O que não entendo são as pessoas que reproduzem a violência e escrevem na internet como se isso não significasse nada. Como vamos enfrentar a violência no Brasil com essa postura? Como construir uma sociedade mais generosa, humana, respeitosa?
Na madrugada de segunda, cheguei da delegacia de polícia em casa,
como outros tantos brasileiros chegam, após serem vítimas da violência
urbana - cansada, perplexa, triste e contraditoriamente feliz por
estarmos ali, vivos. Repassava em minha cabeça detalhes do assalto -
como a feliz coincidência de meu enteado não estar no automóvel - quando
fui surpreendida por uma ligação de um jornalista. Nosso boletim de
ocorrência com todos os seus detalhes - como o fato de reconhecermos ou
não os ladrões - estava nas mãos da imprensa e eles, os jornalistas,
telefonaram na madrugada. Foi pela imprensa que minha mãe ficou sabendo.
Não tive nem sequer tempo de telefonar. Claro, entendo o trabalho dos
jornalistas. Tenho dificuldade de entender o vazamento do boletim de
ocorrência.
Um pouco depois, fui para a internet agradecer as pessoas que, carinhosamente, estavam preocupadas e nos escreviam.
Tive acesso a comentários inacreditavelmente maldosos relacionados ao que nos aconteceu. Motivados por dois "jornalistas", diziam que, por ser comunista, merecia ser assaltada, pois estava distribuindo renda. Fazendo deboche com o assalto e com a minha ideologia, como se o fato de eu defender distribuição de renda mais justa justificasse a violência que sofri. Um dos jornalistas chegou a chamar de gesto de solidariedade o assalto. Algo tão maniqueísta como dizer que alguém que não é de esquerda defende a miséria ou como defender que alguém de direita seja torturado para ver como a ditadura militar doeu nos comunistas. Um desrespeito com a situação que vivi, típico de quem é totalitário, não me respeitando enquanto indivíduo porque penso diferente.
Tive acesso a comentários inacreditavelmente maldosos relacionados ao que nos aconteceu. Motivados por dois "jornalistas", diziam que, por ser comunista, merecia ser assaltada, pois estava distribuindo renda. Fazendo deboche com o assalto e com a minha ideologia, como se o fato de eu defender distribuição de renda mais justa justificasse a violência que sofri. Um dos jornalistas chegou a chamar de gesto de solidariedade o assalto. Algo tão maniqueísta como dizer que alguém que não é de esquerda defende a miséria ou como defender que alguém de direita seja torturado para ver como a ditadura militar doeu nos comunistas. Um desrespeito com a situação que vivi, típico de quem é totalitário, não me respeitando enquanto indivíduo porque penso diferente.
Li também que o que passamos havia sido pouco. Que deveria ter sido
violentada por defender direitos humanos. Não imagino por que minha luta
em defesa da livre orientação sexual, direitos das mulheres, condições
carcerárias dignas, me faça merecedora de ser morta em um assalto à mão
armada. Mais um gesto típico dos que não respeitam quem pensa diferente.
Mais ainda: outros tantos diziam que os ladrões estavam certos em
roubar de mim por ser deputada, pois políticos são todos ladrões e
apenas estavam pegando de volta o dinheiro roubado do povo. Como nunca
roubei um centavo, não tenho centavo algum para devolver. O salário que
recebo como parlamentar, há dez anos, devolvo com atuação séria e
comprometida. Muitos podem não concordar com minhas ideias, mas ninguém
pode questionar com solidez a minha seriedade e honestidade. E mais, os
corruptos devem ser tirados da política de forma democrática com
julgamento pelos espaços adequados e não sendo vítimas de violência ou
bandidagem.
Claro que entendo a indignação da população com os políticos! É essa
indignação que me motiva há 15 anos, e me faz lutar para mudar a
política e, sobretudo, a forma como são financiadas as campanhas.
Entendo as pessoas que pensam diferente de mim. E as respeito. Mas, para
mim, o protesto contra a má política deve ser feito, em outubro, nas
urnas. Contra as ideias que não concordamos também. Assim é a
democracia. Que ela viva!
O que não entendo são as pessoas que reproduzem a violência e
escrevem na internet como se isso não significasse nada. Como vamos
enfrentar a violência no Brasil com essa postura? Como construir uma
sociedade mais generosa, humana, respeitosa?
Alguns podem se perguntar: E sobre os ladrões, ela não vai falar?
Sobre esses, falei com a polícia. Quero que todos paguem pelos erros que
cometem, quem me assaltou inclusive. Contra a criminalidade, a
violência, o tráfico de drogas, que transformam nossas cidades em palco
de guerra, luto há quinze anos de minha vida. Há dez anos com mandatos.
Apresentei leis, aprovei algumas. Disputei, por exemplo, duas vezes a
prefeitura por entender que poderia mudar muitas questões na cidade.
Perdi. Respeitei os vencedores.
Inspirada num pensamento de Nietzsche, "Quem combate monstruosidades
deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente
para um abismo, o abismo também olha para dentro de você", quando fui
para Brasília transformei uma frase em mantra - "não vou me transformar
naquilo que combato".
Luto por uma cultura de paz, que respeite as diferenças e construa
relações mais solidárias e generosas entre as pessoas. Que o abismo não
olhe tanto para dentro de nós e que possam refletir sobre a violência
que cometeram contra mim e minhas pessoas queridas em cada comentário
desses. Lutar para mudar o Brasil, com amor no coração, vale mais a
pena.
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