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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A MORTE DE UM SOBREVIVENTE DOS CAMPOS ASSASSINOS

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Morreu hoje aos 66 anos o proeminente pintor cambojano Vann Nath, um dos sete sobreviventes da prisão secreta do Khmer Vermelho conhecida como S-21, onde 14 mil homens, mulheres e crianças foram torturados e executados durante o regime de Pol Pot no Camboja (1975-1979). 
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Inspirado da Revolução Cultural chinesa, o Khmer Vermelho queria transformar o Camboja numa sociedade comunista agrária, acabando com a vida nas cidades, a moeda, o mercado e todo ranço atividade considerada “capitalista” – qualquer pessoa que tivesse algum nível de educação era suspeita de ser "burguesa". 
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A habilidade de Nath como artista salvou-lhe a vida, porque seu carcereiros puseram-no para trabalhar na escultura e em pinturas do ditador Pol Pot.
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Ele foi libertado em 1979, quando o regime do Khmer Vermelho foi derrubado pelas tropas do Vietnã. Nath voltaria a trabalhar na S-21 quando a prisão secreta foi transformada em museu do genocídio. Suas pinturas retratam cenas que ele testemunhou no campo. 

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O pintor lutou incansavelmente para que se fizesse justiça às vítimas do regime de Pol Pot. Entre 2001 e 2002 ele trabalhou com o cineasta Rithy Panh Camboja no making of do documentário The Khmer Rouge Killing Machine, que reuniu ex-prisioneiros e ex-guardas do campo de concentração conhecido como Choeung Ek.
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O trabalho de Vann Nath (na foto,mapa do Camboja feito de crânios)  foi premiado em vários países e ele realizou exposições em todo o mundo. Em 1998 publicou o livro A Cambodian Prison Portrait: One Year in the Khmer Rouge's S-21, narrando sua experiência como prisioneiro dos Killing Fields. A distopia assassina do Khmer foi responsável pela morte de cerca 1,5 milhão de pessoas, 1/4 da população do Camboja de então.



Entre 1975 e 1979, em nome de uma sociedade rural absolutamente igualitária, sem família, sem propriedade privada nem religião, sem moeda nem mercado, os Khmer Vermelho, liderados por Pol-Pot e inspirados na revolução cultural de Mao Tsé-tung, tomaram o poder no Camboja, separando os familiares (a família não representava o ideal coletiva do regime) e forçando as pessoas das cidades (fonte de todo o mal burguês) em direção ao campo para se re-educarem com os camponeses e realizarem trabalhos forçados em plantações de arroz. A moeda do Camboja foi extinta assim como o mercado e as pessoas mais inteligentes do pais como professores, médicos, engenheiros (que simbolizavam o capitalismo), foram executadas. Qualquer atitude ou característica que lembrasse o capitalismo (como saber falar uma língua estrangeira, ou mesmo usar óculos) era motivo para execução. A maioria das escolas e todas as bibliotecas foram destruídas em nome de uma sociedade igualitária.
Em 1979, destruído economicamente, o Camboja atacou o Vietnam. Tropas do Vietnam invadiram o Camboja e depuseram o horrendo regime dos Khmer Vermelho. Em 4 anos, de uma população de 8 milhões de pessoas, 1.8 milhões de pessoas morreram de fome, doenças, trabalhos forçados e execuções, no que foi o maior genocídio em percentual de mortos do século XX
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Pol Pot, líder dos Khmer Vermelho superou Hitler, Stalin, Mao Tse-tung em percentual de mortos.
Pol Pot morreu em 1998 sem ter sido julgado por seus crimes contra humanidade.

No dia 17 de abril de 1975, os membros do Khmer Vermelho ocuparam Phnom Penh sem resistência e em poucas horas esvaziaram completamente a cidade, em um primeiro ato de um regime de terror que duraria quatro anos e deixaria quase de dois milhões de mortos.
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Em um dia, os quase dois milhões de habitantes da capital foram obrigados a partir para os campos, por 'alguns dias', segundo os membros do Khmer Vermelho, para se proteger de bombardeios americanos que nunca aconteceram. A Angkar, "a Organização" dirigida por Pol Pot - com Nuon Chea, Khieu Samphan, Ieng Sary, Son Sen e Ta Mok - aplicou uma ideologia ultranacionalista e comunista extremista, de orientação maoísta.

Por isso, os membros do Khmer Vermelho, cujos chefes se formaram no estrangeiro, sobretudo na França, impuseram progressivamente a eliminação da família, a abolição da religião e do dinheiro.
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Segundo eles, era um meio de criar um homem novo em uma sociedade rural absolutamente igualitária.

Em nome de uma utopia agrária, a população passa fome e explora todo povo em trabalhos forçados para produzir arroz e construir gigantescas obras.

Aqueles que não se submetiam às ordens do poder central eram torturados, executados, deportados ou postos sob uma vigilância rígida e a uma depuração étnica ou ideológica, no caso de vietnamitas, chineses ou muçulmanos. Em três anos, oito meses e 20 dias, quase dois milhões de cambojanos morreram sob a tortura, a fome, doenças em geral, esgotamento ou por punições no interior do regime.
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No final de 1978, 50 mil soldados vietnamitas invadiram o Camboja depois de uma série de ataques do Khmer Vermelho contra o território do Vietnã, derrubando um regime minado por lutas internas e deserção em massa.
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Nesta época, começa a se conhecer a magnitude do genocídio e das atrocidades cometidas pelo regime de Pol Pot.

Cerca de 30 anos depois, o Camboja segue sofrendo com a eliminação de suas elites e um silêncio cúmplice sobre um dos piores genocídios do século XX, que não figura dos programas escolares.



Caveiras expostas em um dos inúmeros centros de extermínio



Carrasco do genocídio cambojano lembra a barbárie do Khmer Vermelho – Reportagem do Jornal El Pais

http://blog.controversia.com. br/2007/11/21...khmer-vermelho/

No centro de Phnom Penh, onde morreram mais de 14 mil pessoas nas mãos de uma tirania obcecada pela espionagem estrangeira e o inimigo interno, disposta a tudo para criar uma sociedade doutrinada e arrozeira, sem propriedade privada nem religião, sem moeda nem mercado, com a família e a individualidade estatizadas e um ordenamento aberrante.
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Aquela loucura, da qual o Camboja ainda convalesce, é única na história da humanidade: 30% dos 12 milhões de cambojanos sofrem de estresse pós-traumático e 40% de ansiedade e pesadelos, segundo um estudo médico.



Caveiras expostas na prisão S-21

Logo após a revolução, começou a transferência forçada das cidades para o campo, porque para Pol Pot a cidade era a fonte de todo o mal. Os cambojanos deveriam eliminar os vícios "burgueses" e se reeducar com as massas camponesas, como ensinava o não menos ditador da China, Mao Tsé-tung. As primeiras medidas: a moeda local foi abolida, bibliotecas foram transformadas em chiqueiros e intelectuais, profissionais liberais eram sumariamente executados. Calcula-se que 15 mil dos 20 mil professores do país foram mortos, assim como 90% dos monges budistas e um em cada cinco médicos.

Covas coletivas no Camboja


Um de seus investigadores, Meng Try Ea, falou com um grupo do Khmer Vermelho para conhecer a filosofia punitiva do regime. “A colheita, por exemplo, era uma luta de classes, uma luta entre revolução e contra-revolução”, segundo lhe explicaram. O furto de um quilo de arroz comunitário podia custar a vida do desesperado, como cúmplice do boicote inimigo; a perda de uma ferramenta de trabalho podia acarretar a morte e um golpe de vara no búfalo do arado, o espancamento de quem o fizesse.

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O regime dos khmer vermelhos matou o seu povo à fome, por doença, por exaustão ou por execução sumária, em nome de uma utopia que só podia ser uma miragem: uma sociedade onde não havia lugar para dinheiro, nem escolas, onde as cidades eram despejadas para encher os terrenos agrícolas.
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Quando os khmer vermelhos ocuparam o Camboja, Sinal tinha 13 anos (agora tem 47). “A minha família vivia em Siem Reap [no Centro] e eles obrigaram-nos a deixar a cidade. Todas as pessoas da minha família foram forçadas a trabalhar no campo, das 5h00 às 18h00. Recolhiam estrume de animais para fazer compostagem”. Em troca, recebiam “uma pequena quantidade de comida, só para o almoço e o jantar”. O fato de muitas das vítimas do regime terem morrido por subnutrição ou falta de cuidados de saúde é um dos argumentos usados pela defesa de que não houve genocídio. “Nessa altura, as crianças ficavam num centro, não iam para a escola, não estavam autorizadas a ver os pais nem os familiares todos os dias”, continua Sinal Peanh. 
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“Os khmer vermelhos treinavam as crianças para controlar os pais e outras pessoas, e se houvesse alguma coisa errada tinha que se lhes dizer. Vi muita gente morrer, incluindo os meus pais, com a cabeça cortada por um machado. Eles mandavam as crianças fazer uma cova e enterrar o cadáver.” À noite cantavam-se músicas de louvor a Pol Pot. Não foram só os seus pais, foram também os três irmãos que morreram. Salvou-se ele e a avó. Terminado o terror, Sinal Peanh vendeu bolos e massas para sobreviver. “Não tinha nem tempo nem dinheiro para estudar. E por isso decidi ir para a Tailândia”. Foi lá, na “Escola Católica na Zona 2 do campo de refugiados”, que, durante três anos, aprendeu “inglês e cuidados de saúde.”

No meio de um historia de atrocidades, Sophal Mar diz ter sido uma pessoa de sorte. Os seus pais viviam em Phnom Penh, a capital, quando os khmer vermelhos os mandaram ir para o campo, só com o necessário para “dois ou três dias”. Ou seja, sem nada.

A mãe foi para o Norte, o pai para o Sul, com os cinco irmãos e duas irmãs de Sophal.

“Phnom Penh tornou-se uma cidade-fantasma. Ninguém tinha autorização para viver na capital. Não havia nada a funcionar, escolas, lojas, nada.” Ele nasceria dois anos depois. Todos sobreviveram, exceto o avô, “que foi morto, não sei porquê.”




Caveiras expostas na prisão S-21


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