Em
entrevista para o Brasil Debate, José Maria Rangel, presidente da
Federação Única dos Petroleiros (FUP), filiada à Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e representante de mais de 150 mil trabalhadores de
empresas do setor petrolífero no Brasil, chama a atenção para a
importância estratégica da Petrobras para o País.
Segundo Rangel, além do que a Petrobras significa em termos de geração
de empregos, desenvolvimento da indústria naval, de equipamentos, de
divisas e recursos para setores como saúde e educação, há o fato de, no
mundo, por mais que se busque formas de energia limpa, ainda “quem tem
reservas de petróleo tem poder”.
O sindicalista trata dos efeitos de uma possível privatização da
Petrobras e se mostra preocupado com o que pode acontecer com a empresa
se algum dos dois candidatos de oposição mais bem posicionados nas
pesquisas vencer a eleição para a Presidência. Ele lembra que de 1990 a
2002, época dos governos Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando
Henrique Cardoso, a Petrobras “estava sendo preparada para ser
entregue, como foi a Vale, e os investimentos eram tímidos, as condições
de trabalho precárias”.
“Em 2002, o lucro da Petrobras foi de R$ 8,1 bilhões, em 2013 R$ 23,5
bilhões. O valor de mercado era em 2002 de R$ 54 bilhões e hoje é de R$
289 bilhões. As reservas provadas em 2002 eram 11 bilhões de barris,
hoje com o pré-sal são 22 bilhões de barris. Isso é fruto de
investimento, presença forte do governo e valorização da empresa e dos
empregados”, afirma.
Leia a entrevista concedida a Ana Luíza Matos de Oliveira:
Brasil Debate – Qual é a importância
estratégica de uma empresa como a Petrobras continuar sendo uma estatal?
Uma campanha do tipo “o petróleo é nosso” ainda faz sentido nos dias de
hoje?
José Maria Rangel – Por mais que o mundo todo busque formas de energia
limpa, o petróleo ainda será por muito tempo a principal matriz
energética do mundo e, neste cenário, quem tem reservas tem poder. Além
do mais, em um governo com sensibilidade social, os recursos oriundos do
petróleo são utilizados para a melhoria de vida de seu povo. Mas, após a
criação da Petrobras, uma campanha do tipo “O petróleo é nosso” nunca
foi tão necessária como agora.
Na sua opinião, em que mudaria a atuação da Petrobras se a mesma passasse para a iniciativa privada?
A Petrobras é uma das poucas empresas de petróleo do mundo com um plano
de investimento de cerca de U$ 240 bilhões. Estamos falando de geração
de empregos, desenvolvimento da nossa indústria naval e de equipamentos,
divisas para o País, recursos para saúde e educação e por aí vai. Dá
para imaginar que uma empresa privada atue desta forma?
Como você avalia a evolução da Petrobras em termos de infraestrutura, investimento e condições de trabalho nos anos 1990 e 2000?
De 90 a 2002 a nossa empresa estava sendo preparada para ser entregue,
como foi a Vale, e os investimentos eram tímidos, condições de trabalho
precárias. Basta ver que em 2001 tivemos um dos maiores acidentes da
indústria de petróleo mundial que foi o afundamento da P-36, que ceifou a
vida de 11 trabalhadores. Tivemos ainda vazamentos no Rio Paranaguá e
Baía de Guanabara. Era um tempo de sucateamento. Só para termos uma
ideia, em 2002 (FHC) a Petrobras investiu R$ 18,8 bilhões. Em 2013,
foram investidos R$ 104 bilhões. Em 2002, o lucro da Petrobras foi de R$
8,1 bilhões, em 2013 R$ 23,5 bilhões. O valor de mercado era em 2002 de
R$ 54 bilhões e hoje é de R$ 289 bilhões. As reservas provadas em 2002
eram 11 bilhões de barris, hoje com o pré-sal são 22 bilhões de barris.
Isso é fruto de investimento, presença forte do governo e valorização da
empresa e dos empregados.
Por parte dos trabalhadores da Federação
Única dos Petroleiros (FUP), que você representa, quais são as
principais reivindicações hoje?
Direito à vida! Infelizmente, este é um tema em que os passos que estão
sendo dados ainda são tímidos. Temos em média uma fatalidade por mês,
adoecimentos e mutilações. Mas estamos trabalhando duro para reverter
este quadro.
Sobre as perspectivas da Petrobras,
fala-se de uma possível falência da mesma. Essa perspectiva, na sua
opinião, tem embasamento real?
Quem fala isso não conhece a história da Petrobras e o quanto ela tem de
importância para o atual governo. Vou dar um exemplo: Durante a grande
crise de 2008, quando ninguém tinha dinheiro para emprestar e quem tinha
cobrava juros estratosféricos, o governo Lula, através dos bancos
públicos (BB, CEF e BNDES) criou uma linha de crédito especial para
financiar a Petrobras e não paralisar a empresa e seus projetos. Dá para
acreditar que com Lula e Dilma a Petrobras vá quebrar?
A FUP tem algum posicionamento oficial sobre a compra da Refinaria de Pasadena? Foi realmente um mau negócio?
Toda a avaliação sobre a compra de Pasadena deve ser feita com um olhar
no momento da compra, pois olhar hoje penso eu não ser correto. Já fui
do Conselho de Administração da Petrobras (2013) e se tivesse que opinar
na época seria contra por princípio, pois defendo investimentos no
nosso País. Quanto às suspeitas de superfaturamento, defendemos a
apuração rigorosa dos órgãos competentes e se alguém cometeu algum erro
por má-fé que pague.
Na sua opinião, a Petrobras está
preparada para enfrentar riscos e acidentes ambientais que poderiam
decorrer da extração do pré-sal? Você considera que essa extração seja
segura?
Os riscos de acidentes ambientais e com trabalhadores são temas que
sempre tiram o nosso sono, fazemos uma luta diária para que as operações
em todos os níveis sejam seguras para os empregados e o meio ambiente. O
fato concreto é que a Petrobras já produz com pré-sal em 8 anos (550
mil barris) o que no Golfo do México se produziu em 19 anos.
Muito se pressionou para que parte dos
royalties do pré-sal fosse revertida para o financiamento de gastos
sociais no País, como saúde e educação. Na sua visão, como mais esse
recurso pode auxiliar na melhoria dos índices sociais do País?
Essa é a nossa aposta e vamos lutar o quanto for preciso para isso. Bons
exemplos já existem como o da Noruega (que possui o melhor IDH do
mundo), em que recursos do petróleo são revertidos para a população,
inclusive tendo um fundo soberano que vai financiar o social das
gerações que estão por vir, visto que o petróleo é finito.
As propostas dos candidatos à
presidência Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT)
para a Petrobras são muito diversas? Como as mesmas podem afetar a
empresa?
Os programas de Marina e Aécio são idênticos, defendem um Estado mínimo e
neste cenário uma Petrobras que seja apenas um escritório. O PSDB nós
já vimos o que fez com a Petrobras: sucateou para entregar, para passar
uma imagem para a população de ineficiência. A Marina despreza o
pré-sal, chegando a afirmar que iria tirar o Brasil da era do petróleo,
uma riqueza que vai servir para melhorar a vida da nossa população. Com
os nomes que a estão assessorando, não tenho dúvidas de que também vai
sucatear a empresa. A Petrobras e o pré-sal hoje representam cerca de
13% do nosso PIB. Só nos próximos 30 anos, com os campos licitados,
serão mais de R$ 2 trilhões em royalties e recursos do fundo social.
Traduza isso em benefícios para a população.
Só para termos uma ideia, com este recurso poderiam ser compradas 160
milhões de ambulâncias do SAMU, construir 258 milhões de casas populares
e criar 41 milhões de postos de saúde.
E a nossa indústria naval, como anda?
Em 2003, a indústria naval contava com apenas 2 estaleiros e empregava
7.465 trabalhadores. Em pouco mais de dez anos, o Brasil ganhou oito
novos estaleiros e emprega cerca de 80.000 trabalhadores diretos e cerca
de 320.000 empregos indiretos, tendo 700 empresas de navipeças. A
Petrobrás e o pré-sal são responsáveis por 90% das encomendas da
indústria naval brasileira.
Para finalizar, por que a Petrobras é sempre alvo de disputas nas eleições?
Sendo a maior empresa do País,
aquela que gera riquezas, desenvolvimento, conhecimento e soberania, os
adversários do governo sempre tentam colocar em xeque a gestão pública
da Petrobras com denúncias de todos os tipos.
O que querem é paralisar a
Petrobras e entregar a empresa para o capital internacional. A
Petrobras é o Brasil que dá certo e isso incomoda os entreguistas de
sempre
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