Existe o argumento de que os Estados Unidos, através de sua ajuda de
US$ 1,3 bilhões por ano para o Egito, mantêm uma influência sobre os
militares. Também dizem que este dinheiro favorece a paz entre egípcios e
israelenses. Mas estes dois argumentos não se sustentam mais.
Tanto a administração de Barack Obama, do Partido Democrata, quanto os dois mais importantes senadores republicanos na área de política externa, John McCain e Lindsey Graham, tentaram convencer o regime do General Sisi, no Egito, a evitar uma ação violenta contra a Irmandade Muçulmana. Infelizmente, fracassaram.
O General Sisi realizou um massacre
superior a qualquer ação de Bashar al Assad antes da Guerra Civil da
Síria, no primeiro semestre de 2011. Na época, um ataqueque matou 20 foi
considerado repudiante. No Egito, segundo números do próprio regime
militar do Cairo, são mais de 500 mortos. Este valor equivale ao de
vítimas de 20 anos de regime militar no Brasil. Isto é, um dia igual a
20 anos.
A paz com Israel tampouco está
garantida. O ex-presidente Mohammad Morsy, atualmente preso pelo regime
de Sisi embora não tenha cometido nenhum crime, garantiu mais a
estabilidade do que o atual regime e do que Hosni Mubarak. Isso mesmo.
Atualmente, o Sinai é terra de ninguém e
com presença da Al Qaeda. Mubarak foi incapaz de evitar um conflito
entre Israel e Hamas em Gaza em 2008-09. Morsy conseguiu negociar um
acordo no ano passado, convencendo o grupo palestino a aceitar uma
trégua com os israelenses.
Por este motivo, os EUA deveriam suspender a ajuda militar ao Egito até o general Sisi concordar em levar adiante uma transição real para a democracia, com a inclusão da Irmandade Muçulmana no processo. O Nobel da Paz Mohammad El Baradei, que vergonhosamente integrava esta ditadura militar, percebeu seu erro e renunciou ao fictício cargo de primeiro-ministro.
Que fique claro, Sisi é popular, assim como Assad é popular e Pinochet era popular.
Note que não defendo a Irmandade
Muçulmana. O grupo errou quando estava no poder, chegando a desrespeitar
instituições democráticas, e viu protestos de milhões de pessoas. Mas
suas manifestações, até ontem, eram majoritariamente pacíficas e com um
argumento louvável – a libertação de Morsy, eleito presidente
democraticamente.
Lamentável também é o incêndio de Igrejas, embora não esteja claro quem sejam os responsáveis.
Por Guga Chacra no Estadão
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