Brasil de 200 bilhões de barris!!!
Paulo Metri, no Correio da Cidadania
O setor do petróleo fornece um farto material para a constatação da
ganância humana. Com a pretensão de trazer alguma explicação para o que
acontece nestes dias com o Brasil, sem existir preocupação alguma da
mídia para explicar, defendo a tese de que ocorreu uma rápida ascensão
do nosso país no ranking daqueles atrativos para o capital
internacional.
Até 2006, era um país com abundância de recursos naturais, território
e um razoável mercado consumidor. Mas ele não possuía petróleo em
quantidade suficiente para se tornar grande exportador. Era fornecedor
de minérios e grãos não tão valiosos no mercado internacional quanto o
petróleo. Implícito está que o preço do barril irá subir brevemente para
algum valor, pelo menos, em torno de US$80.
A partir dos anos 90, o Brasil perdeu graus de soberania e passou a
ser um exemplar subalterno do capital internacional. Por exemplo, tem
uma lei complacente de remessa de lucros, permite livre trânsito de
capitais, não protege a empresa nacional genuína, tem uma política de
superávit primário e câmbio que tranquiliza os rentistas, permite a
desnacionalização do parque industrial, oferece a subsidiárias
estrangeiras benefícios fiscais e creditícios, tem uma mídia hegemônica
pertencente a este capital, que aliena a sociedade, e possui uma defesa
militar incipiente.
Assim, pode-se dizer que, após 1990, a sociedade brasileira passou a
ter uma maior sangria de suas riquezas e seus esforços para o exterior.
Este era o Brasil subalterno, que só tinha 14 bilhões de barris de
petróleo, suficientes somente para 17 anos do seu consumo.
Em 2006, descobre-se o Pré-Sal, que pode conter de 100 a 300 bilhões
de barris de petróleo, dos quais 60 bilhões já foram descobertos – e em
menos de dez anos.
Ao mesmo tempo, começou-se a recuperar a proteção à industria
nacional, com a proibição da compra de plataformas de petróleo no
exterior. Também, decidiu-se recompor as Forças Armadas, com o
desenvolvimento de submarinos e caças no país, e, também, novos
equipamentos de defesa para o Exército. Recentemente, decidiu-se
desenvolver um avião militar de transporte de carga.
O Brasil, que já vinha participando do Mercosul, amplia sua interação
soberana em outros fóruns internacionais, como a Unasul, a Celac e os
Brics, contrariando interesses geopolíticos dos Estados Unidos.
Recentemente, um banco e um fundo monetário dos Brics foram criados.
Ocorreu no período, também, a mudança da política externa do Brasil,
que buscou a aproximação com os países em desenvolvimento da África, do
Oriente Médio e de outras regiões, sem hostilizar os Estados Unidos, a
Europa e o Japão. A presidente Dilma propôs aos países da ONU uma ação
conjunta para conter a espionagem internacional, que tem participação da
CIA e da NSA, do governo dos Estados Unidos.
Com a descoberta do Pré-Sal, abandona-se o modelo das concessões, que
permitia a quase totalidade do lucro e todo o petróleo irem para o
exterior. Adota-se o modelo do contrato de partilha para esta área, que é
melhor do que a concessão. No contrato de partilha, uma parte adicional
do lucro, acima do royalty, vai para o fundo social e parte do petróleo
vai para o Estado brasileiro.
Decidiu-se também escolher a Petrobras para ser a operadora única do
Pré-Sal, o que é importante para maximizar a compra de bens e serviços
no país. No leilão de Libra, foi formado um consórcio com a participação
de duas petrolíferas chinesas, fugindo-se ao esquema de só participarem
empresas ocidentais. No final do ano de 2014, quatro campos do Pré-Sal,
que somam cerca de 14 bilhões de barris, foram entregues diretamente à
Petrobras, sem leilão, o que contrariou as petrolíferas estrangeiras que
desejavam vê-los leiloados.
A partir da descoberta do Pré-Sal, a Quarta Frota da Marinha dos
Estados Unidos é reativada em 2009, o presidente norte-americano Barack
Obama vem ao Brasil em 2011 e seu vice-presidente se transforma em
figura fácil de ser encontrada aqui. Ele se reúne diretamente com a
presidente da Petrobras, o que é muito estranho.
O governo norte-americano procura levar a qualquer custo a presidente
Dilma para uma visita oficial aos Estados Unidos, com direito a jantar
na Casa Branca, considerada uma honraria sem igual.
Por esta e outras razões, FHC gostaria muito de o Pré-Sal ter sido
descoberto no seu mandato, mas ele só se preocupava em preparar a
Petrobras para a privatização. Surpreendentemente, meu candidato a um
prêmio das Nações Unidas para grandes promotores da paz no mundo, Edward
Snowden, nos informa que até os telefones da presidente Dilma foram
interceptados pela inteligência estadunidense.
O tempo passa e chega o momento de nova eleição presidencial no
Brasil. O capital internacional de forma geral e, especificamente, o
capital do setor petrolífero, com grande influência na Casa Branca,
quiseram aproveitar esta eleição para mudar algumas regras de maior
soberania, estabelecidas nos últimos anos, inclusive as do Pré-Sal. Além
disso, o capital internacional quer eleger um mandatário do Brasil mais
subserviente.
Assim, explica-se a campanha de muito ódio e enorme manipulação
executada pela mídia deste capital no período eleitoral. Possivelmente, a
NSA e a CIA, utilizando empresas estrangeiras aqui estabelecidas, devem
tê-las incentivado a contribuir com recursos para eleger os seus
candidatos em 2014, formando uma bancada no Congresso Nacional que é um
misto de entreguistas com alienados corruptos, porém, muito fiéis aos
doadores de campanha.
Com o acontecimento independente da descoberta dos ladrões na
Petrobras, aliás, muito bem-vindo pelos estrategistas do roubo do
petróleo nacional, o terceiro turno da campanha presidencial tomou corpo
na mídia, assim como a tarefa de confundir a população para acreditar
que a Petrobras rouba dinheiro do povo e não são os ladrões ocupantes de
cargos nela que roubam.
Com uma Petrobras fraca, de preferência até privatizada, fica mais
fácil levar o petróleo do Pré-Sal. Um fato importante é que, no governo
FHC, existiram denúncias que a Polícia Federal e o Ministério Público
pareceram ser ineptos e a mídia criminosamente benevolente com o
governo.
Uma destas denúncias foi a de compra de votos para a reeleição, que,
mesmo com um réu confesso declarando ter recebido dinheiro para votar a
favor da reeleição, nada teve de apurada; já a mídia, deu divulgação
mínima e o Ministério Público não apresentou denúncia à Justiça.
Enfim, para o bem ou para o mal, tudo mudou de figura. Morreu o
Brasil de só 14 bilhões de barris de petróleo. Ele terá, brevemente, uma
reserva de 200 bilhões de barris, que corresponderá a uma das três
maiores do mundo e irá requerer muitas medidas de soberania, se é que a
sociedade brasileira deve usufruir desta riqueza. Assim, agora, na visão
do capital internacional, o Brasil não chega a estar se tornando um
país antagônico, como China, Rússia, Irã e Venezuela, mas está criando
regras e tomando medidas hostis a este capital. Está-se no estágio da
busca da cooptação dos poderes e do controle da população pela mídia do
capital.
Contudo, a população não está, na sua imensa sabedoria, acreditando
tanto na mídia. Se a população não der apoio para o plano do impeachment
da presidente, novas tramas poderão acontecer, como uma “primavera
brasileira para tirar os ladrões da Petrobras do governo”.
Eventualmente, será um golpe de Estado dado pelo Congresso com o apoio
da mídia. O povo precisa não dar apoio à quebra do regime democrático e
não apoiar também governantes que permitam a perda do Pré-Sal.
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