Hoje
celebra-se o 96º aniversário da Batalha de Negumano (25 de Novembro de
1917), um dos vários confrontos em que o exército português se envolveu
em África contra o exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial.
Foi uma derrota pesada. Como se pode perceber pela leitura do mapa
acima, no mês anterior as colunas alemãs (representadas a verde)
haviam-se defrontado com um grande destacamento britânico (a vermelho)
desembarcado em sua perseguição e haviam-no derrotado na Batalha de Mahiva
(15 de Outubro de 1917). Fora uma humilhação para os britânicos que
puseram em campo mais do triplo dos efectivos dos alemães, mas a vitória
teve também algo de pírrico para os alemães, que haviam consumido no
combate quase todas as suas munições e que, isolados da Metrópole, se
debatiam com o enorme problema logístico de não as conseguir substituir.
O comandante alemão, Paul von Lettow-Vorbeck (1870-1964, foto abaixo),
uma verdadeira raposa da savana,
resolveu evadir a pressão que as várias colunas britânicas procuravam
exercer sobre as suas próprias tropas, abandonando o seu território de
origem (a colónia alemã do Tanganica), sem quaisquer pretensões de o
defender e invadindo pelo Norte a vizinha colónia portuguesa de
Moçambique.
Do lado de cá da fronteira, ali constituída pelo rio Rovuma,
os portugueses haviam montado um dispositivo de defesa, mas com as suas
companhias espalhadas ao longo do rio, ignorando-se o local por onde é
que os alemães pretenderiam atravessar. Depois de certamente ter feito
os seus reconhecimentos, Von Lettow-Vorbeck escolheu atravessar o Rovuma
na extremidade ocidental do dispositivo português e atacar a unidade
portuguesa que estava mais isolada para o interior, em Negumano, junto à
confluência do Rovuma com o seu afluente Lugenda.
Desta vez os alemães atacaram em superioridade numérica, muito embora a
falta de munições deva ter afectado o seu poder de fogo. Há um
contraste notório entre a descrição da batalha feita a partir de fontes
britânicas, severamente crítica, e a feita a partir de fontes portuguesas, muito mais indulgente.
O destacamento português bem podia ser comandado por João
Teixeira-Pinto (1876-1917, foto abaixo), um oficial experiente que
mostrara todo o seu valor nas Campanhas de África (embora na Guiné).
Numa guerra que daquela vez era equilibrada, ele não conseguiu evitar o
envolvimento táctico das suas forças, e acabou por se deixar matar à
frente delas no sucedâneo trágico mais próximo da glória que um chefe
militar pode obter perante uma derrota.
Porém,
não foi um sacrifício que tivesse galvanizado as tropas pelo exemplo.
Quando a batalha terminou haviam morrido 5 oficiais, 14 soldados brancos
e 208 africanos; havia ainda 70 feridos e 550 prisioneiros, dos quais
31 eram oficiais; estima-se que cerca de 300 soldados haviam conseguido
evadir-se. Do lado alemão, provavelmente com algum exagero,
confessavam-se apenas 2 europeus mais 6 soldados indígenas mortos. Se
aqui evoco o episódio desta morte heróica desconhecida de um herói
colonial relativamente conhecido (abaixo, a estátua que lhe foi erigida
no período colonial na Guiné, hoje naturalmente desaparecida) é para
relativizar a importância que se costuma atribuir a estas mortes
heróicas. Raros são os casos em que elas têm uma verdadeira importância
militar – de memória, só me lembro do caso de Martim Moniz que não
deixou que a porta do castelo de Lisboa se fechasse… E sobretudo
dependem muito mais da conjuntura política e moral do que das
circunstâncias em que ocorreu a morte. Diante de uma massa amorfa
desencorajada de subordinados ninguém consegue motivar ninguém a nada.
Nem mesmo com o exemplo do seu sacrifício último. Imagine-se lá com o atual governo, que nem sequer a isso se dispõe…
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