Como hoje é domingo, o MVIVA publica a badalada entrevista que o cientista político Rudá Ricci concedeu a revista Caros Amigos em sua última edição:
Os oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foram marcados por um processo de conciliação de interesses, e não de enfrentamento, defende o cientista político mineiro Rudá Ricci, professor da PUC-MG. “E um governo de conciliação parece de esquerda num país tão conservador como o Brasil”, afirma, em entrevista, o autor de “Lulismo - da era dos movimentos sociais à ascensão da nova classe média brasileira”.
Rudá Ricci (de frente) durante uma entrevista |
Para Rudá, o lulismo é um “neogetulismo”, pois o primeiro recriou a mesma estrutura de poder do segundo, dando seguimento à modernização conservadora iniciada por Getúlio Vargas: “Uma modernização econômica sem mudar de maneira alguma a estrutura de poder”. Segundo o ex-militante petista, embora o lulismo tenha tirado 30 milhões de pessoas da pobreza, não gosta da participação popular. “É a visão sindicalista, de metalúrgico, que não gosta de participação, gosta de centralização, é muito pragmático”, sustenta. Para ele, o lulismo é muito claro, mas “as pessoas de esquerda não querem entender o que foi o lulismo”.
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O cientista político também analisa o comportamento dos novos integrantes da nova classe C, que “são conservadores, tem medo de tudo, desconfiam de tudo que é público, não vêm muita utilidade na democracia”. Assim, acredita na possível emergência de um movimento de massa ultraconservador. “Há algumas movimentações nesse sentido”.
O cientista político também analisa o comportamento dos novos integrantes da nova classe C, que “são conservadores, tem medo de tudo, desconfiam de tudo que é público, não vêm muita utilidade na democracia”. Assim, acredita na possível emergência de um movimento de massa ultraconservador. “Há algumas movimentações nesse sentido”.
No entanto, o cientista político não vê apenas legados negativos do lulismo. Para ele, o grande mérito do governo Lula é que “ele fez o país se reencontrar consigo mesmo. O Brasil é uma potência, está cada vez mais evidente para todo mundo”, defende Rudá, que também elogia a política externa do ex-presidente: “A política entrou como centro da diplomacia brasileira para valer, e não como habilidade para fazer negócio. Pela primeira vez, a política não foi só para abrir mercado”.
Politica externa independente |
Rudá Ricci - O lulismo é um sistema de gerenciamento do Estado e de políticas públicas. Portanto, não é uma ideologia, não é um movimento. Ele moderniza economicamente, mas é conservador do ponto de vista político, o que a gente chama em ciência política de modernização conservadora. E ele se montou como nos EUA o fordismo se montou no século passado. Aliás, os dados de ascensão social no Brasil são muito parecidos com os dados da ascensão social dos E tados Unidos desse período. Eu acho que é um fordismo tupiniquim, com um Estado muito forte e centralizador. 65% do orçamento público está concentrado na execução da União. Os municípios brasileiros dependem, em sua maioria, de convênios estabelecidos com ministérios.
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Ele usou como mecanismo de suporte social e desenvolvimento os recursos do BNDES, o PAC e as obras públicas e, com isso, conquistou o grande empresariado nacional.
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Todos os grandes conglomerados têm financiamento com o BNDES. E, na outra ponta, há, principalmente no aumento real do salário mínimo, a grande política de ascensão social no Brasil. Depois dela, vem o crédito consignado e, depois, o Bolsa-Família, que tirou da pobreza mas não gerou uma grande ascensão social, principalmente para os pobres se tornarem classe média, classe C. E aí vem a base do lulismo.
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E aí tem o suporte político. De um lado, a coalizão presidencialista, que é algo inédito no Brasil. O Getúlio Vargas até tentou montar algo, mas o Estado Novo acabou destruindo o que ele tentava forjar. Nós não tivemos na história republicana nenhuma situação parecida com a atual.
O Brasil desmontou o sistema partidário, criou uma coalizão de tipo parlamentarista e jogou a política do Brasil entre governistas e não governistas, mas não é qualquer governismo, é lulista ou não lulista. E os partidos de oposição estão completamente em frangalhos, tanto PSTU quanto Psol de um lado, que não conseguem nem somar com todos os partidos de esquerda 1% da intenção de voto nacional...
e de outro, à direita, o PSDB e o DEM; o primeiro num de seus momentos de maior tensão interna, a ponto de muitas lideranças falarem em refundação, e o segundo praticamente destruído com a saída do Gilberto Kassab. A última ponta é a do financiamento pelo Estado das organizações populares no país, principalmente as centrais sindicais.
Ele usou como mecanismo de suporte social e desenvolvimento os recursos do BNDES, o PAC e as obras públicas e, com isso, conquistou o grande empresariado nacional.
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Todos os grandes conglomerados têm financiamento com o BNDES. E, na outra ponta, há, principalmente no aumento real do salário mínimo, a grande política de ascensão social no Brasil. Depois dela, vem o crédito consignado e, depois, o Bolsa-Família, que tirou da pobreza mas não gerou uma grande ascensão social, principalmente para os pobres se tornarem classe média, classe C. E aí vem a base do lulismo.
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E aí tem o suporte político. De um lado, a coalizão presidencialista, que é algo inédito no Brasil. O Getúlio Vargas até tentou montar algo, mas o Estado Novo acabou destruindo o que ele tentava forjar. Nós não tivemos na história republicana nenhuma situação parecida com a atual.
O Brasil desmontou o sistema partidário, criou uma coalizão de tipo parlamentarista e jogou a política do Brasil entre governistas e não governistas, mas não é qualquer governismo, é lulista ou não lulista. E os partidos de oposição estão completamente em frangalhos, tanto PSTU quanto Psol de um lado, que não conseguem nem somar com todos os partidos de esquerda 1% da intenção de voto nacional...
Professor Plínio de Arruda Sampaio, do Psol |
e de outro, à direita, o PSDB e o DEM; o primeiro num de seus momentos de maior tensão interna, a ponto de muitas lideranças falarem em refundação, e o segundo praticamente destruído com a saída do Gilberto Kassab. A última ponta é a do financiamento pelo Estado das organizações populares no país, principalmente as centrais sindicais.
Gilberto Kassab,do Demo |
Os movimentos dos anos 1980 se basearam numa concepção anti-institucional, ou seja, nós acreditávamos, e isso vem do combate à ditadura, que todas as organizações públicas e autoridades eram ilegítimas. Acreditávamos que qualquer tipo de chamamento das autoridades para a participação das organizações populares na questão significaria cooptação. A legitimação das lideranças sociais nesse período se dava pela capacidade de mobilização, por isso que os líderes sociais dos anos 1980 eram carismáticos, tinham capacidade de retórica muito desenvolvida, falavam com emoção. A partir do final dos anos 1980 em diante, a esquerda começou a assumir gestões municipais, algumas estaduais e aí houve uma participação direta de muitos desses líderes.
Vladimir Palmeira |
Caros Amigos - O senhor afirma que o Lula finalizou a modernização conservadora iniciada pelo Getúlio Vargas. Como isso aconteceu?
O conceito de modernização conservadora é da sociologia e foi elaborado por um autor chamado Barrington Moore. Atualizando isso para o caso brasileiro, significa que se faz uma modernização econômica sem mudar de maneira alguma a estrutura de poder, ela é conservadora nesse sentido do poder. O Lula articulou todas as lideranças clientelistas do Brasil, assim como Getúlio fez isso.
Lula na Fiesp |
A impressão que se dava do Getúlio era que ele estava atacando toda a base clientelista, dos coronéis, mas muitos deles foram recriados através do getulismo. O lula recriou a mesma estrutura de poder. A marca do getulismo e do lulismo é a conciliação de interesses e não o enfrentamento.
Dilma prestigiando o grão-Pig |
Muito boa a entrevista Bueres. Parabens, companheiro!!!
ResponderExcluirMarlon George
Obrigado, camarada Marlon.Continue a nos visitar e participar com suas opiniões. Um grande Abraço!.
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