Mais de 30 anos depois da última apresentação ao vivo, o Monty Python
anunciou que voltará aos palcos. O lugar será a O2 Arena, em Londres,
com lotação de 20 mil pessoas. Os ingressos, encomendados pela Internet,
se esgotaram em 43 segundos.
Por causa da demanda, mais quatro datas foram marcadas. Tudo para
julho de 2014. John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones e
Michael Palin vão reinterpretar os números mais conhecidos (Graham
Chapman, que pelejou por anos com o alcoolismo, era gay e morreu de
câncer em 1989). Não têm tempo ou energia para criar nada novo. E quem
quer isso? Sabem que o que o público espera mesmo são os clássicos.
Qual a razão do sucesso?
Bem, antes de qualquer coisa, o Monty Python é bom. Simples assim.
Nada dura tanto tempo se não tiver qualidade. Não houve algo parecido,
não há e, provavelmente, não haverá. Entre 1969 e 1974, estrelaram o
programa Monty Python Flying Circus. Conseguiram transferir a graça para
o cinema. “Em Busca do Graal” e “A Vida de Brian” entram fácil numa
lista de melhores comédias da história. “O Sentido da Vida” não.
Toda a melhor comédia atual foi influenciada por seu estilo anárquico
e surrealista. Dos Simpsons a South Park, passando pelo Saturday Night
Live. No Brasil, com boa vontade, você pode dizer que a turma do TV
Pirata e do Porta dos Fundos carrega-os no DNA. Legaram ao mundo, de
quebra, o termo “spam”, originário de um esquete. São chamados de
Beatles do humor. George Harrison, aliás, os adorava foi produtor deles.
Com quatro integrantes formados em Oxford e Cambridge, não é de
estranhar que fizessem coisas cabeçudas. O jogo de futebol entre
filósofos é uma maravilha.
O forte era o absurdo, o nonsense. O homem
que devolve um papagaio porque ele está morto (inicialmente, a ideia
era que fosse uma tostadeira quebrada). E ainda tinha o humor físico das
“caminhadas tolas”. E o sujeito que cria a piada mais engraçada do
mundo, mas morre de rir.
Dava para ficar horas falando dos quadros dos caras. Mas, na minha
opinião, o momento definidor de sua grandeza é outro: o enterro de
Chapman. A trupe já se havia desfeito, com mágoa e a habitual troca de
ofensas.
Todos eles subiram ao púlpito para prestar um tributo. Cleese, o
mais talentoso, que dividia a liderança com Chapman, o menos engraçado,
abriu os trabalhos com um discurso em homenagem ao amigo.
O funeral foi televisionado. Cleese aproveitou e lembrou que Chapman
faria questão que ele fosse a primeira pessoa a falar “fuck” ao vivo na
TV Batata.
Graham Chapman, co-autor do “Esquete do Papagaio”, não existe mais.
Deixou de ser, partiu desta para melhor, descansa em paz, esticou
as canelas, bateu as botas, nos deixou, foi-se, deu seu último suspiro e
foi ter com o “Poderoso Chefão do Entretenimento do Céu”.
E acho que
estamos todos pensando que é muito triste que um homem com tanto
talento, tanta capacidade e bondade, tanta inteligência, tenha nos
deixado com apenas 48 anos, antes de ter conquistado muitas das coisas
de que era capaz, e antes de ter se divertido o suficiente.
Bem, eu sinto que devo dizer algo sem noção como: já vai tarde, otário, espero que queime no inferno.
E a razão pela qual sinto que devo dizer isto é que ele nunca me
perdoaria se eu não o fizesse, se eu desperdiçasse esta oportunidade de
chocar vocês em nome dele.
John Cleese em cena de "Monty Python e o sentido da vida" |
Fecharam o memorial com o hino do humor negro: “Always Look On The
Bright Side of Life”, que toca no final de “A Vida de Brian”, quando o
personagem-título está na draga, crucificado entre dois ladrões.
Talvez essa dimensão humana seja o que diferencie o Python. Somadas,
as idades dos velhinhos bate em 357 anos.
Avisaram na coletiva de
imprensa que haverá um plantão médico. O título provisório do show é “Um
já foi, faltam cinco”. Até julho, trabalham com a alternativa “Dois já
foram, faltam quatro”.
DCM /Free ilustartion by: militânciaviva!
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