Ele teve sua moto derrubada e atirou para o chão com arma de fogo, ferindo um fotógrafo.
Por Mauro Donato
T.A.S.C. é tido como o policial que disparou diversos tiros
de pistola na praça João Mendes, ocasionando o ferimento no fotógrafo
Tércio Teixeira, da agência FuturaPress, no sábado (7).
Sua carteira de habilitação foi encontrada no local onde sua moto esteve deitada, derrubada por um pontapé de um manifestante.
Ainda que sozinho e podendo alegar legítima defesa, não
havia razão para o uso de arma de fogo. Ter ficado isolado foi
desatenção sua e havia um grupamento próximo pronto a socorrê-lo. Na
esquina. Por que se desesperar?
O comportamento diz muito a respeito da falta de
treinamento que nossos policiais (militares ou civis) recebem para
situações de confronto. Assemelham-se aos adolescentes mascarados.
No 7 de setembro, em frente à Câmara Municipal de São
Paulo, muitos guardas revidaram às pedradas também com pedradas.
Partiram da frente do prédio aos gritos de “É guerra!”. Mas haveria
muito mais. Na rua Santo Amaro, após perder manifestantes de vista, um
comboio de viaturas subiu em alta velocidade por entre jornalistas,
realizando manobras arrojadas. A especialidade do espanhol Fernando
Alonso não é exatamente o forte dos pilotos da PM nem se pode dizer que
uma Blazer da GM seja uma Ferrari F-1, e a intenção puramente
exibicionista quase acaba mal (não fui atropelado por centímetros). O
strike com sucesso foi deixado para depois, realizado na lateral da
catedral da Sé. A PM atropelou um grupo que solicitava socorro
justamente para outros atropelados.
O último combate do dia se deu na av. Paulista, onde a
polícia acuou black blocs em frente a um bar cheio. Passaram-se longos
minutos de batalha colocando em risco diversos inocentes (e muitos
prejuízos ao dono do bar Puppy), até que uma luz baixasse num militar de
maior patente e berrasse: “Parou!”. Em Brasília, o mesmo ocorreu,
induzindo os manifestantes para dentro da rodoviária, e no Rio jogaram
bombas de gás na direção das arquibancadas do desfile militar, repletas
de mulheres e crianças.
A chegada da tropa de choque provocou aplausos e gritos de
incentivo entre os que desejavam ver os manifestantes expulsos (alguns
traziam faixas pedindo pela volta dos militares ao poder). Após sentirem
na pele, nos olhos e no nariz os efeitos do gás, mudaram de opinião.
Uma senhora gritou para os policiais: “Vocês não têm filhos não?”.
Ao longo desses três meses de protestos foram centenas de
situações em que a falta de equilíbrio emocional ficou evidente. Garotos
tiram do sério profissionais que deveriam ser altamente capacitados
para não saírem do sério.
O deboche do capitão Bruno lançando gratuitamente spray de
pimenta em Brasília mostrado em vídeo (“Porque eu quis. Pode ir lá e
denunciar, tá bom? Capitão Bruno, BP Choque”), é apenas mais um. Não é
guerra. Ou é?
A atitude reativa da polícia contribuiu em muito para o
estágio ao qual os protestos chegaram. A cada manifestação, reprimem com
violência descabida e muitas vezes desproporcional, o que traz mais
revolta por parte dos manifestantes na oportunidade seguinte. Não
chegava a uma dúzia o número de mascarados que acompanhavam as passeatas
de junho. Menos de três meses depois o exército mascarado cresceu em
proporção geométrica. A pauta, quando existe, passou a ser mero
pretexto. Tornou-se um ciclo vicioso que precisa ser interrompido com
competência, planejamento e maturidade por quem exerce apenas e tão
somente essa função: eliminar conflitos. E não alimentá-los.
Não cabe o argumento de que a polícia, por remunerar mal,
só arregimente pessoas nas classes mais baixas da sociedade, de pouco
estofo cultural e instrução precária sedimentada. No livro “Inteligência
Emocional”, o psicólogo e PhD Daniel Goleman diz que não existe
correlação entre esses dois mundos. A inteligência acadêmica nada tem a
ver com a emocional. A polícia deveria possuir um departamento de RH de
fazer inveja às empresas mais evoluídas nesse sentido.
Uma pesquisa na página de uma rede social do policial
T.A.S.C. demonstra um perfil psicológico conturbado. Num post ilustrado
com a foto de um radar de velocidade lê-se: “Atenção manifestante
vândalo, se for destruir algo, que seja o radar”, ao qual ele comenta:
“kkkkkk”. Dois outros comentários referem-se ao MC Daleste, assassinado
recentemente: “Foi tarde, FDP. Bandido bom é Daleste morto” e “kkkk…
rachei, tiro certeiro!!!”.
Durante o mês de junho, no auge das manifestações, o
policial reproduziu uma reportagem da CNN a respeito dos protestos (“O
que a imprensa brasileira se nega dizer para o povo, a CNN falou por
ela”, grifou), realçando que o país vivencia um amplo colapso de
infraestrutura, com problemas em transporte público, saúde e educação.
Não eram só os 20 centavos. Sobretudo, o longo texto alardeava em seu
final: “Não é uma rebelião adolescente.”
Como pode alguém engajar-se numa luta muito mais abrangente
do que 20 centavos e ao mesmo tempo incitar a depredação de radares?
T.A.S.C. parece ter visto algum sentido nas reivindicações. Mas fazer o
trabalho dele, nem pensar.
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