodrigo Maia
(DEM-RJ).
Se arrependimento matasse... O aprendiz Rodriguito 'mimado' Maia, que sobrevive politicamente a sombra do seu papai,Cesar, e que em sua carreira não tem nenhuma experiência administrativa, tentou "bater" no ministro da fazenda e acabou virando motivo de piada. Ficou com essa cara de tacho acima. |
O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) disse que a crítica feita pelos
parlamentares da oposição foi coordenada. "A atuação da oposição foi
uma ação organizada em questionar o ministro Mantega sobre as
incoerências do governo versus a realidade brasileira de crescimento
pífio, inflação que corrói a renda da população e a cobrança das pessoas
nas ruas."
Do lado da base de apoio ao governo, o deputado Arlindo Chinaglia
(PT-SP) disse que o embate envolvendo questões econômicas será mais
frequente daqui para a frente até a eleição. "O que se viu na audiência
foi uma disputa entre o governo e a oposição e a tendência é que isso se
acirre."
Mantega buscou responder às críticas usando números da economia
brasileira dos últimos anos, e reforçando que o governo está
comprometido com importantes variáveis, como controle da inflação e
cumprimento das metas fiscais.
RISOS NA PLATÉIA
Em alguns momentos, ele também partiu para o ataque e classificou
como "fofocas" os rumores de que poderia sair do ministério. Em resposta
ao deputado Rodrigo Maia, Mantega disse que o parlamentar vivia num
mundo sem crise internacional, ao acusar somente o governo brasileira
pela situação econômica.
"Nós somos responsáveis pela crise mundial?", brincou Mantega.
Ainda em resposta às fortes críticas dos oposicionistas, o ministro
comentou que se ele tivesse adotado a estratégia econômica dos
adversários o governo teria fracassado.
"Se fôssemos praticar a política sugerida pela oposição teríamos naufragado."
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