A dois dias da instalação da
Comissão da Verdade, o Movimento Levante Popular da Juventude promoveu mais uma
rodada de esculacho a torturadores e agentes da repressão da ditadura em vários
pontos do país. Foram onze mobilizações ocorridas em 11 estados, incluindo Rio,
Bahia e Minas Gerais. Oito agentes foram “esculachados”. Uma das manifestações
ocorreu no Guarujá, em frente à casa do tenente-coronel da reserva Maurício
Lopes Lima, um dos algozes de Dilma Rousseff no Doi-CODI.
Em Belo Horizonte,
o alvo do esculacho foi João Bosco Nacif da Silva, médico-legista da Polícia
Civil da ditadura, que teria atestado um laudo médico de suicídio para um
prisioneiro torturado em uma delegacia da capital mineira em 1969. Nacif da
Silva tentou agredir os manifestantes, o que motivou o encerramento precoce do
ato.
O grupo também promoveu manifestação em frente à residência do general
da reserva José Antônio Nogueira Belham, denunciado como torturador do
militante Rubens Paiva. Belham, que mora na zona sul da capital fluminense, foi
o chefe do DOI-CODI do Rio durante a ditadura.Na capital
baiana, quem recebeu o esculacho foi Dalmar Caribé, cabo do Exército acusado de
ser um dos responsáveis pelos assassinatos dos militantes Carlos Lamarca e
Zequinha Barreto. Em Recife, o desembargador aposentado Aquino de Farias Reis,
ex-delegado do DOPS também foi alvo de manifestação.
No mesmo dia, sete militares
da reserva que integram o Clube Naval no Rio, liderados pelo almirante Tibério
Ferreira, anunciaram que irão se reunir para formar uma “Comissão Paralela da
Verdade”. Eles querem agir como uma Shadow
Comission para prestar assessoria jurídica aos militares que,
eventualmente, prestem depoimento à Comissão. É inacreditável como esses caras
fazem de tudo para responsabilizar a instituição Forças Armadas pelos crimes
dos facínoras da ditadura...
Enquanto isso, a Comissão da
Verdade parece que já começa a incomodar. Na segunda-feira, a mídia conservadora
dizia que a Comissão já nascia com divergências sobre o escopo de seu trabalho.
De acordo com a Folha de S, Paulo, o ex-ministro José Carlos Dias disse que a
Comissão iria investigar crimes cometidos “pelos dois lados”. Hoje, contudo, a
nuvem se dissipou, com vários de seus membros afirmando que a comissão foi
criada para descobrir as circunstâncias de violações de direitos humanos
cometidos por agentes do Estado. “Nenhuma comissão tem essa bobagem de dois
lados”, disse o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, um dos indicados. “O outro
lado (o dos guerrilheiros e presos políticos) já foi suficientemente condenado,
assassinado, desaparecido”, concluiu. Em declaração ao jornal O Globo, José
Carlos Dias, por sua vez, disse que tinha sido mal interpretado. A declaração
sobre os “dois lados” tinha saído na Folha.
O diplomata Paulo Sérgio Pinheiro |
O curioso é que o Globo
publicou esse desmentido internamente, sob um título “Não tem dois lados, o
outro foi assassinado”, enquanto a chamada de capa crava: “Comissão da Verdade
já se divide sobre foco”. Ora, não há nem nunca houve nenhuma discussão sobre o
foco da Comissão, porque, como lembrou o Paulo Sergio Pinheiro em entrevista ao
Estadão de hoje, seu papel está definido na lei que a criou: “investigar as
violações de direitos humanos esclarecendo as circunstâncias em que ocorreram,
bem como os casos de tortura, morte, desaparecimento forçado, ocultação de
cadáver e sua autoria, ainda que no exterior”.
Teremos uma longa e penosa batalha
pela frente...
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