Por Eduardo Bueres
Na madrugada de hoje, foi levado, escoltado por alta brigada alada celestial, no rumo da luz, para a eterna morada no paraíso, o sábio paraense Benedito José Viana da Costa Nunes, que nasceu em aqui mesmo, Belém do Pará das mangueiras, no dia 21 de novembro de 1929.
Feiticeiro de palavras, encantador de raciocínio feliz, escrevia e ensinava todos dias que o eterno é o observar - e o aprender - com a esperança de um dia, mesmo diante da exatidão da ausência, fluir, inspirar, arremessar os frutos dos conheceres, feito um dardo, para multiplicidade dos seres organizados do futuro.
Receba,Mestre Bené, a infinita gratidão do seu povo da grande floresta...
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Professor, ambientalista, filósofo, escritor, crítico de arte e ensaísta, especializou-se em analisar obras de grandes escritores como Jean Paul Sartre, J.L.Borges, A. Saramago, Clarice Lispector, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Dalcídio Jurandir, João Guimarães Rosa, Osvald de Andrade e Mario Faustino, entre outros muitos.
Fez Mestrado na Sorbonne, em Paris e foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do Pará e do Norte Teatro-Escola. Este último juntamente com a esposa Maria Sylvia Nunes e a cunhada Angelita Silva. Publicou grande número de artigos e resenhas em jornais regionais e de circulação nacional sobre filosofia e manifestações da cultura popular e erudita.
Na madrugada de hoje, foi levado, escoltado por alta brigada alada celestial, no rumo da luz, para a eterna morada no paraíso, o sábio paraense Benedito José Viana da Costa Nunes, que nasceu em aqui mesmo, Belém do Pará das mangueiras, no dia 21 de novembro de 1929.
Feiticeiro de palavras, encantador de raciocínio feliz, escrevia e ensinava todos dias que o eterno é o observar - e o aprender - com a esperança de um dia, mesmo diante da exatidão da ausência, fluir, inspirar, arremessar os frutos dos conheceres, feito um dardo, para multiplicidade dos seres organizados do futuro.
Receba,Mestre Bené, a infinita gratidão do seu povo da grande floresta...
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Professor, ambientalista, filósofo, escritor, crítico de arte e ensaísta, especializou-se em analisar obras de grandes escritores como Jean Paul Sartre, J.L.Borges, A. Saramago, Clarice Lispector, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Dalcídio Jurandir, João Guimarães Rosa, Osvald de Andrade e Mario Faustino, entre outros muitos.
Fez Mestrado na Sorbonne, em Paris e foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do Pará e do Norte Teatro-Escola. Este último juntamente com a esposa Maria Sylvia Nunes e a cunhada Angelita Silva. Publicou grande número de artigos e resenhas em jornais regionais e de circulação nacional sobre filosofia e manifestações da cultura popular e erudita.
Entre os trabalhos destacam-se: encenação de Morte e Vida Severina, no 1º Festival Nacional de Teatro Amador (1958), no Recife, o que lhe valeu o prêmio de melhor adaptação teatral; O Mundo de Clarice Lispector (1966); Poesia de Mário Faustino (1966); Farias Brito: Trovas Escolhidas (1967); O Dorso do Tigre (1969); Leitura de Clarice Lispector (1973); Oswald Canibal (1978); O Livro do Seminário (1983); Passagem para o Poético: Filosofia e Poesia em Heidegger (1986); O Tempo na Narrativa (1988); A Paixão Segundo GH/ Clarice Lispector (1988); O Drama da Linguagem: uma Leitura de Clarice Lispector (1989); O Crivo de Papel (1999) e Hermenêutica e Poesia — O Pensamento Poético (1999).
Partidário da perspectiva de que a cobertura cultural feita pelos grandes jornais atualmente carece de uma posição de vanguarda, o professor e ensaísta Benedito Nunes faz parte do seleto grupo de intelectuais da contemporaneidade que transita com tranquilidade entre o texto literário e o filosófico.
Professor emérito da Universidade Federal do Pará (UFPA), Nunes foi um dos fundadores da antiga Faculdade de Filosofia daquele estado. Ao longo de sua trajetória, de 80 anos, o filósofo e crítico literário foi um dos personagens que, com maestria, soube percorrer as regiões fronteiriças dos dois campos do conhecimento, sem abandonar o eixo de coesão entre esses universos.
No caminho, Nunes estabeleceu uma relação interdisciplinar, na qual as peculiaridades, inquietações e provocações inerentes tanto à literatura quanto à filosofia foram formando as diferentes linhas de diálogo. Não por acaso, ao anunciar neste ano o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra a Benedito Nunes, a Academia Brasileira de Letras classificou-o como “um estudioso capaz de construir pontes entre a interpretação do texto literário e a sondagem filosófica”
Com uma extensa produção de ensaios e crítica literária e filosófica, Benedito tem entre suas principais obras O Drama da Linguagem, uma Leitura de Clarice Lispector, considerado um estudo pioneiro sobre a autora, publicado em 1966, e também Passagem para o Poético – Filosofia e Poesia em Heidegger, obra que lhe rendeu o prêmio Jabuti em 1987.
Sempre atribuindo uma sondagem filosófica à leitura do fenômeno literário, Benedito Nunes também se dedicou ao estudo de poetas, como Mário Faustino e Oswald de Andrade. Em entrevista à Revista E, o intelectual que fez dos livros a sua morada falou sobre modernismo brasileiro, literatura regional e a presença do mito em obras como Macunaíma.
Você é conhecido como um dos grandes filósofos e críticos brasileiros. E conseguiu ter esse reconhecimento mesmo morando fora do eixo Rio-São Paulo. Por que essa opção de continuar morando no Norte do Brasil, enquanto outros colegas seus vieram para cá?
Então, é basicamente uma questão de tranquilidade por causa da sua biblioteca. Não tem a ver com continuar morando em Belém?
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Quando se está fora do eixo Rio-São Paulo, as grandes questões culturais se tornam menos contaminadas pelas chamadas “panelinhas”?
Grande parte dos escritores e intelectuais atuantes se encontra hoje no Rio ou em São Paulo. Essa distância faz com que você possa fazer um julgamento, uma avaliação um pouco menos “contaminada”? Isso ajuda mesmo ou você acha indiferente?
Qual a sua análise, por exemplo, acerca da cobertura cultural dos grandes jornais dessas capitais?
Quando eu participava, principalmente no Jornal do Brasil, havia uma posição de vanguarda. Depois de um tempo, eu fui convidado pelo Décio de Almeida Prado para participar de O Estado de S.Paulo, onde fiquei por muitos anos. Muitas das minhas publicações têm sido coletâneas desses trabalhos publicados durante muitos anos na imprensa, sobretudo na paulista.O trabalho de escritores como Márcio Souza, Milton Hatoum e mesmo o Vicente Cecim lhe agrada? Você acredita que eles sejam uma espécie de frutos do Norte brasileiro?
Milton Hatoum costuma em suas obras falar de lares desestruturados com uma leve tendência política. Em suas duas últimas obras, "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte", Milton Hatoum fez uma leve crítica ao regime militar brasileiro.
Nota do MILITANCIAVIVA sobre Milton Hatoum :
Por que acha que esse mítico é tão próximo, tão presente na literatura brasileira?
Essa questão do mítico na literatura brasileira, na verdade, é muito influenciada pela Amazônia – como no próprio Mário? A Amazônia acabou fornecendo uma mitologia que balizou a literatura brasileira?
Num certo momento, pode-se dizer que essa mitologia da Amazônia influenciou tanto a literatura brasileira? Seria porque naquele momento o Brasil estava procurando a feição de sua literatura?
Esse período de busca do Brasil na literatura brasileira já se encontra superado?
Há sentido, ainda hoje, em se falar numa espécie de literatura brasileira, quando o mundo está cada vez mais globalizado?
Você acredita que hoje as pessoas estejam escrevendo da mesma forma, sem identidade?
Mas, a seu ver, as pessoas estão escrevendo de uma forma igual hoje?
Hoje, no entanto, não se fala mais de uma literatura de caráter regional.
Existe uma literatura de fato brasileira, ou nós temos uma literatura feita apenas por brasileiros?
Você costuma se colocar de uma maneira muito radical, em lados opostos, como em relação, por exemplo, às ideias de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade. Considera-os assim tão antagônicos?
Qual é a grande obra do modernismo brasileiro?
A grande obra do nosso modernismo é Macunaíma. Faz a grande fusão das lendas e dos mitos percorrendo o país de Norte a Sul. Isso é interessantíssimo. Parece que essa é uma viagem de conhecimento do próprio Brasil.
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A proposta de Oswald de Andrade, por uma literatura antropofágica, ainda tem validade?
Como avalia esse período da literatura regionalista brasileira? Rachel, José Lins do Rego. Qual foi a qualidade desse movimento?
Falando do Graciliano Ramos, qual texto você considera que permaneceu como grande obra?
O que a representação das mitologias amazônicas feitas na literatura, como em Cobra Norato, de Raul Bopp [poeta modernista e diplomata brasileiro, 1898-1984], dentro de um projeto de literatura antropofágica, diz a você? Como analisa o resultado?
Uma espécie de iniciação dos vários caminhos de modernidade no Brasil. Esse fundo mítico foi muito acentuado dessa transposição da modernidade no Brasil. Por acaso esse fundo mítico é muito amazônico. Acho que Macunaíma é o conhecimento in loco dessa região.
Cobra Norato lhe agrada ou não?
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Houve muita amizade entre você e Mário Faustino [poeta e crítico literário brasileiro, 1930-1962]. Depois de algumas décadas da morte dele, como você avalia sua poesia?
Hoje em dia se fala muito da indústria cultural, da ideia de que os escritores têm de produzir cada vez mais, e mais rapidamente. A cada dois ou três anos o escritor tem que lançar um livro. Considera que esse processo pode prejudicar a qualidade das obras?
Passados tantos anos do concretismo, da poesia concreta, qual foi a contribuição desse movimento para a literatura brasileira, para a poesia de forma geral?
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Qual seria a contribuição dos filósofos da sua geração à filosofia brasileira contemporânea?
A união de filosofia e estética é um traço distintivo da sua geração, é isso?
Um filósofo com uma visão cética da humanidade, como Schopenhauer [Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, 1788-1860], deveria ser mais lido hoje em dia?
Ainda no campo da polêmica, acredita que a Capitu (personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis) traiu ou não o Bentinho?
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Querido, respeitado e admirado pelo circulo acadêmico local, nacional e internacional, foi reconhecido em vida como entidade digna de referencia superior por sua brilhante trajetória, foi alvo feliz de centenas de homenagens, como o JABUTI, em 1987, inspirando a criação do Premio que leva o seu nome, criado pela Universidade Federal do Pará.
Confira esta ótima entrevista ao portal do SESC (ilustrada pelo MVIVA) e conheça um pouco mais sobre essa grande figura humana, dono de uma alma tão simples, de importância fundamental para a nossa literatura:
"O filósofo e crítico literário fala das correntes modernistas, do regionalismo e das obras clássicas brasileiras
Partidário da perspectiva de que a cobertura cultural feita pelos grandes jornais atualmente carece de uma posição de vanguarda, o professor e ensaísta Benedito Nunes faz parte do seleto grupo de intelectuais da contemporaneidade que transita com tranquilidade entre o texto literário e o filosófico.
Professor emérito da Universidade Federal do Pará (UFPA), Nunes foi um dos fundadores da antiga Faculdade de Filosofia daquele estado. Ao longo de sua trajetória, de 80 anos, o filósofo e crítico literário foi um dos personagens que, com maestria, soube percorrer as regiões fronteiriças dos dois campos do conhecimento, sem abandonar o eixo de coesão entre esses universos.
No caminho, Nunes estabeleceu uma relação interdisciplinar, na qual as peculiaridades, inquietações e provocações inerentes tanto à literatura quanto à filosofia foram formando as diferentes linhas de diálogo. Não por acaso, ao anunciar neste ano o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra a Benedito Nunes, a Academia Brasileira de Letras classificou-o como “um estudioso capaz de construir pontes entre a interpretação do texto literário e a sondagem filosófica”
Com uma extensa produção de ensaios e crítica literária e filosófica, Benedito tem entre suas principais obras O Drama da Linguagem, uma Leitura de Clarice Lispector, considerado um estudo pioneiro sobre a autora, publicado em 1966, e também Passagem para o Poético – Filosofia e Poesia em Heidegger, obra que lhe rendeu o prêmio Jabuti em 1987.
Premio Jabuti |
Você é conhecido como um dos grandes filósofos e críticos brasileiros. E conseguiu ter esse reconhecimento mesmo morando fora do eixo Rio-São Paulo. Por que essa opção de continuar morando no Norte do Brasil, enquanto outros colegas seus vieram para cá?
Durante esses anos, eu formei uma biblioteca muito grande e, como não posso me mudar daqui – de onde eu estou falando neste momento – com os livros, mudei todos os recursos para poder escrever.
Então, é basicamente uma questão de tranquilidade por causa da sua biblioteca. Não tem a ver com continuar morando em Belém?
Belém do Pará |
Minha casa fica, por acaso, em Belém. Eu me sinto bem na minha biblioteca, na minha casa. Além disso, Belém mudou muito. Atualmente, é uma cidade muito bem administrada. Mas, enfim, a administração é passageira, apesar de eu esperar que isso não mude e que fique cada vez melhor.
Quando se está fora do eixo Rio-São Paulo, as grandes questões culturais se tornam menos contaminadas pelas chamadas “panelinhas”?
Panelinha eu acho que existe em toda parte, só que umas são panelinhas competentes. Depende muito também da condição que você tem.
Grande parte dos escritores e intelectuais atuantes se encontra hoje no Rio ou em São Paulo. Essa distância faz com que você possa fazer um julgamento, uma avaliação um pouco menos “contaminada”? Isso ajuda mesmo ou você acha indiferente?
Eu acho que o fato de morar um pouco longe, no extremo Norte, que é considerado uma lugar longínquo, faz com que eu possa ter um ponto de vista menos confidencial. Talvez isso me dê, também, uma liberdade de julgamento, menos provinciano – porque mesmo vivendo na província, não me considero provinciano.
Qual a sua análise, por exemplo, acerca da cobertura cultural dos grandes jornais dessas capitais?
Eu sou de uma época em que essa cobertura era muito bem-feita, quase semanal. Os grandes suplementos costumavam ser os do Jornal do Brasil ou O Estado de S.Paulo, para os quais eu colaborei muito, de modo que eu sempre estive ligado a esses veículos do Sul do país. Eu tenho impressão de que os suplementos literários não são como eram na minha época.
Quando eu participava, principalmente no Jornal do Brasil, havia uma posição de vanguarda. Depois de um tempo, eu fui convidado pelo Décio de Almeida Prado para participar de O Estado de S.Paulo, onde fiquei por muitos anos. Muitas das minhas publicações têm sido coletâneas desses trabalhos publicados durante muitos anos na imprensa, sobretudo na paulista.
Milton Hatoum costuma em suas obras falar de lares desestruturados com uma leve tendência política. Em suas duas últimas obras, "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte", Milton Hatoum fez uma leve crítica ao regime militar brasileiro.
Nota do MILITANCIAVIVA sobre Milton Hatoum :
Milton Hatoum nasceu em Manaus (AM), em 1952 é um escritor brasileiro descendente de libaneses. Estudou arquitetura e ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e na Universidade da Califórnia em Berkeley. Escreveu quatro romances: Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos, Cinzas do Norte (esse último vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura e todos os três primeiros ganhadores do Prêmio Jabuti de melhor romance) e Órfãos do Eldorado. Seus livros já venderam mais de 200 mil exemplares no Brasil e foram traduzidos em oito países..
Não. Eu acho que são frutos da cultura brasileira. São pessoas também com muita mobilidade cultural, pessoas muito inteligentes, que têm uma visão muito larga, e não estreita ou bitolada.
Não. Eu acho que são frutos da cultura brasileira. São pessoas também com muita mobilidade cultural, pessoas muito inteligentes, que têm uma visão muito larga, e não estreita ou bitolada.
Existe algum elemento regional, se é que é possível dizer isso, na literatura do Milton Hatoum?
O mítico de Dois Irmãos [romance de Hatoum, Companhia das Letras, 2000]. Na verdade, há um parentesco da literatura atual sob esse ponto de vista.
Por que acha que esse mítico é tão próximo, tão presente na literatura brasileira?
Essa presença do mítico vem de muito tempo. Basta ver, por exemplo, Macunaíma, do Mário de Andrade.
Mario de Andrade |
Essa questão do mítico na literatura brasileira, na verdade, é muito influenciada pela Amazônia – como no próprio Mário? A Amazônia acabou fornecendo uma mitologia que balizou a literatura brasileira?
É mais ou menos isso. Mas nem toda a literatura. Muitas coisas vêm do Sul, do Sudeste, do Rio de Janeiro... Uma elaboração mítica muito mais extensa. É óbvio que existem focos amazônicos. A famosa viagem do Mário de Andrade para a Amazônia, que é uma coisa muito interessante. Isso teve uma importância muito grande na literatura brasileira.
Num certo momento, pode-se dizer que essa mitologia da Amazônia influenciou tanto a literatura brasileira? Seria porque naquele momento o Brasil estava procurando a feição de sua literatura?
Sim, mas depois essa busca ultrapassou as fronteiras de nacionalismo, aquela busca de modernidade da linguagem, Grande Sertão: Veredas... [refere-se ao clássico de João Guimarães Rosa, de 1956, cuja história se passa no sertão, sobretudo no norte de Minas Gerais].
João Guimarães Rosa. Grande Sertão: veredas |
Isso não quer dizer que seja passado também. As realidades nossas do entorno, a região em que se vive, as convergências das fontes... As coisas aqui têm que ser de dentro e de fora.
Há sentido, ainda hoje, em se falar numa espécie de literatura brasileira, quando o mundo está cada vez mais globalizado?
A modernidade foi nossa equalização com as correntes mais promissoras. A qualidade é conquistada a cada momento. Sempre há uma contínua retomada.
Você acredita que hoje as pessoas estejam escrevendo da mesma forma, sem identidade?
Pode haver essa homogeneização, como se fosse uma repetição do novo. Mas mesmo assim, da procura do novo acaba ocorrendo uma repetição. Então, na verdade, todas essas estimativas, a procura do novo, a contemporaneidade, isso é cheio de esconderijos.
Mas, a seu ver, as pessoas estão escrevendo de uma forma igual hoje?
Muita gente escreve, mas nem todos são iguais.
Hoje, no entanto, não se fala mais de uma literatura de caráter regional.
Eu acho que uma literatura regional é importante como contorno vital para o escritor. Isso é uma coisa. Mas o regionalismo hoje não tem como existir. Assim, a literatura brasileira tem que se aguentar de diversas maneiras.
Existe uma literatura de fato brasileira, ou nós temos uma literatura feita apenas por brasileiros?
Eu acho que é melhor dizer que é uma literatura feita por brasileiros depois que a brasilidade já foi definida, já foi sugada nas nossas obras. Então, a literatura brasileira foi formada por brasileiros.
Você costuma se colocar de uma maneira muito radical, em lados opostos, como em relação, por exemplo, às ideias de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade. Considera-os assim tão antagônicos?
Sim, mas todos os povos contrários podem ser complementares. No conjunto, no modernismo há essa complementação. São duas mentalidades muito diferentes, mas que formam uma complementação fecunda.
Qual é a grande obra do modernismo brasileiro?
A grande obra do nosso modernismo é Macunaíma. Faz a grande fusão das lendas e dos mitos percorrendo o país de Norte a Sul. Isso é interessantíssimo. Parece que essa é uma viagem de conhecimento do próprio Brasil.
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A proposta de Oswald de Andrade, por uma literatura antropofágica, ainda tem validade?
A antropofagia é um conceito complicado, já na época e justamente por essa discriminação. Estamos agora em uma fase de contemporaneidade. Há obras que sustentam esse vaivém da contemporaneidade, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, as obras de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e seu Memorial de Maria Moura... Acho interessantíssimo.
Como avalia esse período da literatura regionalista brasileira? Rachel, José Lins do Rego. Qual foi a qualidade desse movimento?
Acho que foi um momento que conseguiu encontrar essa raiz da modernidade. É ultrarregionalista. Isso coloca a região em outro plano, isso é que é interessante.
Falando do Graciliano Ramos, qual texto você considera que permaneceu como grande obra?
São duas obras: Angústia e Infância. Essa depuração do estilo é uma característica bem marcante.
Graciliano Ramos |
Raul Bopp |
Cobra Norato lhe agrada ou não?
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Gosto do poema não como um todo. Não gosto do conjunto.
Houve muita amizade entre você e Mário Faustino [poeta e crítico literário brasileiro, 1930-1962]. Depois de algumas décadas da morte dele, como você avalia sua poesia?
O Mário, nos momentos das vanguardas, sempre esteve muito ligado ao concretismo, mas não fez uma poesia vanguardista no contexto daquela época. Gostava, por exemplo, muito mais da poesia do que da crítica do Mário.
Hoje em dia se fala muito da indústria cultural, da ideia de que os escritores têm de produzir cada vez mais, e mais rapidamente. A cada dois ou três anos o escritor tem que lançar um livro. Considera que esse processo pode prejudicar a qualidade das obras?
Pode. Mas seria preciso mais exemplos, pois o que eu conheço da literatura atual não se enquadra nessa indústria.
Passados tantos anos do concretismo, da poesia concreta, qual foi a contribuição desse movimento para a literatura brasileira, para a poesia de forma geral?
Acho que Haroldo [de Campos, poeta brasileiro, 1929-2003] não ficou preso dentro do movimento que ele criou.
Haroldo de Campos |
Qual seria a contribuição dos filósofos da sua geração à filosofia brasileira contemporânea?
Essa é a pergunta que mais perturba. Acho que a filosofia prospera quando se encontra com questões humanas. Essa união já é muito fecunda.
A união de filosofia e estética é um traço distintivo da sua geração, é isso?
Eu tenho impressão de que é uma tendência. Não podemos generalizar. Vamos dizer que atualmente há uma tendência não à estética, e sim à poética.
Um filósofo com uma visão cética da humanidade, como Schopenhauer [Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, 1788-1860], deveria ser mais lido hoje em dia?
Schopenhauer |
Ele foi precursor, mas não teve ainda uma tendência sistemática, que foi o que aconteceu com Nietzsche Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, 1844-1900].
Ainda no campo da polêmica, acredita que a Capitu (personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis) traiu ou não o Bentinho?
Machado de Assis |
Se chegarmos a um acordo, matamos o romance. A traição é inerente ao romance.
Ouça o toc-toc do giz...
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... É que, o eterno Mestre Benedito Nunes, mesmo partindo, continuará ensinando e falando...para muitas gerações...
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