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Não satisfeito em
tolerar, placidamente, que o Brasil conviva com uma situação na qual os
serviços de telecomunicações são campeões de reclamações e ostentem, ao mesmo
tempo, as mais altas tarifas do mundo para países do porte do nosso, o governo
federal, por meio do ministro Paulo Bernardo, prepara-se agora para tirar as
castanhas do fogo para empresas estrangeiras também na televisão a cabo.
A pedido do setor, o governo
pretende, em nome da “isonomia”, passar a taxar empresas que distribuem filmes
pela internet (o que configura um tipo de serviço totalmente diferente),
aumentando o preço para o consumidor, ou inviabilizando seu acesso a sites que
lhe permitem pagar uma pequena taxa mensal e escolher quando e que filme,
programa, ou documentário ver, em nosso idioma.
Quer dizer que — em uma
espécie de censura econômica — o mesmo governo que não teve peito para
investigar o esquartejamento da Telebrás e a desnacionalização das
telecomunicações (que expôs o país à espionagem de empresas estrangeiras),
responsável pela sangria de bilhões de reais, todos os anos, em remessa de
lucros para o exterior, vira bicho na hora de defender os interesses de
multinacionais em detrimento do cidadão brasileiro, apesar de já ter derramado,
durante anos, bilhões de dólares em empréstimos a custo subsidiado do BNDES, e
outros bilhões de dólares em isenção de impostos para multinacionais
estrangeiras que operam nessa área no Brasil.
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Ora, quem não tem
competência não se estabelece. Qualquer uma das empresas que operam com TV a
cabo no Brasil pode distribuir filmes e vídeos pela internet a qualquer
momento, já que dispõe de tecnologia e capital para isso, operando de terceiros
países, sem pagar, como fazem outras empresas, impostos no Brasil.
O problema não é oferecer o
mesmo serviço — mais barato e melhor estruturado — para o consumidor brasileiro
mas, sim, manter a autêntica reserva de mercado em que se configurou o mercado
nacional de TV a cabo, com a mesma programação e os mesmos repetitivos pacotes,
oferecidos por todas as operadoras, a um preço muitíssimo superior ao que pagam
usuários de outros países.
No lugar de estar preocupado
com a situação das empresas de TV a cabo no Brasil, altamente lucrativas, o
governo federal e o ministro Paulo Bernardo deveriam (o que inclui o governo
Lula) estar trabalhando há anos para rever a criminosa Lei Geral de
Telecomunicações (alguém sabia que hoje nem todo orelhão precisa completar
ligações interurbanas, e que não existe prazo mínimo definido para o corte de
serviço de internet em caso de atraso de pagamento da conta?); para exigir das
empresas que cumpram seus compromissos quanto à qualidade e universalização;
para verificar a situação dos Sistemas 3G e 4G no país, que estão uma vergonha,
e quanto à TV a cabo, assegurar que o conteúdo “nacional” previsto seja mesmo
nacional, do ponto de vista cultural, e não apenas uma mera reprodução, feita
aqui dentro de programas e conceitos estabelecidos lá fora; incentivar a
criação de novos canais brasileiros voltados para a valorização do país, como
nas áreas de defesa, tecnologia e história, por exemplo; e monitorar o farto
material que, sob o disfarce de documentários, tem sido exibido por canais
norte-americanos, fazendo proselitismo e defesa da doutrina externa e de
segurança dos EUA, principalmente quanto a temas como o 11 de Setembro, o
"combate ao terrorismo” ou o envolvimento daquele país no Iraque e no
Afeganistão, por exemplo. É preciso dar um tempo nessa desabalada defesa de
interesses privados e multinacionais, e pensar um pouco em nosso próprio país e
no consumidor brasileiro.
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