Como mostra a lista de bilionários da Forbes, as famílias lucram extraordinariamente com os privilégios que têm. |
Na rarefeita lista dos bilionários brasileiros montada pela revista
Forbes estão quatro donos de empresas de mídia: os três irmãos Marinhos –
Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – e Giancarlo Civita, o
Gianca, primogênito e um dos herdeiros de Roberto Civita.
Os bilionários Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto |
Essa simples informação – a lista da Forbes não é científica, mas ao longo de décadas seus editores desenvolveram métodos sofisticados de apuração – explica por que a mídia brasileira luta tanto contra qualquer mudança que represente o fim de seus imensos privilégios e mamatas.
O número 1 é o investidor Jorge Paulo Lemann. Mas se você combinar as
fortunas dos três herdeiros de Roberto Marinho, Lemann é ultrapassado
com folga.
Um olhar de floresta sobre a listagem mostra que 124 pessoas concentram 12,3% do PIB brasileiro.
Eis um número que se pode classificar de miserável: é a representação da extrema iniquidade do país.
Vi a notícia no site da Exame, da Abril, e evidentemente fui lê-la.
Um bom texto, exceto por uma omissão que mostra como é difícil a vida
dos jornalistas profissionais no Brasil de hoje: entre os setores que
abrigam os bilionários não estava citada a mídia. Presumo que o editor,
ou o próprio redator, tenham tirado a menção por cuidado.
A voz rouca das ruas não tem ideia das facilidades que as grandes
empresas de mídia têm recebido ao longo dos tempos do Estado. Ou, para
sermos mais precisos, do contribuinte.
O papel usado, por exemplo, é isento de impostos. É o chamado “papel
imune”, no jargão interno das empresas de jornalismo. Tampouco elas
pagam ISS sobre as vendas de publicidade.
Ao longo da história, órgãos como o BNDES e o Banco do Brasil
concederam empréstimos a juros maternos para a mídia, sempre com
dinheiro público.
Nos anos 1980, o Jornal do Brasil pagava suas dívidas perante o Banco
do Brasil com anúncios. Mesmo assim, quebraria por causa de uma gestão
ruinosa.
É um clássico na mídia: a administração é lastimável. Isso se
explica, em parte, pela absurdamente anacrônica reserva de mercado
mantida para as grandes corporações jornalísticas.
A reserva – que a mídia combate em todos os setores exceto o dela
mesma – impede a concorrência estrangeira. Mas o preço pela facilidade
são gestões trôpegas, típicas de quem goza de reserva. Para as famílias
acionistas é uma coisa boa, mas para a sociedade é péssimo.
Os bilionários Gianca e Titi Civita donos da Abril Cultural |
Veja a diferença.
No exterior, Rupert Murdoch, da News Corp, construiu um império global à base de risco.
Murdoch foi da Austrália para o Reino Unido, e de lá para os Estados
Unidos, com base em apostas que poderiam levá-lo ao céu ou ao inferno.
No final da década de 1980, ele decidiu investir em tevê por
satélite. Pegou dinheiro emprestado em bancos e montou a Sky. Mas as
coisas não correram como o esperado, e ele esteve à beira de ir à
bancarrota.
Foi obrigado pelos credores a se juntar em tevê por satélite com a
rival da Sky, a BSB. Pouco tempo atrás, ele estava com o dinheiro pronto
para comprar a parte da BSB por mais de 20 bilhões de reais. O negócio
só não foi feito porque o escândalo de seu tabloide levou o governo
britânico a proibir a aquisição.
Veja, em contraste, como a Globo construiu sua supergráfica que foi
concebida, pausa para rir, para uma tiragem de mais de 1 milhão de
exemplares do Globo.
A Globo foi buscar dinheiro no lugar de sempre, o BNDES. Ou seja, a
viúva e os pensionistas foram convocados para ajudar a família Marinho.
A mídia tem tido no Brasil um “Estado-babá”. Isso é bom para seus acionistas, como se vê pela Forbes.
Para a sociedade, é uma tragédia.
Por Paulo Nogueira no DCM
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