O
torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um dos comandantes da
fracassada operação terrorista de agentes da repressão política que,
insatisfeitos com a distensão do ditador Ernesto Geisel, tentaram
explodir três bombas para criar pânico durante uma apresentação de Chico
Buarque e outros músicos famosos no Riocentro, em homenagem ao Dia do
Trabalhador de 1981.
O objetivo era inculpar a esquerda pelo atentado, como forma de
convencer Geisel de que os DOI-Codi's e outros centros de tortura
continuavam sendo necessários e não deveriam ser desativados.
Quem confirma é um ex-delegado do Dops que virou pastor evangélico e agora sente remorsos dos crimes que praticou ou testemunhou, Cláudio Antônio Guerra.
Ele deu depoimentos aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, cujo Memórias de uma guerra suja está sendo lançado pela editora Topbooks. O portal Último Segundo antecipou vários trechos do livro--vide aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Quem confirma é um ex-delegado do Dops que virou pastor evangélico e agora sente remorsos dos crimes que praticou ou testemunhou, Cláudio Antônio Guerra.
Ele deu depoimentos aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, cujo Memórias de uma guerra suja está sendo lançado pela editora Topbooks. O portal Último Segundo antecipou vários trechos do livro--vide aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
"Participei do atentado ao Riocentro e fiz parte das várias equipes que tentaram provocar aquela que seria a maior tragédia, o grande golpe contra o projeto de abertura democrática.
O destino daquela bomba era o palco. Tratava-se de um artefato de grande poder destruidor. O efeito da carga explosiva no ambiente festivo, onde deveriam se apresentar uns oitenta artistas famosos, seria devastador. A expansão da explosão e a onda de pânico dentro do Riocentro gerariam consequências desastrosas. Era evidente que muitas pessoas morreriam pisoteadas.
Aquela bomba [que estourou por engano no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário] era uma das três que deveriam explodir no show. O capitão Wilson [Luís Chaves Machado] estacionou o veículo embaixo de um fio de alta tensão e a carga elétrica desse fio, a energia que passava em cima do Puma, fechou o circuito da bomba, provocando a explosão. O erro foi do capitão. (...) Eu era especialista em explosivos".
- o coronel de Exército Freddie Perdigão, do SNI;
- o comandante Antônio Vieira, do Cenimar;
- e o então coronel Brilhante Ustra, do DOI-Codi paulista.
Em seguida, Guerra e sua equipe deveriam prender os esquerdistas a serem responsabilizados pelo atentado:
"Fui para lá com uma lista de nomes. (...) Mas deu tudo errado. Com a explosão da bomba no Puma, os militares policiais civis e os policiais civis que levavam outras duas bombas abortaram a operação".
Guerra revela que haviam sido suspensos todos os serviços de apoio do
Riocentro, incluindo o policiamento e a assistência médica, para que não
houvesse socorro imediato às vítimas. Até as portas de saída foram
trancadas e, nas placas de trânsito, picharam a sigla da extinta VPR,
para que parecesse ser um atentado da esquerda.
DELEGADO FLEURY, UM "ARQUIVO QUEIMADO".
SÓ O PERCIVAL DE SOUZA NÃO SABIA...
De resto, quem acompanha este blogue não terá sido surpreendido por nenhuma das ditas revelações bombásticas do livro.
Nem a de que resistentes foram executados e tiveram seus restos mortais incinerados, nem a de que o delegado Sérgio Fleury (e também o jornalista Alexandre Von Baumgarten) foi vítima de uma queima de arquivo. É o que eu sempre disse.
Quando a luta armada acabou, Fleury e outros rapinantes viram evaporarem duas fontes de vultosos ganhos adicionais: a divisão de tudo que apreendiam com os militantes e as gratificações de empresários fascistas.
Os torturadores da PE da Vila Militar (RJ) resolveram compensar as perdas achacando contrabandistas, depois tentaram até tomar deles uma carga mais valiosa, mas o episódio acabou em tiroteio e no desmascaramento dos bandidos fardados.
Já Fleury, bandido à paisana, desesperou-se com a falta de fundos para sustentar o vício na cocaína e chantageou seus ex-patrocinadores ricaços, ameaçando revelar o que sabia sobre eles: não só o financiamento de práticas hediondas, mas também a participação voluntária de alguns deles nas torturas.
Reaças, canalhas e tarados, eles tomaram as providências cabíveis para manterem escondidas suas vergonhas. Onde já se viu dono de barco morrer afogado?
Percival de Souza que me desculpe, mas 2+2 continuam sendo 4. Então, desde sempre eu contava esta história como minhas fontes me relataram. E o delegado arrependido confirma agora a veracidade do que sempre afirmei:
"Fleury tinha se tornado um homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria. E exorbitava. (...) Nessa época, o hábito de cheirar cocaína também já fazia parte de sua vida. Cansei de ver.
....Dias depois [de Guerra ter começado a vigiá-lo, buscando detectar uma oportunidade para o assassinarem] os planos mudaram, porque Fleury comprou uma lancha. Informaram-me que a minha ideia do acidente seria mantida, mas agora envolvendo essa sua nova aquisição – um ‘acidente’ com o barco facilitaria muito o planejamento".
Segundo Guerra, Fleury foi dopado e ainda atordoaram-no com uma pedrada na cabeça, antes de o atirarem no mar.
Por último: quanto aos dez companheiros massacrados e sumidos pelas bestas-feras da repressão, os casos eram igualmente notórios; só se acrescentaram detalhes, reavivando nossas feridas.
Por último: quanto aos dez companheiros massacrados e sumidos pelas bestas-feras da repressão, os casos eram igualmente notórios; só se acrescentaram detalhes, reavivando nossas feridas.
Prefiro lembrar-me do sempre sereno Joaquim Pires Cerveira cantando seus
sambas para nos animar durante o calvário no DOI-Codi carioca e do
jeito ingênuo de garotão que o Bacuri exibia nos seus bons momentos.
Fonte: Náufrago da Utopia
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