O filme a que vocês podem assistir na janelinha abaixo, Treze dias que abalaram o mundo (d. Roger Donaldson, 2000), está longe de ser uma obra-prima.
É basicamente correto, com as limitações de praxe das produções de
Hollywood, como algumas simplificações/distorções históricas, um enfoque
um tanto heroicista e o destaque excessivo que dá ao assessor de
imprensa de John Kennedy, Kenny O'Donnell (Kevin Costner), que não
estava com essa bola toda.
Mas, o episódio que focaliza é extremamente importante e o cinema de
entretenimento evita destacá-lo (claro!) para não despertar o cidadão
comum de sua letargia esplêndida. Daí eu recomendar que todos (re)vejam o
filme e reflitam sobre ele.
Há meio século, a insânia das potências ameaçou reduzir a humanidade a
pó; e nada nos garante que o perigo esteja definitivamente afastado.
Então, jamais devemos esquecer a crise dos mísseis cubanos.
O mês é outubro e o ano, 1962. Em todos os países há pessoas com o
ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à
beira do pânico.
Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações
as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki, quando mais
de 200 mil seres humanos foram imolados, parte instantaneamente, parte
após lenta e terrível agonia.
Havia concreta possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.
A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que
os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba,
despachou uma frota que o tentaria romper.
Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da
guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo
suficiente para exterminar a espécie humana.
Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas
negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca
os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em
que construíram sofregamente abrigos nucleares em suas casas.
A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.
Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis
similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a
nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e
exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos
Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a
exibirem também o muque.
Kruschev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada
dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as
contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou
em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.
De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos
sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação
telefônica direta (o famoso telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.
Fonte: Náufrago da Utopía
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