Ela pode não ser o Capilé de saias, mas a transparência faria bem à sua candidatura.
Marina Silva, candidata à presidência em 2014, tem um problema
parecido com o de Pablo Capilé, o líder do Fora do Eixo: falta de
clareza. Inclusive clareza de propósito. A ligação do coletivo com ela é
notória, não é recente e nenhum dos dois lados nunca tentou esconder
isso. Existe uma afinidade eletiva.
Como Capilé, Marina é dona de uma fala elíptica e repleta de jargões
que, eventualmente, não juntam lé com cré. E, na hora de pôr em prática
conceitos caros a esse discurso, como a transparência, o caldo dá uma
entornada.
Em entrevista à Folha, ela não admite que é candidata. “Digo que não
estou no lugar de candidata, que a candidatura é uma possibilidade”,
disse. Qual o problema em admitir que concorre ao pleito em 2014?
Mistério.
Quando perguntada sobre a relação próxima com o economista André Lara
Resende, membro da equipe criadora dos planos Cruzado e Real, joga a
bola no colo de Lula. “Se Lula fosse se preocupar em ter ouvido uma
série de pessoas que já deram contribuição em vários governos, ele não
seria hoje o grande admirador do Delfim [Netto] que ele é”. Sobre o Fora
do Eixo e a Mídia Ninja e o Fora do Eixo, afirmou que “o que merece
reparação deve ser reparado. Se tem que algo a ser investigado, tem de
ser investigado.”
Marina está tentando homologar o registro de seu partido, a Rede
Sustentabilidade, junto ao TSE. Não se chegou ao número necessário de
assinaturas. Das 850 mil que se alega ter amealhado, apenas 250 mil
seriam válidas. Até agora, calcula-se que os gastos nesse processo foram
de 800 mil reais. Quem pagou a conta?
Mistério. O Estadão perguntou e ouviu que “são centenas de doadores
financeiros que contribuíram com os gastos até o momento e milhares de
pessoas que doaram seu tempo, em coleta de assinaturas, em processamento
e relação com cartórios. Empresários, intelectuais, profissionais
liberais, jornalistas, estudantes e donas de casa estariam entre as
pessoas que se dispuseram a bancar o movimento”.
Walter Feldman com o chefe político,José Serra |
O deputado Walter Feldman (PSDB-SP), um dos “articuladores” da Rede,
disse o seguinte: “Tudo que é movimento de caráter político tem de ter
divulgação de números, de gastos. A Rede quer fazer isso de maneira
total, até antes de ser criada.” Sobre Feldman: o que um pessedebista
está fazendo como articulador da fundação de outro partido? Não é o
mesmo Feldman que, no ano passado, atuou como coordenador da campanha de
José Serra à prefeitura, batendo em Haddad porque era “uma mistificação
de que o novo pode ser melhor”? Aquele Feldman que estaria por trás do
dossiê contra Gabriel Chalita?
Marina foi adotada por artistas como Adriana Calcanhoto, Nando Reis,
Arnaldo Antunes e o óbvio Wagner Moura — que a vê como “um avanço para o
Brasil”. Apareceu bem nas pesquisas depois das manifestações. Uma
alternativa ao status quo.
Pablo Capilé |
Como Pablo Capilé, Marina tem alguns traços idiossincráticos que
muitos acham que é carisma. Além de um certo messianismo, seus
correligionários sabem que ela não pode ser incomodada na hora do jejum
religioso, por exemplo. Ela é fiel da Assembleia de Deus e não esconde
isso de ninguém. Mas tirar de MS uma posição clara e límpida sobre o
aborto ou as drogas, por exemplo, é complicado. Mais fácil entender a
explicação de Capilé de como funcionam a “capilaridade” e os “fluxos de
metodologia” de sua organização.
Transparência não é uma palavra oca. Uma coisa, ao menos, parece certa: quem está financiando a Rede não está usando CuboCards.
Por Kiko Nogueira no DCM
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