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A inaceitável subserviência e o colaboracionismo da Rede Globo prejudicou a Democracia e o Brasil |
Por Pedro Ekman, na revista CartaCapital:
No
sábado 31, por meio de editorial, o jornal O Globo reconheceu ter
errado ao apoiar o golpe e a ditadura militar, que, ao longo de duas
décadas, enterraram a democracia em nosso país, com consequências que
perduram até os dias de hoje. Admitir um erro é um grande avanço, mas é
preciso refletir sobre como a Globo o fez e qual o alcance dessas
"desculpas".
Os historiadores podem analisar muito melhor do que nós os fatos elencados pelo jornal para, logo após reafirmar seu "apego pelos valores democráticos", justificar a opção feita na época por Roberto Marinho, insistentemente relembrado como alguém que "sempre esteve ao lado da legalidade". Em cinco linhas o periódico admite o erro; em 50 ele explica porque o pratico. Nem os colegas de imprensa - Folha, Estadão, Jornal do Brasil e Correio da Manhã - também defensores do golpe, escaparam dos argumentos do Globo para dizer "eu errei, mas "todo mundo" errou também".
Os historiadores podem analisar muito melhor do que nós os fatos elencados pelo jornal para, logo após reafirmar seu "apego pelos valores democráticos", justificar a opção feita na época por Roberto Marinho, insistentemente relembrado como alguém que "sempre esteve ao lado da legalidade". Em cinco linhas o periódico admite o erro; em 50 ele explica porque o pratico. Nem os colegas de imprensa - Folha, Estadão, Jornal do Brasil e Correio da Manhã - também defensores do golpe, escaparam dos argumentos do Globo para dizer "eu errei, mas "todo mundo" errou também".
Famiglia Marinho |
A realidade
é que, por mais que o Globo tente nos fazer crer que sua tardia
auto-crítica "não é de hoje, vem de discussões internas de anos", foi o
grito das ruas que forçou sua confissão. Nos protestos de junho, a
grande mídia - ao lado das demais instituições em crise de
representatividade - também se tornou alvo. Parcela significativa da
população brasileira deu visibilidade àquilo que o movimento de luta
pela democratização das comunicações diz há muito tempo: chega de
monopólio! Queremos mais diversidade e mais pluralidade! O povo tem
direito e quer exercer sua liberdade de expressão!
Felizmente, essa crítica não arrefeceu de junho para cá. Na última sexta-feira, em São Paulo, assim como em outros estados do país, o 2º Grande Ato contra o Monopólio da Mídia teve novamente a sede da Rede Globo como cenário. Uma enorme bandeira denunciava a relação entre a Globo e o senador Fernando Collor e pedia que o Supremo Tribunal Federal julgue procedente a ADPF 246, que questiona a outorga e a renovação de concessões de radiodifusão a quem possui mandato eletivo, seja como sócio ou associado das empresas concessionárias de rádio e TV.
Sem acesso e representação nos meios de comunicação de massa, os manifestantes mais uma vez ocuparam a mídia pelas pelas frestas. Com feixes de luz, invadiram pela segunda vez o estúdio do SPTV, jornal paulista da TV Globo, pintando de verde a apresentadora Monalisa Perroni, que falava ao vivo para milhões de telespectadores. Nas pareces da emissora, foram projetadas as palavras invisíveis na programação da TV: "Globo Sonega", "Globo Mente", "Globo Collor" e "Ocupe a Mídia".
O editorial do Globo também ignora que, diante das ações que marcaram - e continuam marcando - a história da Rede Globo, é preciso ir além. Primeiro, falta reconhecer que a Rede Globo teve inúmeros benefícios em troca do apoio à Ditadura Militar, como o acordo inconstitucional com a empresa Time-Life, que permitiu que a Globo tenha se tornado um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo. Falta reconhecer que o grupo escondeu durantes anos a campanha pelas Diretas Já! Que também errou, em 1989, ao favorecer o então candidato à Presidência da República, Fernando Collor de Mello, com uma edição manipuladora do último debate eleitoral. Falta admitir que esse mesmo ex-Presidente deposto pela pressão popular hoje controla a retransmissora da Globo em Alagoas.
Mais do que nunca, falta admitir que, atualmente, o grande ataque à democracia brasileira reside no fato de possuirmos um dos sistemas de comunicação social mais concentrados do mundo. Tal situação é sustentada pela emissora e defendida em sua movimentação constante nos corredores de Brasília. Ao continuar se negando a levar ao debate público a necessidade de um novo marco regulatório para o setor no país, a Globo impede que a democracia chegue também aos meios de comunicação de massa.
O clamor das ruas, no entanto, revela que esta pauta não pode mais ser adiada. Ao contrário do que prega a grande mídia, os manifestantes sabem muito bem o que estão fazendo e o que querem. Seja com com raios lasers em estúdios; projeções nas paredes ou bandeiras e cartazes nas ruas, a mensagem é clara: é preciso democratizar a mídia. Se, antes, poucos apostariam ser possível ver as ruas repletas de pessoas dispostas a questionar o poder inabalável da máquina de sedução do monopólio midiático, hoje estamos vendo demonstrações cada vez mais fortes de que esse é um debate imprescindível para o Brasil.
Mas, assim como apoiadores da ditadura não vêm a público por livre e espontânea vontade admitir seus erros, não será da boca de quem detém o monopólio da fala que sairá a defesa de leis que permitam maior diversidade e pluralidade na comunicação. Por uma lei da mídia democrática, o povo saiu às ruas e nelas se manterá, até que a democracia possa vencer novamente.
Felizmente, essa crítica não arrefeceu de junho para cá. Na última sexta-feira, em São Paulo, assim como em outros estados do país, o 2º Grande Ato contra o Monopólio da Mídia teve novamente a sede da Rede Globo como cenário. Uma enorme bandeira denunciava a relação entre a Globo e o senador Fernando Collor e pedia que o Supremo Tribunal Federal julgue procedente a ADPF 246, que questiona a outorga e a renovação de concessões de radiodifusão a quem possui mandato eletivo, seja como sócio ou associado das empresas concessionárias de rádio e TV.
Sem acesso e representação nos meios de comunicação de massa, os manifestantes mais uma vez ocuparam a mídia pelas pelas frestas. Com feixes de luz, invadiram pela segunda vez o estúdio do SPTV, jornal paulista da TV Globo, pintando de verde a apresentadora Monalisa Perroni, que falava ao vivo para milhões de telespectadores. Nas pareces da emissora, foram projetadas as palavras invisíveis na programação da TV: "Globo Sonega", "Globo Mente", "Globo Collor" e "Ocupe a Mídia".
O editorial do Globo também ignora que, diante das ações que marcaram - e continuam marcando - a história da Rede Globo, é preciso ir além. Primeiro, falta reconhecer que a Rede Globo teve inúmeros benefícios em troca do apoio à Ditadura Militar, como o acordo inconstitucional com a empresa Time-Life, que permitiu que a Globo tenha se tornado um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo. Falta reconhecer que o grupo escondeu durantes anos a campanha pelas Diretas Já! Que também errou, em 1989, ao favorecer o então candidato à Presidência da República, Fernando Collor de Mello, com uma edição manipuladora do último debate eleitoral. Falta admitir que esse mesmo ex-Presidente deposto pela pressão popular hoje controla a retransmissora da Globo em Alagoas.
Mais do que nunca, falta admitir que, atualmente, o grande ataque à democracia brasileira reside no fato de possuirmos um dos sistemas de comunicação social mais concentrados do mundo. Tal situação é sustentada pela emissora e defendida em sua movimentação constante nos corredores de Brasília. Ao continuar se negando a levar ao debate público a necessidade de um novo marco regulatório para o setor no país, a Globo impede que a democracia chegue também aos meios de comunicação de massa.
O clamor das ruas, no entanto, revela que esta pauta não pode mais ser adiada. Ao contrário do que prega a grande mídia, os manifestantes sabem muito bem o que estão fazendo e o que querem. Seja com com raios lasers em estúdios; projeções nas paredes ou bandeiras e cartazes nas ruas, a mensagem é clara: é preciso democratizar a mídia. Se, antes, poucos apostariam ser possível ver as ruas repletas de pessoas dispostas a questionar o poder inabalável da máquina de sedução do monopólio midiático, hoje estamos vendo demonstrações cada vez mais fortes de que esse é um debate imprescindível para o Brasil.
Mas, assim como apoiadores da ditadura não vêm a público por livre e espontânea vontade admitir seus erros, não será da boca de quem detém o monopólio da fala que sairá a defesa de leis que permitam maior diversidade e pluralidade na comunicação. Por uma lei da mídia democrática, o povo saiu às ruas e nelas se manterá, até que a democracia possa vencer novamente.
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