Gene Sharp tem muito a dizer aos manifestantes sobre como lidar com uma força maior do que a sua.
Alguns meses atrás, fui surpreendido com uma experiência de vida
inédita. Meu filho, de 7 anos de idade, estava sofrendo bullying na
escola. A primeira reação foi de espanto em saber que este tipo de coisa
está começando cada vez mais cedo. A segunda reação foi de raiva, de
vontade de vingar o meu filho. O desejo que começava a nascer era o do
revide. Algo como: “Filho, feche a mão, mire o nariz do cara e dê-lhe um
soco com toda a sua força”. Embora minha atitude, depois de alguns dias
de reflexão, não tenho sido esta, entendi com mais exatidão o
sentimento que brota de injustiças que nos afetam diretamente.
Cá entre nós, de injustiças nós brasileiros entendemos muito bem. Os
levantes que agora surgem são que o resultado dos nós nas gargantas e
dos embrulhos nos estômagos que todo brasileiro sente (uns mais que
outros).
Usado quase como uma bíblia ou manual de conduta, o livro de Sharp
traz 198 métodos de ação não violenta, de discursos públicos a orações e
de declarações públicas a simulacros de funerais.
Diz ele: “Uma das minhas grandes preocupações por muitos anos, foi
como as pessoas podem evitar e destruir ditaduras. Isso foi alimentado,
em parte devido à crença que os seres humanos não devem ser dominados e
destruídos por tais regimes. Essa crença foi reforçada por leituras
sobre a importância da liberdade humana, sobre a natureza das ditaduras
(desde Aristóteles até analistas do totalitarismo), e as histórias de
ditaduras (especialmente os sistemas nazista e stalinista)”.
Segundo Sharp, a violência não é a melhor alternativa por vários
motivos, mas o maior deles é que o seu inimigo sabe melhor que você como
utilizá-la:
Optar pela violência é como abandonar nossos valores e nos rendermos
ao lado negro da força. Não é fácil se manter íntegro quando tudo à sua
volta demonstra o contrário. Luther King e Gandhi também tiveram
desertores em suas causas, aqueles que preferiram o combate, a luta
armada, o revide ao invés de optar pelos atos não violentos. Contudo, o
que a história nos mostra é que só aqueles que se mantiveram íntegros e
corajosos é que alcançaram a vitória. Dos soldados armados, mesmo que
com objetivos justos, não ouvimos falar, eles foram derrotados.
Então, qual a melhor saída? Sem dúvida, petições online e ativismos
virtuais por si só não conseguirão resultados efetivos. É necessário,
sim, sair às ruas, empunhar bandeiras e mudar estilos de vida.
Organização e planejamento para ações nacionais e coordenadas.
Pensadores, artistas e religiosos unidos em propósitos específicos e
acima de tudo os métodos corretos do lado da verdade e da honestidade.
Gene Sharp |
Depois que a sede de vingança passa, o conselho se transforma:
“Filho, você precisa ser mais corajoso que eles. Resista, mas não
revide. O final vai mostrar quem ganhou. Se você nunca desistir, você
nunca vai perder”.
É urgente a ação e disso não temos dúvidas, mas o sucesso depende da
forma. Do contrário, nos transformamos naquilo que mais odiamos e
terminamos por lutar contra nós mesmos.
Fonte: DCM/Free ilustration by: militanciaviva!
Nenhum comentário:
Postar um comentário