A Comissão da Verdade traz revelações doídas, mas essenciais.
Os brasileiros estão sendo apresentados a relatos brutais de lesa
humanidade ocorridos na ditadura militar, por conta da Comissão da
Verdade.
A historiadora Dulce Pandolf foi cobaia de tortura |
Hoje mesmo, ao depor no Rio de Janeiro, uma professora afirmou ter servido de cobaia numa lição de tortura.
É duro saber essas histórias, mas é essencial.
Elas ficaram, em grande parte, sob o tapete da história, em razão da
Anistia de 1979 – melhor, Autoanistia, uma vez que foi construída pelo
regime que perseguiu, torturou e matou milhares de brasileiros.
Torturadores e assassinos foram torrencialmente beneficiados pela Anistia, e isso só foi bom para eles.
Rever os crimes é vital, e rever a Anistia para que os responsáveis
possam responder por eles é um ato de justiça, não de revanche.
Na Argentina, Videla terminou seus dias na cadeia – e esse tipo de
castigo é importante para que candidatos a golpes militares pensem duas
vezes antes de se aventurarem.
Uma das teses mais falaciosas que correm no Brasil é a de que o que está ocorrendo é uma “tentativa de revanche dos perdedores”.
Perdedores?
O que houve, ao longo da ditadura, não foi uma guerra. Foi um
massacre. A ditadura ceifou a possibilidade de fazer política para a
sociedade e depois, armada e com a retaguarda americana, triturou os que
se insurgiram contra isso.
Combate digno é Waterloo, Trafalgar, Estalingrado, entre forças
equivalentes. No Brasil houve uma chacina covarde a pretexto — pausa
para risadas — de evitar a “dominação comunista”, aspas.
Quantos crimes não foram cometidos no mundo sob esse argumento
cínico? Governos populares e democráticos como o de Mossadegh, no Irã, o
de Arbenz, na Guatemala, e o de Allende, no Chile, foram derrubados sob
essa mentira.
No Brasil, a queda de João Goulart, em 1964, e a dizimação da esquerda, depois, obedeceram à mesma lógica hipócrita.
O Brasil tem muitas tarefas a executar para se tornar uma sociedade
avançada e deixar de ser um dos eternos campeões mundiais de
desigualdade.
Mas, para construir o futuro que todos desejamos, tem também que
enfrentar o passado – e punir crimes que ficaram impunes, até para que
eles não se repitam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário