Lava Jato: demissões, que, no Globo da famiglia Marinho, viram meros detalhes...
Os efeitos práticos da Operação Lava Jato começam a
ser sentidos na economia e na vida real da população brasileira; ontem,
trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que estão com
os salários atrasados, fecharam a ponte Rio-Niterói, e protestaram
diante da Petrobras; na cobertura do jornal 'O Globo', a ponte se tornou
'refém de um protesto', que não teria sido devidamente reprimido; tom
adotado pelo Globo é previsível; irmãos Marinho defendem o fim da
política de conteúdo nacional e até a quebra das empreiteiras
brasileiras; em artigo publicado na revista Fórum, o jornalista Renato
Rovai defende a urgência de que a Petrobras trave a batalha da
comunicação em defesa dos empregos; "Optar pelo não enfrentamento e
deixar a Petrobras ao bel prazer da narrativa da mídia tradicional, que
bate na companhia há um ano, é abrir mão não apenas da disputa política,
mas deixar que se desconstrua toda uma estratégia de Estado erguida há
anos", diz ele.
Rio 247 - A
população do Rio de Janeiro sentiu, ontem, os efeitos práticos da
Operação Lava Jato. Funcionários que trabalham nas obras do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, fecharam a ponte Rio-Niterói,
em protesto contra os salários atrasados. O motivo: uma das
empreiteiras envolvidas, a Alumini, foi atingida pela Lava Jato, perdeu o
crédito na praça e entrou em recuperação judicial.
Assim como a Alumini, diversas
outras empreiteiras, em especial as que tiveram executivos presos (de
forma preventiva há três meses), como a OAS, entraram em grave crise
financeira e estão demitindo seus funcionários. Estimativas do setor
privado apontam que a Lava Jato poderá retirar um ponto percentual do
PIB brasileiro em 2015, num ano já tomado por perspectivas sombrias.
Diante do quadro, a narrativa da
mídia tradicional tem fechado os olhos para a crise que se avizinha – ou
melhor, em alguns casos, até a estimula.
O exemplo mais emblemático é o do
Grupo Globo. No fim de semana, os procuradores que conduzem a Lava Jato
ao lado do juiz Sergio Moro foram tratados como heróis, em Época (leia aqui).
Nesta quarta-feira, a ponte Rio-Niterói, no jornal 'O Globo', se tornou
'refém de um protesto', que, segundo o jornal, deveria ter sido
duramente reprimido pela polícia. Eis a chamada de primeira página:
"Sem
repressão de agendas da Polícia Rodoviária Federal, cerca de 200
funcionários do Comperj, sem salários desde dezembro, fecharam por duas
horas a ponte Rio-Niterói. Milhares de pessoas ficaram presas em
engarrafamentos e até ambulâncias não puderam passar na via. Para
especialistas, direito de ir e vir foi ignorado."
Para o Globo, o direito dos
trabalhadores ao salário, ou dos executivos presos às garantias
individuais que garantem a possibilidade de se defender em liberdade, é
menos relevante do que o de transitar na ponte. Por trás disso, há
também uma batalha ideológica. Os irmãos Marinho, que controlam o Grupo
Globo, defendem o fim da política de conteúdo nacional nas encomendas da
Petrobras, a abertura do pré-sal a empresas estrangeiras, a
substituição de empreiteiras nacionais por firmas internacionais e até a
privatização da estatal – objetivos que podem vir a ser alcançados, a
depender dos desdobramentos da Lava Jato.
Nesse contexto, é natural que o
emprego e o salário do trabalhador brasileiro se transforme em apenas um
detalhe. Um incômodo que atrapalha o trânsito.
Batalha da comunicação
Diante de um ano com perspectivas já
sombrias para a economia brasileira, o que de pior poderia aconteceria
seria a contaminação das expectativas empresariais por demissões em
massa no setor empresarial, em especial na indústria naval e do setor de
óleo e gás. Em razão disso, 247 republica artigo de Renato Rovai, da
revista Fórum, que defende a batalha da comunicação em defesa dos
empregos e do interesse nacional:
A Petrobras perde na comunicação. E o Brasil pode perder empregos
Por Renato Rovai
Fórum participou na noite desta
segunda-feira (9) de um bate-papo informal promovido pelo Centro de
Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com o ex-presidente da
Petrobras, José Sergio Gabrielli. Da conversa, que teve pouco mais de
duas horas, foi possível colher informações sobre a atual situação da
maior empresa brasileira e também uma certeza: a Petrobras está perdendo
feio a batalha da comunicação.
Não, o ex-mandatário da companhia
não disse isso, mas observando seus argumentos a respeito da crise que
ronda a empresa e que é alvo principal da batalha político-midiática que
ameaça o governo Dilma, é fácil chegar a essa constatação. Gabrielli
discorre com facilidade a respeito de boa parte da pauta repisada por
parte da mídia desde o ano passado contra a Petrobras. Não nega que haja
problemas, e muitos, mas reivindica que sejam reconhecidos os avanços
obtidos nos últimos anos, e pede que não se confunda a instituição com
os malfeitores.
Invocou a lembrança da reorientação
na direção da companhia no primeiro governo Lula, quando não só houve
uma mudança na tendência ao fatiamento da empresa, que rumava em um
norte privatista, como também um direcionamento para que a petrolífera
passasse a fazer parte integrante das políticas públicas estratégicas do
governo, fomentando, por exemplo, o renascimento da indústria naval
brasileira.
O renascimento se deu com a
instituição da política de conteúdo nacional. Ao invés de encomendar
plataformas e outros equipamentos fora do país, a empresa passou a fazer
encomendas dentro do país. Política que, agora, se encontra em risco em
função da ameaça aos contratos firmados que envolvem a geração de
empregos como o que estabelece a construção de 29 sondas com a Sete
Brasil, empresa responsável por um programa de 25,7 bilhões de dólares.
Como em três dos cinco principais estaleiros e em cinco das oito
operadoras de sondas as sócias são empreiteiras envolvidas na Lava Jato,
a execução do programa, que teve uma proposta de financiamento adiada
pelo BNDES na última sexta-feira (6), está em risco. Estima-se em 149
mil os empregos diretos e indiretos envolvidos na construção das sondas
(ver mais detalhes em matéria aqui).
O fato, reforçado por Gabrielli, mas
não só por ele, é que o impacto da redução dos investimentos da
Petrobras sobre a economia em 2015 pode ser um aumento do desemprego e a
redução do PIB brasileiro. A médio prazo, a política de conteúdo
nacional fica comprometida. Combinando-se uma política de contenção
fiscal e elevação de taxa de juros, o resultado certo é uma recessão
durante o ano.
E um dos grandes problemas, e isso é
conclusão de quem escreve, é que o governo não tem a clareza para se
expressar a respeito da Petrobras e do que ela representa com a limpidez
que faz o ex-presidente da companhia em um bate-papo. Ele, aliás, foi o
responsável pela montagem do Fatos e Dados, blogue da Petrobras que, no
passado, desmoralizou parte da mídia tradicional ao fazer o
enfrentamento não só na área da comunicação, mas também o embate
político para desmentir o que revistas e jornais costumavam falar sem a
devida contra-argumentação. No ano passado, em entrevista a blogueiros, o
ex-presidente Lula chegou a questionar: onde está o blogue da
Petrobras? Até hoje a pergunta está no ar.
Optar pelo não enfrentamento e
deixar a Petrobras ao bel prazer da narrativa da mídia tradicional, que
bate na companhia há um ano, é abrir mão não apenas da disputa política,
mas deixar que se desconstrua toda uma estratégia de Estado erguida há
anos. Ainda há tempo para reagir, mas, hoje, mais um 7 a 1 se desenha.
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