2018: "Dilma devolve a faixa presidencial para o imbatível Lula fazer seu terceiro mandato". É esse 'fantasma' de manchete que assombra e atormenta a ultradireita PIG-Tucana. |
Tradicionalmente sóbrio, o jornal Valor Econômico,
que pertence à Globo, dos irmãos Marinho, e à Folha, de Otávio Frias,
decidiu também atacar o ex-presidente Lula; o pretexto foi o patrocínio
das escolas de samba do Rio de Janeiro, num contrato de R$ 12 milhões,
assinado em 2007; embora a decisão tenha sido da Petrobras, o jornal a
atribuiu a Lula; no seu 'escândalo', o jornal descobriu um segredo de
Polichinelo: o de que a Liesa (a liga das escolas do Rio) é ligada a
bicheiros, como se a Globo, que há décadas explora o carnaval do Rio não
soubesse disso; desde a vitória de Dilma, o Globo denunciou o 'triplex
de Lula', o Uol já decretou sua morte, com um falso câncer no pâncreas, e
agora vem a ligação com bicheiros; sinal de que 2018 já começou.
247 - Ao
que tudo indica, 2018 já começou. Ao menos, para a imprensa familiar no
Brasil, que já escolheu seu alvo: o ex-presidente Lula.
Desde que a presidente
Dilma Rousseff foi eleita, os ataques têm sido sucessivos, indicando até
a possível existência de uma central de comando.
O primeiro episódio foi o
do famoso 'triplex de Lula' no Guarujá (SP), imóvel que nem está no seu
nome, denunciado pelo jornal O Globo, dos irmãos Marinho.
Ontem, o portal Uol, do
grupo Folha, decretou a sentença de morte do ex-presidente, noticiando
um falso câncer no pâncreas (leia mais aqui)
– por sinal, até agora o Uol, de Otávio Frias Filho, não se desculpou
pela mentira contada aos leitores, que continua publicada.
Agora, foi a vez do
tradicionalmente sóbrio Valor Econômico, joint-venture dos Frias e dos
Marinho, disparar contra Lula. A acusação é de que ele teria ordenado um
patrocínio de R$ 12 milhões às escolas de samba do Rio, em 2007,
causando prejuízos à estatal.
O que é a nova denúncia
A reportagem desta
segunda-feira procura criminalizar uma notícia velha: o patrocínio da
estatal a um projeto cultural da Liga Independente das Escolas de Samba
(Liesa), anunciado pelo ex-governador Sérgio Cabral e pelo então
ministro da Cultura, Gilberto Gil, após reunião com o ex-presidente
Lula, o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli e dirigentes da
Liesa, no dia 8 de dezembro de 2007.
Foi uma decisão pública e
divulgada com transparência, inclusive em relação aos valores. A
Petrobras celebrou um contrato de patrocínio anual de R$ 12 milhões com a
Liesa, para associar sua marca ao projeto “Samba Carioca, Patrimônio
Cultural do Brasil”. A notícia de 2007 está aqui,
mas o Valor prefere dizer que o patrocínio da Petrobras “às escolas de
samba” foi ”revelado” em depoimento de um ex-gerente demitido da
estatal, numa investigação interna sobre desvios no setor de Comunicação
da Diretoria de Abastecimento, em 2009. O jornal acrescenta que a
“ordem” de Lula foi dada diretamente ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, o
que é falso, como está claro no noticiário da época.
O Valor destaca ainda
que as escolas de samba são controladas por bicheiros, mas omite que a
Liesa é a mesma entidade que vende anualmente à Rede Globo de Televisão
os direitos de transmissão dos desfiles no Carnaval do Rio. E a Globo é
proprietária de 50% do Valor. A verba da Petrobrás foi utilizada em
ações de promoção social em comunidades próximas às escolas de samba. Já
a Globo, pagando valor semelhante (12,5 milhões) pelos direitos de
transmissão, faturava com a venda de publicidade e das imagens do
desfile. Quanto? Só a Globo pode dizer.
Sequer é novidade a
apuração, pela imprensa, do contrato de patrocínio entre a Petrobras e a
Liesa. A relação entre as escolas de samba vinculadas à Liesa e o jogo
do bicho foi matéria do Estado de S. Paulo em 12 de fevreiro de 2012. Na
ocasião, a estatal informou no site Fatos e Dados: “A Petrobras tem um
relacionamento institucional com a Liesa, do mesmo modo que diversas
empresas, veículos de comunicação e instituições públicas que apoiam
projetos específicos ou o próprio carnaval do Rio de Janeiro.” A nota
da Petrobrás, em 2012, continha todas as informações omitidas na matéria
do Valor.
O episódio Venina
Não é a primeira vez que
o jornal tenta associar o ex-presidente Lula às investigações na
Petrobrás. O mesmo ocorreu com a fantástica entrevista da ex-gerente
Venina Velosa, na qual ela narra que o ex-diretor Paulo Roberto Costa
apontou o dedo para uma foto de Lula, insinuando que o ex-presidente
estaria por trás de desvios na diretoria de Abastecimento. Naquela
entrevista, o Valor ignorou todas as regras do jornalismo responsável
para sancionar – e conferir ares de dramaticidade – a uma suposta
insinuação narrada por terceira pessoa.
O artifício dramático é
repetido na matéria de hoje, que trata como verdadeira a versão do
ex-gerente demitido, embora ela seja incompatível com os fatos, com os
esclarecimentos anteriores da Petrobrás e com a manifestação da
assessoria de Lula. Essa repetição já configura um método de propaganda
travestido de jornalismo: reconstituir a narrativa das investigações
para, de forma deliberada, vincular o ex-presidente Lula à origem de
desvios apurados ou em apuração. É o mau jornalismo a serviço da
oposição em 2018, o ano que já começou.
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