Fundada no moralismo mais acendrado, a crise política atual permitiu a ampliação de poder
de quatro homens probos, figuras símbolos de um período em que o país purga seus pecados e
consagra os virtuosos.
de quatro homens probos, figuras símbolos de um período em que o país purga seus pecados e
consagra os virtuosos.
Luis Nassif
O
primeiro é Gilmar Mendes, Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Gilmar tem por hábito montar seminários do IDP (Instituto Brasiliense de
Direito Público) contando com patrocínios de grandes grupos com causas
no STF. Nunca se declarou impedido nem de solicitar os patrocínios nem
de julgar as causas.
Mas não o julguem mal por isso. Só um homem extremamente probo - como
ele - pode se dar ao luxo de arrostar o pecado sem pecar. É o Santo
Antão do Supremo.
O segundo é Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Esse é um probo
injustamente acusado pelo Ministério Público Federal, que confundiu
propina com pagamento de dízimo.
O terceiro é Paulinho da Força. Foi injustamente acusado de receber
propinas para impedir a continuação de uma greve no canteiro de obras do
pagador. Não foi nada disso. Provavelmente trata-se de um prêmio em
dinheiro concedido "ao pacificador do ano", pela inexcedível
contribuição à paz social no país. É o nosso Ghandi redivivo.
No encontro dos três – Gilmar, Cunha e Paulinho – a Folha supôs que o
tema principal fosse o impeachment de Dilma. Mas Gilmar esclareceu que
“o tema central da conversa foi o Código de Processo Civil” (http://migre.me/qLquI).
Qual o interesse no Código Civil de dois acusados pela Lava Jato? Uma
medalha da Madre Tereza para quem adivinhar. Muito provavelmente queriam
saber das brechas processuais para estancar os inquéritos. Como, por
exemplo, entrar com pedido de habeas corpus em dia de plantão de Gilmar
Mendes no STF. Afinal, Gilmar é um conhecido “garantista”.
O
quarto é o senador Aloyzio Nunes. Acusado de receber doações da UTC,
foi categórico: "é uma acusação kafkiana, porque não tenho nenhuma
influência na Petrobras". A UTC teve obras contratadas pelo governo de
São Paulo no período em que Aloyzio foi vice-governador. Mas a troco de
quê o repórter vai incomodar o senador com questão tão irrelevante (http://migre.me/qLqdg)? Aloyzio é a encarnação de Henry Fonda em "O Homem Errado", clássico de Hitchcock.
Cada cruzada moralista tem os catões que merecem. E não é papel dos
jornais decepcionarem os leitores mais sonhadores. Pobre do país que não
precisa de catões, dirão os muito crentes.
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