Gramsci, "terrorista e assassino", segundo a Veja |
A Veja está se superando, se é que isso é
possível. Na edição deste fim de semana, tentando escapar das suspeitas de que
foi conivente com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a revista atirou
para todo lado e colocou-se na cômoda posição de quem está sendo perseguida por
um governo que pretende “controlar a mídia” – na verdade, o que está em discussão
é o oligopólio dos meios de comunicação, não o conteúdo.
Nas suas diatribes contra a esquerda, o
pasquim de extrema direita dos Civita chegou ao auge da hidrofobia udenista ao
classificar o pensador e dirigente comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937)
como um “terrorista e assassino” igual a Lênin e a Stálin. Fundador do Partido
Comunista Italiano (PCI), Gramsci nunca esteve no poder e passou nove anos nas
masmorras de Benito Mussolini, de onde saiu, debilitado, apenas para morrer aos
46 anos. Ah, mas segundo a Veja, Gramsci, por ser comunista, só poderia ser um “assassino
de idéias”, já que ele defendia a necessidade de se construir uma hegemonia antes
de se conquistar o poder político.
E pensar que esse lixo é distribuído nas
escolas com dinheiro público...
Esse texto da Carta Capital resume a
ofensiva da “revista” contra a web.
A Veja quer censurar a internet
da Carta Capital
A revista Veja tem medo do jogo da velha. O jogo da
velha, no caso, são as hashtags, antecedidas pelo sinal #, para destacar vozes
numa multidão de internautas – bobagens em alguns casos, mobilizações, em
outros.
Para quem diz defender com a própria vida
a liberdade de expressão, é preocupante. Nas 16 páginas desperdiçadas na edição
do fim-de-semana em que tenta se defender, a semanal da editora Abril deixou
claro: para ela, a liberdade de expressão não é um valor absoluto. Tem dono –
ela e o reduzido grupo de meios de comunicação que se auto-qualificam de
“imprensa livre”. Livre de quem? No caso da Veja,
certamente eles não tratavam do bicheiro Carlos Cachoeira, espécie de sócio na
elaboração de pautas da publicação.
Getúlio Vargas valia-se da expressão “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. A revista, em sua peça de realismo fantástico disfarçada de “reportagem”, a reformula: “aos amigos tudo (inclusive o direito de caluniar, manipular e distorcer), aos inimigos a censura. Ou não é isso, ao desferir um golpe contra as manifestações livres na rede e sugerir uma “governança” na internet, que os editores do semanário propõem? Eles tem urticária só de ouvir falar em um debate sobre a regulação dos meios de comunicação. Mas pimenta nos olhos dos outros…
Na própria peça de defesa, Veja distorce. Não foi a revista que
derrubou Fernando Collor de Melo. É uma mistificação que só a ignorância
permite perpetuar. A famosa entrevista do irmão do ex-presidente não teria
resultado em nada. O
que derrubou Collor foi o depoimento do motorista Eriberto França, personagem
descoberto pela rival IstoÉ,
na ocasião dirigida por Mino Carta.
Em termos de desonestidade intelectual, Veja se superou. Ao misturar aranhas, robôs e comunistas, a semanal de Roberto Civita produziu um conto de terror B. Nem se vivo fosse o falecido cineasta norte-americano Ed Wood, famoso por suas produções mambembes, toparia filmar um roteiro parecido.
Além de tudo, a
argumentação cheira a mofo, tem o tom dos anos da Guerra Fria. Quem tem medo de
comunistas a esta altura? Nem na China.
PS: a lanterna na capa do semanário mostra outra coisa: calou fundo na editora o apelido Skuromatic, a lâmpada que provoca a escuridão ao meio-dia, dado a Roberto Civita por jornalistas da antiga redação de Veja.
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