Após uma fase de sérias dificuldades financeiras, a Indústria de
Material Bélico do Brasil (Imbel), fabricante armamentos vinculada ao
Ministério da Defesa, acredita estar perto da virada.
A empresa começou a
produzir o novo modelo de fuzil que espera ser o escolhido pelos
militares para substituir parcialmente os FAL 7.62 que estão nas mãos
das três forças. O ministério fala em trocar 10 mil fuzis por ano a
partir de 2014.
O
negócio também interessa à fabricante gaúcha de armas Forjas Taurus. A
Imbel, no entanto, está num estágio mais avançado do que a concorrente
do Sul. Mil e quinhentos Imbel A2 - ou apenas IA-2 calibre 5.56 - já
foram fabricados para testes militares e a empresa afirma que a
capacidade de produção da maior de suas cinco fábricas, em Itajubá, sul
de Minas Gerais, é suficiente para atender à toda futura demanda da
Defesa.
Para fazer parte do cardápio de compras das Forças Armadas, o IA-2
precisa ainda passar por uma última etapa da burocracia militar: o
termo de adoção, o que a Imbel calcula que será emitido em breve.
Um contrato de 10 mil fuzis IA-2 envolveria um valor aproximado de
R$ 55 milhões, disse ao Valor o diretor industrial da empresa, o
coronel da reserva Alte Zylberberg. "Esse fornecimento representaria a
estabilidade da fábrica de Itajubá no mínimo por dez anos; e a
estabilidade de Itajubá é a estabilidade da Imbel e a possibilidade
continuidade de recuperação."
A Imbel viveu anos conturbados, com alto endividamento e atrasos
sucessivos nas entregas (veja reportagem ao lado). A empresa vem se
reequilibrando e este ano a previsão é faturar R$ 105 milhões - isso se
os contratos que espera ainda fechar nos próximos meses sejam
concretizados. Se isso não ocorrer, a previsão é que o faturamento fique
em R$ 67 milhões, disse Zylberberg, pouco mais do que os R$ 65 milhões
de 2012.
A Imbel define o IA-2 como o primeiro fuzil nacional. Foi
desenvolvido por sua equipe de engenheiros e usa componentes do belga
FAL e do americano M16. A arma passou por testes militares do Exército,
Marinha e Aeronáutica. Isso significa que soldados já saltaram com ele
de paraquedas, o usaram para tiros submersos, o testaram em ambientes
tomados por poeira, em campos frios do Sul e na umidade e calor da
Amazônia.
"A expectativa da Imbel é que parte dos FAL 7.62 [usado pelas
Forças Armadas] seja substituída pelo IA2 5.56, que é mais leve,
compacto e moderno; e que parte seja convertida no IA2 7.62 [uma versão
mais moderna que a Imbel faz aproveitando a arma antiga] e que com isso
se abra, principalmente, o mercado sul-americano", disse Zylberberg.
"Temos vários países na expectativa. Já existem conversas. Estou
protelando uma viagem a um país da América do Sul com negócio
praticamente fechado. Existem várias consultas." Fora da região, a Imbel
recebeu proposta de compra da Arábia Saudita.
Da mesma família do novo fuzil, a carabina IA-2 está em uso há
dois anos por policias militares e civis no Brasil e mais 15 mil
unidades foram vendidas, diz Zylberberg.
A Imbel tem uma longa história como fabricante do fuzil FAL no
país. Além de ter suprido as Forças Armadas do Brasil, vendeu a arma
para mais de 20 países na América do Sul, América Central e África. O
FAL, concebido no pós-Segunda Guerra pela belga F. N. Herstal, foi um
fuzil de sucesso mundo afora. Quase 100 países o empregaram. Mas
lentamente foi perdendo espaço para um fuzil originalmente americano,
calibre 5.56. Hoje é esse o calibre padrão dos países que integram a
OTAN e usado por outros fora da aliança, como o Brasil.
A expectativa do Ministério da Defesa, segundo a assessoria de
imprensa, é adquirir cerca de 10 mil novos fuzis por ano. Para isso, o
Congresso precisa aprovar um plano de modernização das forças que está
em tramitação e é preciso orçamento. O ministério estima que a partir de
2014, comece, pelo Exército, a substituição parcial dos 200 mil fuzis
das forças de Defesa.
Ainda segundo o ministério, só o IA-2 atende aos requisitos
operacionais básicos (ROC), um novo critério criado em 2012 pelo governo
para habilitar produtos para serem adquiridos pelas três forças. Mas,
ainda segundo o ministério, há a possibilidade de que a Taurus também
apresente um fuzil.
"A Forjas Taurus pretende produzir um fuzil de assalto chamado FAT
556, equivalente ao M4, um dos fuzis mais modernos do mundo. Este
produto é de uso exclusivo para as Forças Armadas e está em fase de
apostilamento pelo Exército", disse a empresa. O apostilamento é um
conjunto de testes feito pelo Exército pelo qual um armamento precisa
passar para poder ser comercializado. Além de oferecer às Forças
Armadas, a Taurus diz que pode exportar o fuzil.
Fonte: Valor Econômico/ Free ilustration by: militanciaviva!
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