(CM)-
A esquerda européia retomou ontem as ruas, em protestos convocados
pelos portugueses, contra a Comissão Européia, o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Central Europeu. Ainda que a grande imprensa e
as autoridades policiais tenham reduzido a dimensão dos atos, eles foram
expressivos. Mas, é natural que tenha sido assim.
Por mais importante sejam os movimentos de massas, eles, por si
sós, não mudam a História. Os protestos são facilmente reprimíveis pela
força policial – a menos que os policiais a eles se adiram, como ocorreu
na Queda da Bastilha, quando a Guarda Civil de Paris armou o povo, na
jornada de 14 de julho de 1789.
O que faz as revoluções é a conjunção entre as idéias bem
organizadas e a ação estratégica dirigida pelos líderes populares.
Quinta-feira, Mário Soares – o veterano intelectual e líder
civil da Revolução dos Cravos, de 1974 – empolgou as forças de esquerda,
ao proferir a aula magna da Universidade de Lisboa. Aos 89 anos, o
ex-presidente e ex-primeiro ministro, fustigou a política de
“austeridade”, exigida pela troica, ou, melhor, pela trinca,
supranacional – o FMI, a Comissão Européia e o Banco Central Europeu -
que está asfixiando a Europa e prejudicando o mundo inteiro.
O velho timoneiro lusitano |
Ao lembrar a Revolução dos Cravos, disse Mário Soares: “Não
podemos deixar que tudo isso seja destruído, que o país seja
desmantelado e vendido a quem pague mais. Essa austeridade nos leva ao
abismo, a ele nos empurra. E tudo, para que? Para enriquecer o mercado. A
crise do euro não é só financeira e económica, é também social,
política, ética e ambiental. O neoliberalismo, a ideologia que provocou a
crise, contra as pessoas e em favor do dinheiro, está morimbunda e não
vai poder perdurar muito”. O auditório, de pé, repetiu, aos aplausos, a
sua frase final: “Contra o medo, e com patriotismo”. Mário pretende
criar nova maioria parlamentar e a queda do governo chefiado por Passos
Coelho.
Mário Soares, ao exigir a queda do governo, pregou a união das
esquerdas e do centro, para recuperar a mensagem da Revolução ocorrida
há 39 anos, e da qual é um dos poucos sobreviventes. Trata-se de
estabelecer um programa comum de ação, a partir de pontos consensuais,
que preservem a democracia e os direitos de todos os cidadãos. A
organização política dos povos massacrados pelo neoliberalismo é o único
caminho para impedir a consolidação da ditadura mundial dos banqueiros
sob um regime fascista. A direita reforça sua posição no mundo, e a
violência dos desesperados, como os atentados recentes de Boston e
Londres, em lugar de enfraquecê-la, fortalecem-na. Estamos vivendo
situação muito semelhante à dos anos 30, que resultou na tragédia dos
campos de concentração e na sangueira da 2ª. Guerra Mundial.
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