por Fernando Brito
Dois editoriais da Folha, ontem e hoje, mostram o realinhamento de forças do conservadorismo brasileiro.
Ou, falando mais diretamente, o avanço da “opção Alckmin 2018″ em
curso, agora que a onda do “coxismo histérico” refluiu, embora tenha
deixado marcas na testa de seu recente amor por Aécio Neves.
Que murchou na empáfia, anda falando pouco e parece não ter mais o “script” fácil do “contra tudo que aí está”.
Ontem, no violento texto Submissão, o quartel-general da Folha, abre fogo contra a pauta ultraconservadora de Eduardo Cunha:
“Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada
evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de
sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que
tem sido a tradição constitucional brasileira.”(…)
“Uma espécie de furor sacrossanto, para o qual contribui em
grande medida o interesse fisiológico de pressionar o Executivo,
alastra-se para o Senado. No susto, acaba-se com a reeleição e se altera
a duração dos mandatos políticos. O cidadão assiste a tudo sem sentir
que foi consultado.”
Os “modernos” da Folha, mais perfeita tradução da “para-elite ” que
se forma em torno do dinheiro, não poupam dureza no texto, ao dizer que o
parlamento caminha para “transformar-se numa espécie de picadeiro
pseudorreligioso” e chama os seus a reagir, apelando aos “setores
políticos moderados se veem quase compelidos a conciliar-se com a
virulência ideológica”:
“Os inquisidores da irmandade evangélica, os demagogos da bala e
da tortura avançam sobre a ordem democrática e sobre a cultura liberal
do Estado; que, diante deles, não prevaleça a submissão.”
Hoje, de imediato, dá exemplo do que seja não se submeter:
apóia a proposta de não reduzir a maioridade penal da forma brutal que
defendem Cunha e os “irmãos” de mandato, mas submetê-la ao que parece
estar inevitavelmente consensual: a extensão do prazo de internação dos
que cometam “crimes hediondos”, na faixa etária dos 16 aos 18 anos, o
que não trará nenhum resultado expressivo em matéria de combate à
criminalidade, mas responde à sanha do “prende mais” que domina o Brasil
destes dias.
Ou melhor, que teria como resultado uma projeção indesejada, neste campo, a Eduardo Cunha.
Curiosamente, a proposta de Geraldo Alckmin e José Serra, até agora
(ou até há pouco) minoritária dentro do próprio PSDB, encantado com o
poder de Eduardo Cunha de infernizar o Governo Dilma.
Aécio assiste, sem poder reagir, o avanço “alckimista” entre os
tucanos. Salvo haja uma recuperação espetacular do governo Dilma, que
leve o embate com Lula em 2018 ser uma derrota anunciada e inevitável,
não será o candidato tucano e, não sendo candidato, não terá a força do
“recall” eleitoral a empurrá-lo.
E , como nada abala o a alta classe média e sua inabalável crença na
soberania de São Paulo sobre o Brasil, o mineiro-carioca vê rebrotar o chuchu que sobreviveu às torneiras secas, ao Serra, à Siemens e à seca.
A Folha, que empurrou como poucos o “coxismo”, cumpre seu papel de
corneteira, a tocar reunir para a classe média ao velho liberalismo
entreguista tucano, pedindo o fim de sua transitória paixão pela
ultra-direita.
Que, porém, existe em número e forma que há tempos não conhecia e não
deixará de ter seu rosto, como vimos repetindo aqui, em 2018,
certamente com tempero supostamente evangélico.
O que, de passagem – e como qualquer um percebe, é também um Bye, Marina.
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