Joaquim Barbosa critica a justiça como se não tivesse responsabilidade nenhuma por ela ser o que é
Uma das coisas que mais me irritam é alguém se queixar de alguma
coisa que esteja sob seu comando, como se tivesse a impotência do
porteiro.
Vi isso muitas vezes na minha carreira. O cara comanda uma empresa ou
um departamento e faz críticas como se não tivesse nada a ver com nada.
Seria como se eu, aqui, reclamasse do espírito e dos textos do DCM.
É bizarro o que estou narrando, mas é comum, e imagino que você já tenha visto muita coisa parecida em sua vida.
Veja Joaquim Barbosa, presidente do Supremo. Numa reunião promovida
pela revista Exame, ele insultou a justiça brasileiro como se fosse
contínuo do Supremo, e não presidente.
Que ele fez, numa carreira já longa, para mudar alguma coisa entre
tantos problemas que apontou – a maior parte, aliás, acertadamente?
JB disse que a justiça brasileira é a mais confusa do mundo. Ele
comandou, recentemente, um julgamento, o do Mensalão, que foi o triunfo
do caos e da falta de nexo.
Um dia a posteridade há de usar as devidas palavras pejorativas para
falar, por exemplo, da “dosimetria”. Com ares científicos, os juízes
estipularam penas que simplesmente não fazem sentido.
Comentei aqui, já. Marcos Valério recebeu uma pena duas vezes maior –
40 anos – do que a aplicada na Noruega a Anders Breivik, assassino
confesso de dezenas de jovens.
Ainda hoje, li na mídia estrangeira que um tribunal internacional
condenou um antigo ditador africano a 50 anos de prisão por genocídio.
Mais um pouco e Valério teria a pena de um genocida.
Um amigo meu, grande jornalista, me contou que um dia acompanhava uma
votação do Mensalão numa padaria, ao lado de algumas pessoas. Um juiz
proferiu sua longa sentença, e ao fim dela um cliente da padaria fez a
pergunta fatal: “Condenou ou absolveu?”
Barbosa criticou a pompa cafona com a qual os juízes se expressam.
Ele já ouviu a si próprio? Ou a Marco Aurélio de Mello, ou a Gilmar
Mendes? Solenes, prolixos, vazios, rebarbativos, patéticos.
JB poderia ter dado o exemplo, e falado em português claro. Na
Inglaterra, o juiz Brian Leveson comandou um inquérito sobre os crimes
da mídia num inglês compreensível para qualquer pessoa alfabetizada.
Acompanhei o caso.
Nada funciona mais que o exemplo pessoal quando você é, como JB, um líder.
Ele tocou em outro ponto: a questão das indicações políticas.
Condenou as articulações que os magistrados fazem para obter altas
posições.
Ora, todos sabemos o que ele fez nesse campo. Incomodou um
alto funcionário do governo Lula no aeroporto de Brasília porque sabia
que Lula procurava um juiz negro para o Supremo. Agiu como um tremendo
cara de pau para praticar politicagem.
É difícil discordar das críticas de JB à justiça. Nenhuma delas é um
erro. Faltou apenas listar outras. Por exemplo, a relação promíscua que
juízes de altas cortes têm com a mídia. Para lembrar o grande editor
Joseph Pulitzer, jornalista não tem amigo. E nem juiz deveria ter. Pior
ainda quando são amigos entre si, a ponto de um dar emprego para o filho
do outro.
Não vou ficar surpreso se um dia JB falar uma coisa dessas, à Pulitzer, como se mantivesse distância olímpica dos jornalistas.
Numa frase que entrou para a história, Gandhi disse que cada um de
nós devíamos ser a mudança que gostaríamos de ver no mundo. É uma frase
que cai melhor em JB do que seus ternos comprados no exterior.
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