No topo, Gloria Alvarez, a estrela da direita jovem
latino-americana. Foto: Fernando Conrado. Abaixo, em palestra no
Instituto FHC, ela fala para o ex-presidente, sentado à sua frente.
Foto: Vinicius Doti/iFHC
A nova roupa da direita
Rede de think tanks conservadores dos EUA financia jovens
latino-americanos para combater governos de esquerda da Venezuela ao
Brasil e defender velhas bandeiras com um nova linguagem
por Marina Amaral
“O corpo é a primeira propriedade privada que temos; cabe a cada um
de nós decidir o que quer fazer com ele”, brada em espanhol a loirinha
de voz firme, enquanto se movimenta com graça no palco do Fórum da
Liberdade, ornado com os logotipos dos patrocinadores oficiais – Souza
Cruz, Gerdau, Ipiranga e RBS (afiliada da Rede Globo). O auditório de 2
mil lugares da PUC-RS, em Porto Alegre, completamente lotado, explode em
risos e aplausos para a guatemalteca Gloria Álvarez, 30 anos, filha de
pai cubano e mãe descendente de húngaros.
Gloria ou @crazyglorita (55 mil seguidores no Twitter e 120 mil em sua fanpage do
Facebook) ascendeu ao estrelato entre a juventude de direita
latino-americana no final do ano passado, quando um vídeo em que ataca o
“populismo” na América Latina durante o Parlamento Iberoamericano da
Juventude em Zaragoza (Espanha) viralizou na internet. No principal
fórum da direita brasileira, Gloria e o ex-governador republicano da
Carolina do Sul David Bensley são os únicos entre os 22 palestrantes,
brasileiros e estrangeiros, escalados para os keynote – palestras-chave que norteiam os debates nos três dias do evento, batizado de “Caminhos da Liberdade”.
Radialista há dez anos, hoje com um programa na TV, Gloria é uma
show-woman cativante. Conduz com desenvoltura a plateia formada
majoritariamente por estudantes da PUC gaúcha, uma das melhores e mais
caras universidades do Sul do país. “Quem aqui se declara liberal ou
libertarista que levante a mão?”, pede ao público, que responde com mãos
erguidas. “Ah, ok”, relaxa.
Sua missão é ensinar a seus pares ideológicos como “seduzir e
enamorar os públicos de esquerda” e vencer “os barbudos de boina de
Che”, explica a jovem líder do Movimiento Cívico Nacional (MCN), uma
pequena organização que surgiu em 2009 na Guatemala na esteira dos
movimentos que pediam – sem êxito – o impeachment do presidente
social-democrata Álvaro Colom.
A primeira lição é utilizar nas redes sociais o hashtag criado
por ela, “república x populismo”, para superar “a divisão obsoleta
entre direita e esquerda”. “Um esquerdista intelectualmente honesto tem
de reconhecer que a única saída é o emprego, e um direitista do século
21, que já se modernizou, tem de reconhecer que a sexualidade, a moral,
as drogas são um problema de cada um; ele não é a autoridade moral do
universo”, continua, sob uma chuva de aplausos. Nada de culpa, nem moral
nem social, ensina.
A mensagem é liberdade individual, “empoderamento” da juventude,
impostos baixos, Estado mínimo – a plataforma da direita liberal (em
termos econômicos) no mundo todo: “A riqueza não se transfere, senhores,
a riqueza se cria a partir da cabecinha de cada um de vocês”, diz. Da
mesma maneira, Gloria rebate programas sociais de assistência aos mais
pobres, política de cotas para mulheres, negros, deficientes e até mesmo
a existência de minorias: “Não há minorias, a menor minoria é o
indivíduo, e a ele o que melhor serve é a meritocracia”.
“Há uma verdade que todo ser humano deve alcançar para ter paz, se
não quiser viver como um hipócrita. Todos nós, 7 bilhões e meio de seres
humanos que habitamos este planeta, somos egoístas. É essa a verdade,
meus queridos amigos do Brasil, todos somos egoístas. E isso é ruim? É
bom? Não, é apenas a realidade”, diz, definitiva. “Há pessoas que não
aceitam essa verdade e saem com a maravilhosa ideia: ‘Não! [imita a voz de um homem],
eu vou fazer a primeira sociedade não egoísta’. Cuidem-se, brasileiros;
cuide-se, América Latina! Esses espertinhos são como Stálin, na União
Soviética, como Kim Jong-il, Kim Jong-un, na Coreia do Norte, Fidel
Castro, em Cuba, Hugo Chávez, na Venezuela.” E por que “seguimos como
carneirinhos” atrás desses “hipócritas”? Porque [faz careta e vozinha de velha]
“nos ensinam que é feio ser egoísta e que pensar em nós mesmos é
pecado. Quantos de vocês já não viram alguém dizer ‘ah, necessitamos de
um homem bom, que não pense só em si”, diz, encurvando-se à medida que
fala para em seguida recuperar a postura altiva: “Mira, señores, a menos que seja um marciano, esse homem não existe, nunca existiu, nem existirá jamais”. Aplausos frenéticos.
Mas, explica, os “defensores da liberdade” também tem sua parcela de
responsabilidade. Eles não sabem comunicar suas ideias, usar a
tecnologia para “empoderar os cidadãos” e “libertar” a América Latina.
“Se ficarmos discutindo macroeconomia, PIB etc., vamos perder a batalha.
Temos que aprender com os populistas a falar o que as pessoas entendem,
fazer com que se identifiquem”, ela diz. “E aqui vou lhes dar outro
conselho porque dizem que nós, os liberais, somos malditos
exploradores”, ironiza. “Encontrei um maneira muito bonita de definir o
conceito de propriedade privada. E com esse conceito de propriedade
privada os esquerdistas fazem assim: Ôooooo! [inclina o corpo para trás].”
A propriedade privada, diz, é o que acumulamos em toda uma vida, a
partir de nossas primeiras propriedades: corpo e mente. O passado,
afirma, não é igual para ninguém, esse acúmulo é pessoal. “Isso nos
humaniza, dá um coraçãozinho a nós, liberais, tão desgraçados.” Risos.
Aplausos.
“Há pessoas que querem o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à
moradia. A ONU agora quer até o direito universal à internet”, desdenha,
embora tenha acabado de dizer que a tecnologia é a chave para mudar o
mundo. “Imaginem que, nesse auditório, alguns queiram o direito à
educação, outros o direito à saúde, outros o direito à moradia. Então,
se eu dou a vocês a educação, todos aqui vão pagar por isso, e vocês vão
ser VIPs, e eles, cidadãos de segunda categoria. Se eu dou a eles a
saúde, todos neste auditório vão pagar pela saúde deles, e eles vão ser
VIPs. Se eu dou a esses as moradias, vou ter que tirar de todos vocês
para dar moradia a eles, e eles vão ser esses VIPs. Isso não é justiça
social, é desigualdade perante a lei”, conclui, novamente sob risos e
aplausos.
“Se cada um na América Latina tiver direito à vida, liberdade e
propriedade privada, então cada um que vá atrás da educação que queira,
da saúde que queira, da casa onde quer morar, sem precisar de
super-Chávez, super-Morales, super-Correa”. Ovação. Assobios. Antes de
encerrar os 40 minutos de exposição, Gloria convida os presentes a
contrapor a visão de mundo que “vitimiza os latino-americanos”, “joga a
culpa nos ianques”, mina a “autoestima” e a coragem de assumir riscos
que exige o espírito empreendedor. A plateia aplaude de pé.
Neoliberais e libertaristas
Gloria Álvarez não representa nada exatamente novo. A grande
diferença é a linguagem. O MCN (movimento a que ela pertence) recebe
“fundos de algumas das maiores empresas da elite empresarial
tradicional, conta o jornalista investigativo Martín Rodríguez Pellecer,
diretor do site guatemalteco Nómada, parceiro da Pública.
“Por fontes próximas, soube que uma das indústrias que os apoiam para
campanhas de massa e lobby no Congresso é a Azúcar de Guatemala, um
cartel poderosíssimo de treze empresas (a Guatemala é o quarto maior
exportador mundial de açúcar) e as usinas guatemaltecas têm, inclusive,
investimentos em usinas no Brasil.”
O mesmo pode-se dizer em relação a suas ideias. Apesar do título sedutor, os libertarians –
libertaristas em português – “são um segmento minoritário entre as
correntes que ganharam influência no pós-guerra em oposição às políticas
intervencionistas de inspiração keynesiana”, explica o economista Luiz
Carlos Prado, da Universidade Federal no Rio de Janeiro.
A partir da crise do petróleo dos anos 1970, economistas pró-mercado
como o austríaco Friedrich Hayek (Prêmio Nobel de 1974), monetaristas da
Escola de Chicago de Milton Friedman (Prêmio Nobel de 1976) e os
novo-clássicos associados a Robert Lucas (Prêmio Nobel de 1995) passaram
a dominar o pensamento econômico global e se tornaram conhecidos do
grande público sob um único rótulo: “neoliberal”.
Seus conceitos foram trazidos para a América Latina pelo setor mais conservador americano, representado principalmente pelos think tanks ligados
a Ronald Reagan, que depois de ter perdido as primárias republicanas em
1968 e 1976, se elegeu presidente em 1980, tendo Friedman como
principal conselheiro. Também predominaram no governo de Margaret
Thatcher (1979-1991) na Inglaterra.
“Os defensores do liberalismo clássico eram também defensores da
liberdade política, mas a corrente chamada de ‘neoliberal’ defendia
essencialmente a não intervenção do Estado na economia sem uma
preocupação particular com a questão da liberdade política, chegando, em
alguns casos, a apoiar sem constrangimentos governos ditatoriais como o
de Pinochet no Chile”, observa Luiz Carlos Prado.
A Guatemala de Gloria Álvarez é um bom exemplo de como as ideias libertarians se
traduziram na América Latina. Em 1971,“uma parte muito representativa
da elite econômica guatemalteca assumiu como projeto político o
libertarismo de direita, quando fundou a Universidade Francisco
Marroquín (UFM)”, conta o jornalista Martín Rodríguez Pellecer. “O
fundador da universidade, Manuel Ayau, conhecido como El Muso, em alusão
a Mussolini, se uniu ao projeto fascista anticomunista da MLN. Desde
então, a UFM vem formando quadros políticos e acadêmicos para
desacreditar o Estado e a justiça social e converter a Guatemala no país
que arrecada menos impostos na América Latina (11% em relação ao PIB) e
o que menos redistribui”, explica.
Foi nessa universidade que Gloria estudou e “se converteu em uma
libertarista um tanto menos conservadora que seus professores, uma
mistura de neoliberais e Opus Dei. Álvarez se declara ateia e a favor do
aborto e, embora tenha se tornado uma estrela da direita
latino-americana, na Guatemala é uma referência menor para a direita,
não tem base política nem vai ser candidata. Eu a vejo mais como uma enfant terrible libertarista”, diz Martín.
Os libertarians ressurgiram com força nos Estados Unidos
depois da crise de 2008 – e ao clamor subsequente pela regulamentação do
mercado – e em decorrência da ascensão do democrata Barack Obama ao
poder. Pregam a predominância do indivíduo sobre o Estado, a liberdade
absoluta do mercado, a defesa irrestrita da propriedade privada. Afirmam
que a crise econômica que jogou 50 milhões de pessoas na pobreza não se
deveu à falta de regulação do mercado financeiro, mas pela proteção do
governo a alguns setores da economia. E rejeitam enfaticamente os
programas sociais do governo Obama.
No entanto, uma parte significativa dos libertaristas tem se
distanciado do tradicionalismo da direita no campo do comportamento,
defendendo posições associadas à esquerda, como a defesa da liberação
das drogas e a tolerância aos homossexuais, em nome da liberdade do
individual. O senador republicano Rand Paul, pré-candidato à
presidência, é um de seus representantes mais conhecidos.
“Os libertarians que estão com os conservadores no Tea Party (a corrente radical de direita no Partido Republicano americano) estão em think tanks como
o Cato Institute e compõem a direita pós-moderna, representada, por
exemplo, por Cameron, na Inglaterra, que modernizou a agenda da redução
do estado do bem-estar social”, resume o professor. Ele acha graça
quando falo em libertarians brasileiros, seguidores da escola
austríaca de economia de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. “A escola
austríaca é uma corrente muito minoritária mesmo na academia”, diz.
“Quem são esses libertarians? O que temos no Brasil são
economistas sofisticados que seguem correntes como a dos novo-clássicos
do prêmio Nobel Robert Lucas e outras similares, políticos de direita
pouco elaborados como o Ronaldo Caiado (senador do DEM-GO) e essa classe
média conservadora que lê Rodrigo Constantino na Veja”, resume.
Caiado e Constantino são participantes veteranos do Fórum da Liberdade em Porto Alegre. A novidade é que os libertarians do Tea Party mostraram-se enfim capazes de se apresentar como a face convidativa da direita para a juventude brasileira.
Vem pra rua, ciudadano
Na véspera do Fórum, no dia 12 de abril, Gloria Álvarez discursou
contra o “populismo maldito” vestida com uma camiseta de lantejoulas
formando a bandeira do Brasil para cerca de 100 mil pessoas na avenida
Paulista, em São Paulo, na segunda rodada de manifestações “Fora Dilma”.
Do alto do caminhão do Vem pra Rua, o líder do movimento, Rogério
Chequer, a apresentou à multidão como “uma das maiores representantes da
batalha contra o populismo do Foro de São Paulo” e se manteve o tempo
todo ao seu lado (veja o vídeo com o discurso de Gloria na Paulista aqui).
Gloria, que havia anunciado antecipadamente sua presença nos protestos
em uma entrevista no programa de Danilo Gentili no SBT, tinha dado uma
palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso, assistida pelo próprio
ex-presidente, três dias antes.
Entre os que lideraram os protestos de março e abril contra o
governo, o movimento de Chequer foi um dos últimos a assumir a bandeira
do impeachment, o que lhe valeu um pito público do vetusto Olavo de
Carvalho, que o acusou de “paumolice tucana”. O Movimento Brasil Livre,
conhecido principalmente através da figura de Kim Kataguiri, assumiu
desde o início a bandeira do impeachment e rompeu publicamente com
Chequer, divulgando fotos dele ao lado do senador José Serra (PSDB-SP)
na campanha de Aécio Neves – tachado de “traidor” pela hesitação em
pedir o impeachment da presidente eleita. Voltaram às boas depois que a
comissão de senadores liderada por Aécio e Ronaldo Caiado (DEM-GO) fez
sua controversa expedição a Caracas.
Caiado, aliás, estava no debate de abertura da edição do Fórum deste
ano. Sem a graça irreverente de Glorita, o senador ruralista conservador
arrancou aplausos da plateia com frases de efeito contra a corrupção do
governo, menções ao “Foro de São Paulo”, pedido de “renúncia” à
presidente Dilma e ataques ao BNDES.
Curiosamente, as acusações de Caiado foram feitas sob os logotipos da
Gerdau e Ipiranga – do grupo Ultra –, que estão entre os maiores
tomadores de empréstimos do BNDES segundo os dados levantados pela Folha de S.Paulo. Ambos obtiveram individualmente mais de R$ 1 bilhão de recursos do banco apenas entre 2008 e 2010.
O empresário gaúcho Jorge Gerdau é um dos idealizadores do Fórum da
Liberdade, que surgiu em 1988 com a intenção de promover o debate entre
diversas correntes de pensamento. Em suas primeiras edições, o Fórum
incluiu o ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu e o falecido
ex-governador Leonel Brizola entre os debatedores, sem prejudicar sua
identidade como principal fórum conservador do país.
Foi ali que, em 2006, foi lançado oficialmente o principal think tank da direita no Brasil, o Instituto Millenium.
Armínio Fraga (escolhido para ser ministro da Fazenda de Aécio Neves
se ele vencesse as eleições) é sua figura mais conhecida no campo
econômico. Seus mantenedores são a Gerdau, a editora Abril e a
Pottencial Seguradora, uma das empresas de Salim Mattar, dono da
locadora de veículos Localiza. A Suzano, o Bank of America Merrill Lynch
e o grupo Évora (dos irmãos Ling) também são parceiros. William Ling
participou da fundação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) em
1984, que, formado por jovens líderes empresariais, organiza o Fórum
desde a primeira edição; seu irmão, Wiston Ling, é fundador do Instituto
Liberdade do Rio Grande do Sul; o filho, Anthony Ling, é ligado ao
grupo Estudantes pela Liberdade, que criou o MBL. O empresário do grupo
Ultra, Hélio Beltrão, também está entre os fundadores do Millenium,
embora tenha o próprio instituto, o Mises Brasil.
A rede de think tanks liberais e libertaristas no Brasil se
completa com mais duas entidades: o Instituto Ordem Livre – que realiza
seminários para a juventude – e o Centro Interdisciplinar de Ética e
Economia Personalista, do Rio de Janeiro, ligado ao Opus Dei. O jurista
Ives Gandra, autor do controverso parecer sobre a existência de base
jurídica para o impeachment da presidente Dilma, faz parte de seu
conselho.
A exemplo do Millenium, a grande maioria desses institutos foi criada
recentemente. A semente original foi o Instituto Liberal, criado em
1983 pelo engenheiro civil carioca Donald Stewart Jr., falecido em 1999.
De acordo com a tese de doutorado do historiador Pedro Henrique
Pedreira Campos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “A ditadura
dos empreiteiros (1964-1985)”, a Ecisa (Engenharia Comércio e Indústria
S.A.), empresa de Stewart Jr., foi uma das maiores empreiteiras durante a
ditadura militar e Stewart Jr. se associou à construtora
norte-americana Leo A. Daly para construir escolas no Nordeste para a
Sudene. A participação de companhias dos EUA nas obras era exigência dos
financiamentos da Usaid – a agência de desenvolvimento americana que
funcionava como braço da CIA durante as ditaduras latino-americanas.
Donald Stewart Jr. também era um velho amigo de um personagem crucial
nessa história, o argentino radicado nos Estados Unidos Alejandro
Chafuen, 61 anos, ambos membros da seleta Mont Pelèrin Society, fundada
pelo próprio Hayek em 1947 na Suíça e sediada nos Estados Unidos, que
reúne os mais fiéis libertarians.
El Muso, o fundador da universidade onde estudou Gloria Álvarez, foi o
primeiro latino-americano a presidir a Mont Pelèrin, e seu atual
reitor, Gabriel Calzada, participa da diretoria com a brasileira
Margaret Tsé, CEO do Instituto da Liberdade, o suporte ideológico. O
atual presidente da Mont Pelèrin Society é o espanhol Pedro Schwartz
Girón, semeador de think tanks vinculados à FAES, a fundação do
Partido Popular (PP) presidida por José María Aznar, que promoveu o
Parlamento Iberoamericano da Juventude, de onde Gloria Álvarez foi
catapultada para a fama.
Pedro Schwartz, Alejandro Chafuen e o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza, coautor do livro Manual do perfeito idiota latino-americano, um hit da
juventude de direita, participaram do painel “América Latina”, no Fórum
da Liberdade. Chafuen também participou discretamente dos protestos de
12 de abril em Porto Alegre. Não resistiu, porém, a postar em seu
Facebook uma foto em que aparece vestido com a camisa da CBF abraçado ao
jovem cientista político Fábio Ostermann, da coordenação do Movimento
Brasil Livre – nome que assumiu nas ruas o grupo Estudantes pela
Liberdade (EPL).
O gaúcho Ostermann, o mineiro Juliano Torres e o gaúcho Anthony Ling
são fundadores do EPL, a versão local do Students for Liberty, uma
organização-chave na articulação entre os think tanks conservadores
americanos – especialmente os que se definem como libertários – e a
juventude “antipopulista” da América Latina. Mr. Chafuen, presidente da
Atlas Network desde 1991, é o seu mentor.
A Atlas Network (nome fantasia da Atlas Economic Research Foundation desde 2013) é uma espécie de metathink tank,
especializada em fomentar a criação de outras organizações
libertaristas no mundo, com recursos obtidos com fundações parceiras nos
Estados Unidos e/ou canalizados dos think tanks empresariais locais para a formação de jovens líderes, principalmente na América Latina e Europa oriental.
De acordo com o formulário 990, que todas as organizações filantrópicas tem de entregar ao IRS (Receita nos EUA), a receita da Atlas em 2013 foi de US$ 11,459 milhões.
Os recursos destinados para atividades fora dos Estados Unidos foram de
US$ 6,1 milhões: dos quais US$ 2,8 milhões para a América Central e US$
595 mil para a América do Sul.
Com exceção do Instituto Fernando Henrique Cardoso, todas as
organizações citadas até agora compõem a rede da Atlas Network no
Brasil, incluindo o MCN de Gloria Álvarez, a Universidade Francisco
Marroquín e o Estudantes pela Liberdade, uma organização que nasceu
dentro da Atlas em 2012. Como veremos, além dos recursos citados há
projetos bem mais vultosos financiados por outras fundações e executados
pela Atlas.
Infográfico: Marcelo Grava
Para continuar a ler a excelente reportagem de Marina Amaral, na Pública, clique aqui.
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