Diz uma piada antiga que os gringos, quando sambam, balançam os dedinhos das mãos para que não lhes percebam os pés desajeitados.
O governador Geraldo Alckmin está fazendo o mesmo com o problema dramático da água em São Paulo.
Hoje, na Folha, se sai com um declaração provinciana de que o Rio Paraíba do Sul “é paulista” e que retirar água numa barragem localizada no início de seu curso, “por não envolver diretamente o rio Paraíba do Sul, que é interestadual, mas o reservatório do Jaguari, que faz parte de sua bacia, o projeto não diz respeito ao Estado do Rio”.
Alckmin sabe perfeitamente que diz uma mentira. Se o Governo de Minas resolvessem fazer barragens e retirar água das cabeceiras dos rios que alimentam o Sistema cantareira teria o direito de dizer que isso não diz respeito a São Paulo porque elas estão em território mineiro? Obvio que não.
Pior que isso, porém, é que essa argumentação, sobre uma possível retirada de água do Paraíba do Sul – os 18 meses previstos por Alckmin são uma piada para qualquer um que conhece o processo de licenciamento e execução de obras envolvendo represas e uso de recursos hídricos – são mera dissimulação, pelo tempo que demoraria a acontecer de fato.
E São Paulo tem o fantasma de uma falta de água de dimensões saarianas para daqui a seis meses, isso se o bombeamento idealizado pela Sabesp funcionar perfeitamente.
A irresponsabilidade na gestão dos recursos atingiu níveis incompreensíveis.
O maior reservatório do Sistema, o Jaguari-Jacareí, que representa quase 83% do total, já foi abandonado à própria sorte, com a Sabesp permitindo que ele se esvazie num ritmo mais intenso, para manter altos o Cachoeira e o Atibainha, este último aquele que será o primeiro a ser bombeado.
Está, hoje, com apenas 7,54% de sua capacidade, contra 11,68% do início do mês. Naquela data, a acumulação total do sistema era de 16,25%, contra os 14,1% de hoje. Ou seja, Jaguari-Jacareí, com quatro quintos do total, caiu num ritmo dobrado em relação ao sistema como um todo. Nos últimos dias, ele fornece aos demais reservatórios mais água do que eles transferem à usina elevatória de Santa Inês e, daí, a Guaraú e ao abastecimento público.
Abaixo de seu volume operacional, São Paulo perderá, de uma só tacada, metade das reservas com que conta para abastecer a cidade. São Paulo terá, reduzido ao Cacheira, Atibainha e Paiva Castro – os outros reservatórios – pouco mais de 7o bilhões de litros d’água, consumidos à razão de 2 bilhões de litros por dia, além, claro, do que afluir da chuva para estas represas.
É obvio que nem mesmo se fossem atropelados os direitos de qualquer dos outros dependentes do Rio Paraíba haveria água deste rio para socorrer São Paulo.
Alckmin trabalha com a confusão para fugir às suas responsabilidades, exatamente como aconteceu na sua ridícula ação para “reaver” o superfaturamento dos trens paulistas, que a Justiça mandou voltar, por meramente propagandista e sem base técnica.
Já fez isso, de forma perversa, dizendo que a Agência Nacional de Águas impediu que o sistema Cantareira acumulasse mais água em 2012, o que a ANA desmentiu numa nota tímida e sem divulgação.
Cabe ao Governo Federal, que detém a autoridade superior em matéria de administração das águas nacionais, começar a esclarecer a população paulistana – e de toda a região abrangida pelo Sistema – da real situação e da necessidade de racionar, ainda que levemente, o fornecimento de água, para evitar que o que é ruim vire desastroso.
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